Retrospectiva 2025: os melhores momentos do programa Saúde em Dia deste ano
Confira algumas das reportagens do programa Saúde em Dia que foram ao ar em 2025.
Taíssa Stivanin, da RFI em Paris
Quais são os efeitos do uso indiscriminado das redes sociais em crianças e adolescentes. Diabolizar plataformas é a solução para protegê-los da violência online?
Vários países, entre eles a França, vêm adotando medidas para controlar o acesso às redes e proteger crianças e adolescentes. A pedopsiquiatra francesa Catherine Jousselme, uma das maiores referências na área, é autora de diversos livros e estudos sobre a questão e dirigiu vários centros infantojuvenis no país ao longo de sua carreira.
Para ela, não existe só uma solução, mas várias, que envolvem a escola, os pais, governos e os profissionais da saúde."Essas ferramentas causam dependência. Sabemos que nosso cérebro tem um circuito de tratamento da imagem que é bem mais rápido do que o circuito que gerencia a linguagem e a reflexão", avalia.
O consumo ininterrupto do conteúdo gerado pelas redes torna os jovens presas mais fáceis. Esse risco cresce na adolescência, um período marcado por transformações e incertezas.
Casos de câncer explodem no mundo
No início do ano, dados apresentados pelo Instituto francês Gustave Roussy mostraram que os casos de câncer entre jovens de 20 a 40 anos vêm crescendo nos últimos 30 anos.
O hospital, situado em Villejuif, nos arredores de Paris, é um dos maiores centros de combate ao câncer do mundo. Estudos revelam que, entre 1990 e 2019, houve um aumento de 79,1% de certos tipos de câncer em pessoas com menos de 50 anos, em todo o mundo.
Os médicos preveem uma alta de 12% de novos diagnósticos e mortes causadas pela doença nessa faixa etária entre 2022 e 2050.Quais seriam os fatores de risco? Poluição, consumo de alimentos ultraprocessados, sedentarismo?
"Não entendemos exatamente o porquê desse aumento, mas há pistas. Alguns estudos mostram que pode haver uma relação entre o consumo de ultraprocessados e o câncer. Mas isso não significa que haja necessariamente uma causalidade, ou seja, uma relação de causa e efeito", diz o oncologista Fabrice André, diretor de pesquisa do Instituto Gustave Roussy.
Francês cria medicamento contra Mal de Parkinson
O farmacêutico francês Guillaume Brachet descobriu que tinha o mal de Parkinson aos 30 anos. Ele criou um medicamento, já patenteado, que poderá frear a evolução da doença.
O jovem cientista contou sua história ao programa e no livro Parkinson aos 30 anos, lançado em março na França. "Vamos ter que demonstrar o impacto significativo do tratamento nos parâmetros da doença e traduzi-lo em algo mensurável e padronizado, como um biomarcador, para provar o efeito dessa combinação", explicou.
Os testes com humanos estão previstos para 2026, e o tratamento poderá estar disponível em 2030.
Remédios em formato de doce
O farmacêutico francês Maxime Annereau trabalha no Instituto Gustave Roussy, de combate ao câncer. Ele adapta as doses, o sabor e a forma dos medicamentos usados por crianças e adolescentes com a doença e usa impressoras 3D para fabricar os remédios na farmácia do centro.
Após vários testes, os pediatras do hospital pediram ao farmacêutico que melhorasse o sabor do Bactrim, um medicamento que associa dois antibióticos e é utilizado em larga escala pelas crianças que têm câncer e passam por quimioterapia.
"Eles nos falaram que o resultado foi bom, mas poderia ser ainda melhor. O 'melhor' demorou oito meses para ficar pronto. Como somos franceses, imaginamos um jeito para disfarçar o gosto do remédio e decidimos fazer um macaron", explicou.
O macaron é um doce com formato redondo, massa feita à base de amêndoas, açúcar e clara de ovos.
Estudante francês de Medicina denuncia racismo
Uma das entrevistas foi com o estudante francês de Medicina Miguel Shema, que está no 5º ano da Faculdade de Iasi, na Romênia.
Durante seus estágios de observação, Miguel passou a questionar a maneira como os pacientes negros e de outras etnias são atendidos nos hospitais e contou sua experiência no livro La Santé est Politique (A Saúde é Política), para denunciar a discriminação de alguns profissionais da saúde.
"É importante que as ciências sociais, a história e a sociologia estejam mais presentes nos cursos de medicina. Negro, em termos médicos, não quer dizer nada. Negro tem um significado sociológico. É importante, neste sentido, constatar como essas pessoas são tratadas e qual é a percepção que se tem delas. A discussão para por aí. Ser negro significa ser alvo da negrofobia. E pronto."
Riscos dos smart pods
A pneumologista Fernanda Aguiar coordena o setor de Medicina Respiratória do Hospital Mater Dei, em Salvador. Ela falou sobre os riscos da utilização dos smart pods, ou smart vapes, um modelo mais tecnológico de cigarro eletrônico que toca música, manda mensagens ou propõe jogos.
Em alguns casos, o dispositivo tem a forma de um animal de estimação virtual, no estilo tamagotchi, que morre se o usuário decide parar de fumar.
"Que gênio do mal cria coisas assim para que as pessoas fiquem mais e mais dependentes. São estratégias do mal com um fim meramente comercial, às custas da dependência de uma droga: a nicotina."