Elenco e criadores de 'It' falam de terror gráfico da série: 'Vida real é bem pior'
'It: Bem-Vindos a Derry', baseado em universo de Stephen King, tem último episódio transmitido neste domingo, 14. Ao 'Estadão', Chris Chalk, Rudy Mancuso, Andy e Barbara Muschietti detalham bastidores
Ser fiel ao terror de Stephen King nas telas não é tarefa fácil. O próprio mestre do terror já tem um histórico de reclamações de adaptações: nem O Iluminado, de Stanley Kubrick, saiu imune. Mas It: Bem-Vindos a Derry conquistou o autor de cara. "O primeiro episódio é aterrorizante", escreveu ele em outubro. O último é transmitido neste domingo, 14, com o mesmo terror gráfico que chamou a atenção de King.
"Ele viu tudo", detalham os irmãos Andy e Barbara Muschietti, criadores da série, em entrevista ao Estadão. Os dois já estiveram envolvidos nos filmes mais recentes feitos com base em It - A Coisa (Ed. Suma), calhamaço de mais de 1 mil páginas de King: It: A Coisa (2017) e It: Capítulo Dois (2019). Ambos também tiveram aprovação do autor.
It: Bem-Vindos a Derry, porém, tinha riscos maiores. Não há inspiração direta no que foi escrito por King. A série é uma prequel (expansão da história), inspirada nos prelúdios escritos por King no livro original, especialmente o incêndio no Black Spot, clube noturno da comunidade negra.
"Quando eu incluí King na série, ficou claro que haveria muita invenção, muita criação", detalha Andy. "Desde o começo, ele estava ciente dessa ideia de extrapolar o livro de uma forma que não havíamos feito nos filmes", completa Barbara.
It: Bem-Vindos a Derry se passa em 1962, exatos 27 anos antes dos acontecimentos do filme de 2017. Pennywise, não por acaso, desperta a cada 27 anos. A série aprofunda a história dos antepassados das crianças de 2017, além das origens do palhaço maligno interpretado por Bill Skarsgård, que reprisa o papel dos longas.
Referências
Dá para dizer que It: Bem-Vindos a Derry é uma série feita por fãs de Stephen King para fãs de Stephen King. As referências são várias ao longo dos episódios, e a maior delas é o personagem interpretado por Chris Chalk: Dick Hallorann. O personagem aparece em diversas obras de King e chegou a ser retratado em O Iluminado, de Kubrick.
"O meu processo é o mesmo com todos… exceto com esse personagem", diz Chris ao Estadão. "Eu li todos os livros [de Stephen King]. Tenho o meu próprio processo de desenvolvimento de personagem, em que eu consigo conhecer um personagem assim como conheço o meu melhor amigo. Porque eu amo fazer isso. É como um músico: eles estudam cada nota. É isso que eu faço com os seres humanos."
O ator encarna a seriedade e tensão de Hallorann, que possui a habilidade de acessar o mundo sobrenatural de Derry. Na vida real, porém, é bem diferente. Durante sua vinda ao Brasil para a CCXP, ele brinca sobre ter aprendido uma palavra especial em português: "saudade".
"Eu estava dizendo a ele que não tem tradução em inglês. Não há palavra que encapsule o que significa", conta Rudy Mancuso, filho de mãe brasileira, que interpreta o capitão Pauly Russo na série. O personagem também tem papel essencial na trama, mas (atenção para spoilers a seguir) tem um destino trágico no quinto episódio.
"Pauly Russo não é tão significativo como personagem, mas a impressão e a função eram significativas", comenta Rudy. "Então, eu gostaria de pensar que isso deixa uma marca muito grande."
O terror da história e da vida real
O sentimento de amizade nos bastidores da série foi o mesmo que Chris e Rudy demonstraram terem desenvolvido, dizem os atores. Durante as filmagens, porém, o clima era bem assustador. Grande parte dos recursos realmente existiam no set e pouco foi recriado digitalmente. "E Bill estava lá. Ele tem 17 metros de altura", brinca Chris sobre o intérprete de Pennywise.
Muitos espectadores avaliaram que, na série, o horror é bem mais gráfico e sombrio do que na vida real. Andy concorda. "Eu realmente queria aumentar o tom, aumentar o volume, a intensidade em geral. E também manter o imprevisível, que é algo essencial para nós durante o nosso terceiro mergulho nesse mundo", comenta ele.
Quase tão assustadora quanto o sobrenatural do universo de King é a vida real. Na série, isso é resumido por uma cena do sétimo e penúltimo episódio: o incêndio no Black Spot. O local é atacado pela Legião da Decência Branca do Maine, grupo supremacista baseado na Ku Klux Klan. Pennywise aparece se alimentando do terror no local, mas é mais "coadjuvante" do que personagem principal.
É sobre isso, afinal, a metáfora de King: sem o terror da vida real, Pennywise não teria como existir. "Eu diria que essa é uma das partes mais assustadoras da ideia. Além dos monstros, do terror e do misticismo, o verdadeiro horror é a realidade — são os humanos e o que eles são capazes de fazer", diz Rudy. "A Coisa faria muito sentido em 2025. Esse monstro seria enorme", completa Chris.
Andy e Barbara concordam. "Às vezes, a linha é tênue entre as coisas horríveis que cometemos em nome de qualquer coisa contra os outros, e o horror é dominado por isso. [...] Pennywise é uma engrenagem de medo. É um pouco uma metáfora em muitas formas", diz Andy.
O oitavo episódio não significa o fim da série. Ao todo, três temporadas são planejadas para It: Bem-Vindos a Derry. A segunda será ambientada em 1935 e a terceira, em 1908. O último capítulo da primeira temporada é transmitido no domingo, às 23h, na HBO Max.