Debate aborda caso Wikileaks e privacidade digital na Campus Party
- Ana Brambilla
- Direto de São Paulo
Em tempos de escândalos informacionais desencadeados pelo Wikileaks, o tema da privacidade digital atravessa uma série de discussões na Campus Party Brasil 2011. O painel "Hackeando Dados", ocorrido na tarde desta quarta-feira, na área de Mídias Sociais do evento, foi aberto pelo diretor de Inteligência de Mercado do Terra, Marcelo Coutinho, perguntando se é saudável para a sociedade que todos tenham acesso a qualquer tipo de dados de órgãos públicos.
Martha Gabriel, autora de livros sobre marketing digital, alerta para os perigos que a divulgação irrestrita de dados pode trazer. Como exemplo, Martha citou o problema da apropriação indevida de dados para usuários que não lêem Termos de Uso ao fazer cadastro em uma rede social. "Tem tanto aplicativo bom no Google que a gente vira índio: acaba trocando a privacidade por espelhinho", compara.
Artifícios para manter sigilo sobre algumas informações de perfil em redes sociais, como as opções lançadas pelo Facebook, podem ser inóquos se o usuário padrão não souber configurar. Essa liberação inconsciente de informações pessoais deixa "rastros digitais", e o usuário não sabe quem irá utilizá-las.
A polêmica também diz respeito aos arquivos de órgãos do governo. Pedro Valente, jornalista e desenvolvedor do Yahoo, sentencia: "Por menos que os governos queiram, as pessoas vão usar os dados". No âmbito privado, Martha Gabriel compara com o universo da iniciativa privada: "Isso tem a ver com a ética das empresas".
Daniela Silva, diretora da Esfera, recua na discussão sobre uso de dados sigilosos e destaca a problemática do controle da internet por governos, discutida por Al Gore e Tim Berners-Lee no palco principal da Campus Party, nessa terça-feira. "Se a rede não fosse aberta, seria impossível toda a revolução de criatividade que ele proporciona", analisa Daniela. Ferramentas como Twitter seriam fruto desta liberdade. "Ninguém precisou mandar uma carta para o governo norte-americano para criar o Twitter".
Com conexão livre e acesso liberado a dados de órgãos públicos ou mesmo de empresas privadas, como tornar estas informações úteis? Daniel Filho, desenvolvedor e programador, cita a importância da interface neste processo. Segundo o painelista, não basta fornecer acesso a bancos de dados, antes, é preciso tornar este acesso fácil ao público. Daniel destaca o trabalho de infografia que veículos de imprensa internacional têm feito nesta linha. "The Guardian e The New York Times vêm criando aplicações em cima de informações cedidas por empresas de modo a exibi-las de maneiras geniais", cita.
Campus Party Brasil 2011
Nascida na Europa, em 1997, a Campus Party é um dos maiores eventos de tecnologia, entretenimento e cultura digital do mundo que, em 2011, chega a sua quarta edição brasileira. Além do Brasil, são tradicionais os encontros realizados na Espanha, na Colômbia e no México. A Campus Party Brasil acontece de 17 a 23 de janeiro, no Centro de Exposições Imigrantes, em São Paulo (SP).
Para este ano, são esperados mais de 6,8 mil participantes - ou campuseiros - sendo que dentre esses, mais de 4,5 mil ficam acampados no local. Além de atividades como oficinas e exposições a Campus Party Brasil 2011 terão inúmeras palestras. Entre os confirmados, estão o ex-vice-presidente dos EUA, Al Gore, Tim Berners-Lee, pai da "WWW", e Jon Maddog Hall, presidente da Linux International, e muitos outros.