De bomba a suicídio: o que pe. Marcelo Rossi revela em livro
Nova obra do presbítero, 'Batismo de Fogo' tem forte caráter biográfico e revela situações difíceis mescladas à superação por meio da fé
Padre Marcelo Rossi abriu sua vida pessoal e deu detalhes de fatos já conhecidos pelo público em sua nova obra, Batismo de Fogo, recém-publicada pela Editora Planeta. No livro, o líder católico revela histórias de sua juventude, que incluem o uso de anabolizantes quando estudava educação física, as dores da forte depressão que enfrentou e como a certeza na fé nunca o fez pensar em suicídio. Para católicos, cristãos ou céticos, o livro é uma boa reflexão – ou desabafo – sobre os males contemporâneos.
"Conto isso, infelizmente, com propriedade, pois meu avô, pai da minha mãe, tirou a própria vida, e ela não consegue até hoje, passadas décadas do ocorrido, contar a história sem chorar. Também digo isso com base na Palavra de Deus e na doutrina Católica, das quais compartilho e que deixam claro que nós, cristãos, defendemos a vida em todas as suas fases, desde a concepção até a morte natural. [...] Mesmo nos momentos mais difíceis que passei, nunca cheguei a pensar em suicídio. Deus sempre esteve ao meu lado, e a doença me trouxe empatia para aconselhar meus irmãos que a enfrentam", detalha Marcelo Rossi, no capítulo "Suicídio", que conta com dados da Organização Mundial da Saúde para respaldar seu discurso de fé.
A história do padre é o que conduz a narrativa, também regada a ensinamentos cristãos e um de seus pilares mais fortes: a oração. Mas o gatilho para que a obra efetivamente ganhasse corpo foi o empurrão que Marcelo Rossi sofreu em 2019. Em 14 de julho daquele ano, o líder religioso celebrava uma missa especial em Cachoeira Paulista para mais de 100 mil pessoas quando uma mulher driblou a segurança e atirou-o de cima do palco. A queda, além de repentina, foi de uma altura de mais de dois metros.
"Deus tem seus planos porque, na verdade, eu não pensava em fazer o livro. Com o empurrão sairam duas músicas: Maria passa à frente, que gravei com Gustavo Lima, e uma outra que eu gravei com o Jocélio. Mas não tinha caído a ficha da importância que seria esse livro. Sabe quando você para e precisa escrever sobre uma experiência? A minha era de 25 anos de padre. Compreendi que era o começo do novo. Estava tudo pronto e aí veio a pandemia. E aí vem a graça de Deus e experiência divina. Eu tive que fazer algumas referências para pontuar, mas 97% já estava pronto. Eu vi o amor que Deus tem por mim e o amor de Maria. Eu redescobri esse amor mais forte com isso o que estamos vivendo", disse o padre, em entrevista ao Terra.
Padre, você disse que perdoou a pessoa que te deu o empurrão e conta que ao invés de fazer um Boletim de Ocorrência faria outro B.O: bíblia e oração. Acredita que essa ferramenta é aplicável a outras situações?
Eu tenho um amigo que só trabalha com causas como essas e se as pessoas se acertassem com o perdão a pessoa perdia o emprego. São casos tão pequenos que a bíblia e a oração, o perdão resolveriam. Toda a situação.
Finalizar o livro em meio à pandemia te trouxe um significado diferente?
Várias pessoas me dão testemunho. Eu não te escutava, eu não via a missa. Vários jovens que não iam à igreja e começaram a acompanhar a missa. Deus fechou a igreja por um período, mas abriu a igreja doméstica. Deus tira do mal o bem. E o livro tem aproximado algumas pessoas, que compartilham experiências parecidas a partir do meu testemunho.
Agora, com o considerado "novo normal", como se sente celebrando missas vazias?
Você não tem noção do impacto. Eu tive que fazer alguma coisa e aí enchemos os bancos de fotografias das pessoas. Foram cinco meses que misericórdia. Deus me deu uma força… Com sabedoria estamos abrindo gradualmente até a vacina. É o novo normal. Eu nunca vi nada parecido na história da igreja, na história do mundo, nessa proporção pandêmica. Mas tem que ser. É gente. Um ser humano que perde uma vida é um ser humano.
Você teme viver a experiência da depressão, falada tão abertamente em Batismo de Fogo, mais uma vez?
A vida com sentido, a depressão não tem poder sobre você. A cada dia basta o seu cuidado. Essa é uma enfermidade que você não pode brincar. No livro, eu ensino como o inimigo vai sabotando a nossa mente. Se você sabe que uma pessoa é diabética, tem que tomar alguns cuidados. A gente precisa fazer uma reeducação, né? A gente não pode abusar. Eu já sei que pensamentos negativos vão me levar à depressão. Então eu evito que eles ganhem espaço, assim como um diabético precisa evitar a ingestão de açúcar. Já sei também que eu não sou o salvador, o salvador é Jesus.
Como tem um público seguidor muito jovem, você usa muito as redes sociais. Teme pelo chamado "cancelamento" ao expor alguma opinião considerada, talvez, impopular?
Eu vou falar que a rede social é uma bênção desde que você saiba usá-la. Uma faca na mão de um médico salva. Uma faca na mão de criança é um perigo. Na mão de um assassino... Misericórdia! Nós estamos em um mundo que quantifica o que você possui. A rede social acaba sendo uma ostentação. Isso gera inveja e ao mesmo tempo a pessoa se perde. Não estou dizendo que tudo é isso. Ao mesmo tempo eu procuro usar da rede para levar a pessoa do amor de Deus. Eu tenho que saber que a minha liberdade vai até onde começa a do outro. O mundo está muito polarizado. Um perigo muito grande está no fanatismo e na ideologia. Minha opinião está sempre embasada no amor que eu tenho e no amor que eu tenho na igreja. Eu tenho que respeitar os outros e não posso usar a rede para atacar os outros.
Padre, o que você pensa a respeito da espetacularização de suas missas pela TV e sobre os livros que publica? Acha que pode confundir os fiéis entre ser o instrumento de Cristo e ser o próprio Cristo?
Vou colocar aqui um grande perigo. No reconhecimento do Vaticano [ com o título de Evangelizador do novo milênio pelo Papa Bento XVI, em 2010], eu achei que a minha missão tinha terminado. Aquilo não me fez bem. Por incrível que pareça, foi uma coisa positiva. Mas a força do mal foi sabotando. Eu fiquei colocando na minha cabeça que eu fazia as coisas. Mas eu era só um instrumento.