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Dívida ancestral com escravidão assombra Brasil de 'O Juízo'

“Sempre achei que havia um carma brasileiro que renderia uma história de suspense e que lidasse com a escravidão', diz Fernanda Torres

5 dez 2019 - 11h04
(atualizado às 12h15)
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A ambição sucessiva de uma família pela conquista de diamantes a ponto de tirar a vida de um escravo e de sua filha e se perpetuar por gerações como um carma é o pano de fundo para o suspense nacional “O Juízo”, que estreia nesta quinta-feira (5). Segundo Fernanda Torres, roteirista do filme, a história do Brasil e os casarões coloniais foram o ponto de partida e a inspiração para o enredo. 

“Eu sempre achei que havia um carma brasileiro em Minas Gerais que renderia uma história de terror e suspense numa fazenda. Uma história que lidasse com a questão da escravidão, do extrativismo, da dívida eterna que a gente não consegue sanar e curar, e que a gente ainda é herdeiro”, explicou a atriz, em entrevista coletiva.

Suspense 'O Juízo' aborda carma do Brasil com escravidão:

No longa, Augusto (Felipe Camargo) é alvo de um acerto de contas que persegue sua família há 200 anos: a vingança do ex-escravo alforriado Couraça (Criolo), que tenta, insistentemente, fazer com que paguem pela morte de sua filha Ana (Kênia Bárbara). Após ajudar fazendeiros a enriquecerem, ele comprou sua liberdade, mas foi morto em uma emboscada, assim como sua filha, e teve os diamantes que tanto sabia encontrar subtraídos, numa espécie de traição do dono da fazenda.

Couraça, então, persegue essa família para vingar a sua morte, mas, principalmente, a de sua filha. O protagonista da história e herdeiro da fazenda amaldiçoada só descobre dessa praga secular quando, ao se mudar para o campo com a mulher Tereza (Carol Castro) e o filho Marinho (Joaquim Waddington), se vê repetindo o mesmo ciclo ambicioso do seu pai: a busca doentia pelos diamantes, ainda que seu propósito inicial tenha sido a reestruturação familiar, desgastada por dívidas e alcoolismo. 

“Uma hora o personagem do Criolo questiona Augusto: você já se perguntou na sua vida o porquê de nada dar certo? E ele diz: ‘sempre’. E o ex-escravo fala: ‘é por causa dessa herança aqui, os diamantes’”, acrescenta Fernanda.

O diretor do filme, Andrucha Waddington, defende a escolha do gênero de suspense, que afirma ser tão popular como o humor, para o lançamento de “O Juízo”. “Uma coisa curiosa é que o suspense é um gênero que comercialmente funciona muito com filme americano. O cinema brasileiro está cada vez mais plural e eu espero que continue a se pluralizar e a manter a sua diversidade. É um gênero que o cinema espanhol se apropriou e deu muito certo, por exemplo. Eu acho que tem tudo para ele virar um sucesso comercial como gênero no Brasil, mas a gente está no início. 2019 foi um bom ano nesse sentido”. 

“O Juízo” é bom?

O suspense nacional tem elementos de impacto para cativar a ida do público aos cinemas: ambienta-se na historicidade do brasileiro, traz o drama do alcoolismo para a realidade, fala de uma maternidade de entrega e convence o espectador do sofrimento de um ex-escravo, da dor de uma mãe, da compulsão de um alcóolatra. 

Carol Castro dá vida àquelas mães dedicadas e dispostas a tudo pela família. É delicada, gentil e compartilha sua dor como uma pessoa tão real, que não parece se comunicar como uma atriz, mas como um indivíduo comum. A construção de Augusto também é interessante. A ambição dele soa até como palpável. Criolo mostra sua potência artística para além dos palcos e manda bem. Sua sutileza nos olhares para a câmera, por exemplo, é ponto alto de sua atuação.

Por outro lado, o roteiro de Fernanda Torres explora pouco a força de Fernanda Montenegro (Marta). A matriarca faz uma participação sem peso e, apesar de sua incontestável competência, acrescenta pouco à história, assim como Lima Duarte. Parece preencherem a cota de "estrelas" experientes, como uma espécie de atrativo para a ida às telas e não como um ponto de destaque, de valor real.

Um dos elementos que mais ajudam a dar vida ao drama é a fotografia impecável de “O Juízo”, trabalho assinado pelo diretor de fotografia Azul Serra. O filme parece nublado, escuro e sombrio em todo o tempo, e contribui, ainda mais que o próprio roteiro para dar vida ao principal propósito do longa: fazer suspense.

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Fonte: Redação Terra
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