Pomada de lagarto para dor usada na Bolívia pode causar extinção do animal
Como já sabemos, a medicina tradicional usa muito os recursos disponíveis na natureza, como plantas e animais. Mas com o passar do tempo, eles estão ficando cada vez mais escassos e já há quem defenda que não é mais viável usá-los. Esse é o caso do jararanko, um pequeno lagarto boliviano usado como remédio por povos tradicionais de seu país.
A carne desse lagarto é amassada em um pilão junto com ervas, como a arnica. Segundo a tradição, essa pasta tem propriedades curativas e é aplicada em cima de feridas ou doenças de pele.
O governo boliviano permite o seu uso por povos tradicionais desde que o lagarto seja capturado na região em que essas pessoas vivem e o método de produção da pomada faça parte da tradição pré-colonial.
O problema é que o jararanko está na lista boliviana de animais ameaçados de extinção. Como muitos outros animais, esse lagarto é muito sensível às mudanças ambientais e o desenvolvimento da atividade mineradora tem impactado o seu habitat, reduzindo a oferta de alimento.
O uso da pomada de jaranko
Essa é uma notícia ruim para os povos que usam a pasta de jararanko. Essas pessoas não recorrem ao remédio só porque acreditam que ele seja superior à medicina tradicional. Elas também o fazem porque ele é a única saída para tratar suas feridas. Encontrar uma farmácia em algumas regiões do interior da Bolívia é uma missão impossível.
Ao mesmo tempo, os médicos não recomendam o uso da pomada. Ela é feita com a carne crua do animal e isso pode contribuir para infecções, piorando o caso do paciente.
Além disso, estudos já foram feitos sobre o tema e não foram encontradas evidências de que exista nesse animal alguma substância que poderia tratar feridas ou mesmo aliviar dores.
Pomada de jararanko pode ser encontrada no mercado negro
Ainda que não exista comprovação científica que respalde o uso do lagarto na criação de remédios, moradores do interior da Bolívia têm relatado o crescente interesse de estrangeiros pelo animal.
Em entrevista à National Geographic, pessoas disseram que lagartos são capturados aos montes, até encherem tambores, e enviados para fora do país. Em feiras populares dentro da Bolívia é possível ver a venda de jararankos ocorrer livremente, ainda que não seja permitida.
Isso mostra que a popularidade do animal vai muito além das aldeias isoladas. O povo boliviano acredita que esse animal pode mesmo salvar uma vida — e essa fé gera críticas ao parlamento boliviano, que proibiu que os animais fossem usados por cidadãos que morem em centros urbanos, longe de comunidades tradicionais indígenas.
Mesmo pessoas com acesso a hospitais podem ter o hábito de procurar curandeiros que prescrevem a pomada de jararanko. É algo cultural, para além da objetividade da medicina.
Polícia tem tentado inibir o uso
Apreensões de pomadas de jararanko são feitas constantemente, desde que a nova lei boliviana entrou em vigor. Quando são capturados vivos, os animais são levados a refúgios da vida selvagem, onde são reabilitados e podem voltar à natureza para que, com um pouco de sorte, não virem pomada.