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Simpatia dos bebês surgiu de necessidade social do homem

Simpatia de bebês é reflexo de nosso comportamento

7 mar 2009 - 12h21
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Um bebê pode parecer indefeso. É incapaz de andar, falar, pensar em termos simbólicos ou reformar o sistema bancário do país. Mas, em termos de prover emulsão social, nada é mais eficiente do que um bebê que balbucia com um sorriso. Bebês nascem sabendo como impressionar a platéia. Um sorriso desdentado aqui, um grunhido afinado acolá, levam até mesmo os mais cínicos dos críticos a amolecer.

Na opinião da Dra. Sarah Blaffer Hrdy, especialista em primatas, a extraordinária capacidade social dos bebês tem papel central naquilo que nos torna humanos
Na opinião da Dra. Sarah Blaffer Hrdy, especialista em primatas, a extraordinária capacidade social dos bebês tem papel central naquilo que nos torna humanos
Foto: The New York Times

Na opinião da Dra. Sarah Blaffer Hrdy, especialista em primatas, a extraordinária capacidade social dos bebês tem papel central naquilo que nos torna humanos.

Por meio de sua capacidade de solicitar e garantir o atento cuidado não apenas de suas mães mas de muitas outras pessoas ao alcance de seus sentidos, um bebê promove muitos dos comportamentos que consideramos como elogiáveis em nós mesmos e que muitas vezes nos distinguem dos demais animais, entre os quais a disposição de compartilhar, a de cooperar com desconhecidos, a de baixar a guarda e a de ampliar o nosso sufocante círculo de pronomes para além de eu-mim-meu.

Como argumenta Hrdy em seu mais recente livro, os bebês humanos dependem tão fortemente dos mais velhos, e por período tão longo, que a humanidade jamais teria sobrevivido sem se afastar do modelo de criação de filhotes dos símios de grande porte. As mães chimpanzés e gorilas são capazes de criar seus filhotes praticamente sozinhas, mas as mães humanas estão longe disso.

Os seres humanos evoluíram com a reprodução cooperativa, diz Hrdy, uma estratégia reprodutiva na qual as mães são auxiliadas por mães improvisadas, ou "alomães" - indivíduos de qualquer sexo que ajudam a cuidar dos e alimentar os pequeninos.

A maioria dos biólogos aceitaria que os seres humanos evoluíram com essa necessidade de cooperação para criar filhos, mas Hrdy leva a idéia um passo adiante e argumenta que nosso status como procriadores cooperativos, e não o nosso cérebro excepcionalmente complexo, explica muitos dos traços do comportamento humano.

Nosso relativo pacifismo, por exemplo, ou a expectativa de realizar uma viagem aérea longa sem medo de desmembramento. Os chimpanzés são bastante inteligentes, mas embarcar em um avião cheio deles "exigiria sorte para desembarcar com os 10 dedos das mãos e dos pés intactos", afirma Hrdy.

Nossa capacidade de cooperar em grupos, de sentir o que os outros sentem e de imaginar o que eles estão pensando ou sentindo - todos esses traços, argumenta Hrdy, provavelmente se desenvolveram em resposta a pressões seletivas relacionadas a sermos parte de um grupo que utiliza a reprodução cooperativa, e por sentirmos a necessidade de confiar e depender dos outros, e de sermos considerados confiáveis.

Os bebês se tornaram adoráveis e interessados em estabelecer conexões com todos os adultos que os cercam; as mães passam a entregar seus bebês aos cuidados de terceiros com menos hesitação.

Hrdy aponta que as mães gorilas e chimpanzés não permitem que ninguém se aproxime de seus filhotes nos seis primeiros meses de vida. Outras fêmeas podem expressar interesse real nos recém-nascidos, mas a mãe não os entrega e elas, porque podem se tornar infanticidas ou se provar incapazes de defender o bebê contra um macho infanticida.

Em contraste, as mães humanas em virtualmente todas as culturas permitem que outras pessoas segurem seus bebês já desde o nascimento, por mais ou menos tempo a depender das tradições.

Hrdy escreveu seu mais recente trabalho em parte para rebater o que considera como dogma predominante entre os estudiosos da evolução - o de que os seres humanos desenvolveram sua extrema sociabilidade e seu comportamento cooperativo para concorrer melhor com outros humanos.

"Não me sinto confortável com a idéia de que as origens da alta sociabilidade derivem da guerra ou que a amizade interna em um grupo nasceu da inimizade com grupos externos", ela declarou em entrevista por telefone.

É fato que os seres humanos vêm sendo notavelmente violentos e militaristas nos últimos 12 mil anos ou pouco mais, diz ela, depois que os nômades começaram a se assentar e defender territórios, e a densidade populacional aumentou.

Mas antes disso? Não havia gente suficiente para travar guerras. Pelas mais recentes estimativas, a dimensão média de uma população nas centenas de milhares de anos de evolução humana que precederam a era neolítica pode ter sido de dois mil adultos capazes de reprodução. "O que os humanos disputariam em batalha?", questiona Hrdy. "Estavam ocupados demais tentando se manter vivos e garantir a sobrevivência de seus filhos".

Hrdy argumenta que nossos ancestrais humanos se tornaram emocionalmente modernos muito antes que o cérebro do homem atingisse seu atual volume médio de 1,3 centímetros cúbicos, o que equivale a cerca de três vezes o cérebro do chimpanzé - em outras palavras, nós nos tornamos os mais gentis dos macacos antes que nos tornássemos os mais inteligentes.

Não é preciso um cérebro imenso para desenvolver comportamento cooperativo. Muitas espécies de pássaros praticam a cooperação reprodutiva, e o mesmo vale para leões, ratos, lobos, suricatos e saguis, entre outros.

Mas para se tornar um macaco capaz de reprodução cooperativa e persuadir um grupo de primatas inteligentes, esquentados, suspeitosos e politicamente astutos a começar a compartilhar da responsabilidade pelo cuidado com as crianças e pela obtenção de provisões para elas, foi necessário um novo desdobramento evolutivo: o advento da qualidade que conhecemos como "confiança".

Tradução: Paulo Migliacci

The New York Times
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