Excessos atrapalham em 'O Sequestro do Metrô 123'
Há alguns momentos no suspense O Sequestro do Metrô 123, que comprovam estarmos diante de um filme de Tony Scott. É quando a câmera gira.
» Assista ao trailer Num filme de Tony Scott, a câmera gira de todas as formas possíveis e imagináveis e, a cada novo trabalho, o diretor parece aumentar a lista de possibilidades para esse efeito. O problema é que há muito tempo esse tipo de artifício deixou de ser eficiente e passou a ser irritante. Irmão mais novo de Ridley Scott, Tony chamou a atenção nos anos 1980 com Fome de Viver, mas ficou famoso mesmo em meados daquela década com Top Gang - Ases Indomáveis. Desde então, sua carreira andou na corda bamba dos filmes medíocres com cara de videoclipe. É o caso de O Sequestro do Metrô. Trabalhando com um roteiro de Brian Helgeland (Sobre Meninos e Lobos), a partir de um romance de John Godey já filmado duas vezes - em 1974, por Joseph Sargent e, em 1988, numa produção para a TV por Félix Enríquez Alcalá - o diretor encontra uma desculpa para todos os seus tiques visuais de comercial de televisão. Como o título já entrega, o filme é sobre o sequestro de um trem do metrô de Nova York. John Travolta (o eterno Tony Manero) é o vilão, Denzel Washington (O Gângster), mais uma vez é o sujeito comum que salva o dia bancando o herói. A trama, por si, não tem nada de novo, mas poderia manter a tensão não fossem os exageros visuais de Scott. Walter Garber (Washington) é um controlador de tráfego do metrô que atende a ligação do sequestrador Ryder (Travolta), que tomou um vagão com passageiros e, em uma hora, começará a matar um por minuto se o seu pedido de resgate não for atendido. É uma corrida contra o tempo - e Scott parece levar isso a sério demais com sua câmera giratória e planos que duram um piscar de olhos. Em meio a esse caos visual de fotografia estourada, cores saturadas, cortes rápidos e câmera frenética existe uma questão moral soterrada. O personagem de Washington é investigado por suborno e o de Travolta tem um passado que vai se revelando pouco idôneo também. James Gandolfini (Tony Soprano) é o prefeito de uma Nova York pós-11 de Setembro, pós-Giuliani, na qual o dinheiro, mais do que nunca, manda e desmanda nos homens. Alguns aceitam as ordens por motivos nobres, outros, por pura ganância. Seria um comentário ácido - embora pouco original - não fosse o desvario ao qual O Sequestro do Metrô 123 se entrega antes mesmo de acabar a sequência de créditos iniciais. As cenas de ação, especialmente aquelas que acontecem na superfície da cidade (e não no vagão sequestrado) são absurdamente exageradas e parecem planejadas apenas para aplacar a fome de Scott pelo caos. Fosse feito alguns anos atrás, ainda no calor do 11 de Setembro, talvez O Sequestro do Metro 123 fosse mais palatável - ao menos para os nova-iorquinos. Agora, quase uma década depois do ataque terrorista, o filme se perde e fica girando em falso, como a câmera de seu diretor.