Crise de banco do Vale do Silício pode afundar empresas de tecnologia?
Para especialistas, mesmo com o apoio do governo dos EUA, futuro das startups ainda é incerto
Conhecido como o banco das startups, o Silicon Valley Bank (SVB), dos Estados Unidos, teve seu fechamento anunciado na última sexta-feira (10) pelo governo norte-americano. O banco registrou prejuízos bilionários e a notícia movimentou o setor financeiro.
O Silicon Valley Bank é o 16º maior banco dos Estados Unidos e é reconhecido por fazer investimento em startups — empresas iniciantes em tecnologia. Ele estava em atividade há quase 40 anos.
“Ele fazia os financiamentos em cerca de 44% das startups. Diante da alta de juros americanos, as empresas começaram a ter dificuldades de recorrer a empréstimos e começaram a precisar sacar os valores retidos no banco”, explicou a educadora financeira e assessora de investimentos Luciana de Donato a Byte.
O governo dos EUA garantiu as operações de transferência de recursos aos investidores. A partir de agora, as transações do banco foram assumidas pelo Federal Deposit Insurance Corp (FDIC), instituição que visa garantir os depósitos bancários dos EUA. Pela legislação do país, as autoridades devem garantir o volume de até U$ 250 mil de todo cliente por instituição financeira.
Riscos para as empresas de tecnologia
Apesar do apoio oferecido pelo governo, ainda há dúvidas sobre o ambiente de financiamento para as startups. Ao longo dos anos elas passaram a contar com o apoio do SVB para seus negócios, já que bancos maiores evitavam financiar o segmento.
Em entrevista à agência de notícias Reuters, Jon Sakoda, fundador da empresa de empreendimentos em estágio inicial Decibel Partners, afirmou que “este é um grande passo para restaurar a confiança na comunidade de startups. Antes disso, muitas delas estavam planejando medidas de emergência que provavelmente levariam a mais demissões. As ações forneceram a certeza necessária de que todos podem cumprir a folha de pagamento na segunda-feira”.
O diretor da OpenAI, empresa conhecida pelo software de inteligência artificial ChatGPT, Sam Altman, esteve entre os que responderam aos pedidos de ajuda. Ele ofereceu financiamento de emergência para startups que enfrentavam incerteza para pagar seus funcionários, disse a Reuters no domingo.
O investidor de tecnologia Asheesh Birla se mostrou satisfeito com a decisão do governo norte-americano de apoiar os correntistas do banco. “As empresas não precisam se preocupar se seu dinheiro está seguro ou não”, disse ele à Reuters.
Birla acredita que nos próximos dias as startups correrão em massa para abrir contas em grandes bancos.
Para as empresas que possuem posições de caixa consideráveis, ele prevê que haverá uma onda de interesse na contratação de profissionais de finanças para minimizar a quantidade de caixa que estão mantendo.
Startups brasileiras
A Bloomberg Línea apurou que há fundadores brasileiros de startups com mais de US$ 10 milhões no banco. Clientes do SVB correram para sacar seus recursos nos últimos dias, mas alguns pediram resgate antes da falência e não receberam.
Para tranquilizar os seus acionistas, o Nubank emitiu um comunicado ao mercado afirmando que nem a Nu Holdings, sua controladora, nem nenhuma das suas subsidiárias têm qualquer exposição ao SVB.
“Com objetivo de esclarecer informações equivocadas circulando em redes sociais e grupos de WhatsApp, o Nubank informa que não tem qualquer exposição ao Silicon Valley Bank”, informou a empresa.
As fintechs (startups de finanças) Inter e C6 também afirmaram que não têm nenhuma relação comercial com o SVB. Segundo a Reuters, PagSeguro e Mercado Livre também afirmaram o mesmo.
Impactos no Brasil
Para a assessora de investimentos Luciana De donato, o anúncio de falência do banco naturalmente mexe com o mercado financeiro. Entretanto, o Brasil não deve ser impactado diretamente.
“Quando tem uma notícia dessa, de um fato notório de um banco falido, é claro que dá uma mexida em mercado, em bolsa, mas o impacto financeiro não deve gerar uma turbulência tão grande”, disse.
“Vai ser diretamente neste banco por ter uma característica de investimento em startup. Isso talvez se espalhe pelo sistema financeiro de forma global, mas nada que atinja de maneira total os investimentos aqui no Brasil”, complementou de Donato.