Script = https://s1.trrsf.com/update-1765905308/fe/zaz-ui-t360/_js/transition.min.js
PUBLICIDADE

'A Árvore da Vida' traz o pessoal e o universal de Malick

11 ago 2011 - 18h04
(atualizado às 21h05)
Compartilhar
Carol Almeida

A memória afetiva do diretor ganha relevo nas vozes em suspenso. As palavras sussurradas, quase cantadas, ecoam dentro da sala de cinema como se fossem profecias. Ilações sobre a história da vida privada, que por sua vez é uma pequena parte da história da vida do mundo, do universo e, no princípio, do gigante vazio que tomava conta de tudo. A Árvore da Vida, de Terrence Malick, é um título que faz jus a mais um olhar que expõe o micro no macro, e vice-versa. É o diretor em seu momento autobiográfico, quando para falar das questões mais elementares do mundo - "Onde estava você?" -, ele busca a origem da existência e suas implicações para a espécie de vida que entende existir.

» Alugue ou Compre vídeos no Terra Video Store

O texto acima pode e deve soar etéreo, flutuante, sem significado fechado. Porque é assim que se apresenta o filme em questão. Vencedor da Palma de Ouro em Cannes este ano, A Árvore da Vida nos conta a história de uma família e do universo onde ela se encontra. As vozes que ecoam ao longo dessa ousada narrativa são de certa forma as vozes que parecem perseguir o diretor. A de senhora O'Brien é uma delas. No papel de mãe, ela fala que existem dois caminhos a seguir na vida: o da graça e o da natureza. Entre um e outro, Malick encontra espaço para uma certa moral cristã que fala de culpa e do extraterreno.

Introduz o núcleo familiar a partir de uma notícia que rapidamente nos conduz para conclusões precipitadas sobre a constituição daquelas pessoas em cena. No barulho do som que abafa os gritos, mostra mãe e pai, em separado, recebendo a notícia da morte de um de seus três filhos homens. Em seguida, nos dá de presente a sua versão íntima e pessoal daquilo que o Discovery Channel fabrica em produção de massa: abre na gigante tela de cinema - e sim, este é um filme que só funciona no cinema, sem purismos - o desfile do nascimento do universo, com longas e pacientes explosões da matéria e, mais adiante, da Terra, em seus primeiros movimentos de ebulição de vida.

Filma vulcões, simula a criação de nossa geografia, cria dinossauros, revela o choque entre o planeta e o meteoro destruidor e, finalmente, nos apresenta a espécie humana para, somente aí, retomar a história da graça da senhora O'Brien, da natureza tempestiva do Sr. O'Brien e seus três filhos. Ela é a angelical e serena personagem de Jessica Chastain e ele a virilidade e retidão de Brad Pitt. As três crianças são interpretadas por jovens atores que foram deixados à vontade no set de filmagens, sendo estimulados em brincadeiras de poucas palavras, mas muita cumplicidade que só se acha entre irmãos. Mérito, portanto, para a brilhante direção de elenco que deixou esses meninos emularem uma orgânica fraternidade.

A lembrar que por autobiográfico falamos aqui da indissociável relação entre a vida de um desses três meninos, visto em vida adulta como Sean Penn (segunda parceira com o diretor depois de Além da Linha Vermelha), e a história pessoal do próprio Malick. Assim como o personagem da criança em foco, ele cresceu em uma pequena cidade do Texas e um de seus irmãos morreu ainda jovem. Costurando então essas vozes pessoais que cobrem as imagens, o cineasta se reescreve no vago e contemplativo personagem de Penn.

Malick faz, de certa forma, uma versão menos fatalista e mais existencialista de 2001: Uma Odisseia no Espaço de Kubrick, na fábula de uma espécie que, em lugar de fechar o ciclo que a coloca em confronto com seu destino, agora revê a própria ideia de destino a partir de seus pequenos rastros de memória. E atenção: toda essa leitura é passível de várias outras interpretações. A Árvore da Vida é tudo menos um filme de mensagem única.

Nesse tópico, a revista inglesa Empire, em sua última edição de agosto, fez uma bem-humorada brincadeira sobre como seria decodificar este último trabalho do diretor. Criou seis possíveis teorias que tentavam explicar sobre o que exatamente era o filme, todos temas genéricos o suficiente para se desdobrar em outras plausíveis explicações. Mas se A Árvore da Vida é sobre alguma coisa, isso realmente não vem ao caso. Importante mesmo, para efeito de uma sinopse, é que esta é uma história que ousa falar de conflitos tão pessoais que universais. Se isso diz pouco, só resta entrar na sala escura do cinema.

Árvore da Vida, Brad Pitt, Hunter McCracken
Árvore da Vida, Brad Pitt, Hunter McCracken
Foto: Divulgação
Fonte: Terra
Compartilhar
Publicidade

Conheça nossos produtos

Seu Terra