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Pesquisa

Função real do sono ainda é um mistério para cientistas

Função real do sono ainda é um mistério para cientistas

4 set 2009 - 13h09
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Para a natureza, sono pode ser ferramenta de administração

Se existe uma sociedade de especialistas em sono, um culto de devotos do travesseiro completamente feliz com o número de horas dormidas a cada noite, ela certamente funciona em segredo. A maioria das pessoas parece insegura quanto ao seu sono, e não teme admiti-lo: prefeririam dormir um pouquinho mais; ou acreditam que seria bom precisar de alguns minutos de sono a menos; ou não sabem se atingem um sono tão profundo quanto deveriam.

E todos estão certos de que levantar às duas da manhã e caminhar pela casa como um animal enjaulado não pode fazer bem. Pode? A verdade é que ninguém sabe. Os cientistas não estão certos quanto aos motivos para que o sono exista, o que torna difícil explicar a grande diversidade de hábitos e manias ao dormir que existem nos pássaros, peixes e mamíferos de todas as espécies, incluindo o ser humano.

Por que os leões dormem 15 horas por noite e as girafas apenas cinco, quando são as girafas que precisam correr para salvar a vida, na época de caçada? Como dormem os pássaros migratórios, que fazem voos de dias de duração? Por que algumas pessoas madrugam quando jovens e passam a dormir cada vez mais tarde ao envelhecer?

A resposta pode estar na administração de tempo, de acordo com estudo publicado na edição de agosto da Nature Reviews Neuroscience. Na pesquisa, Jerome Siegel, professor de psiquiatria na Universidade da Califórnia em Los Angeles, argumenta que o sono evoluiu de maneira a otimizar o uso do tempo pelos animais, mantendo-os seguros e escondidos quando a caça, pesca ou alimentos são escassos e arriscados. De acordo com essa visão, as diferenças de qualidade de sono, incluindo os surtos de insônia, não precisam ser consideradas como problemas, mas sim como adaptações às demandas ambientais.

"Passamos um terço de nossas vidas dormindo, e isso parece tão pouco eficiente. Muitos cientistas definem o sono como o maior erro cometido pela natureza", disse Siegel, que também é diretor de neurobiologia no sistema de saúde do Departamento de Veteranos de Guerra para a região de Los Angeles. "Mas outra maneira de encarar a questão é a seguinte: ficar acordado desnecessariamente é um erro ainda maior".

Como campo de estudo, a pesquisa do sono não está adormecida - os especialistas discordam vigorosamente quanto a quase todas as teorias propostas, e essa não é exceção. Entre outras objeções, os críticos apontam que os animais adormecidos ficam menos alertas aos predadores do que os animais acordados, e que o sono parece servir a outras funções essenciais. Alguns estudos sugerem que o cérebro consolida as memórias registradas durante o dia, no período de sono; outros propõem que o sono serve para o reparo de danos neurológicos.

"Minha teoria pessoal, mais conservadora, é a de que os neurônios requerem sono como parte de seu processo de modificação em longo prazo", que possibilita o aprendizado, escreveu o Dr. Clifford Saper, neurocientista da Universidade Harvard, em mensagem de e-mail. Mas ele acrescentou que sua teoria e a de Siegel podem não ser mutuamente excludentes.

Para começar, o sono não é estado tão vulnerável quanto se supõe. Uma pessoa dormindo é altamente sensível a determinados sons, como os gemidos de um bebê, um estrondo ou voz incomuns. E, como diz Siegel, dormir nos torna menos vulneráveis do que estaríamos se estivéssemos na rua tarde da noite.

O novo estudo também argumenta que indícios obtidos com o estudo de outros animais sugerem que a necessidade de dormir cai acentuadamente nas horas despertas mais importantes. As baleias migratórias estão alertas quando nadam por semanas sem fim, mas igualmente alertas quando repousam, de acordo com estudos. Pesquisas recentes sugerem que o mesmo vale para as andorinhas quando dormem bem menos que o normal em suas migrações.

O exemplo do grande morcego marrom, provavelmente o animal que mais dorme, é interessante. Ele dorme até 20 horas ao dia, e dedica o período restante a caçar insetos. "Ficar acordado mais tempo parece improdutivo para esse animal, porque ele despenderia mais energia e ficaria exposto a pássaros predatórios que voam e enxergam melhor", aponta Siegel.

Nos seres humanos, é sabido que o sono muda com a idade, das longas horas da infância às cinco ou seis horas, muito interrompidas, que constituem a noite de sono de muitos idosos. Os médicos ainda debatem se os idosos dormem menos porque precisam de menos sono ou se o sono insuficiente é um problema. Na interpretação de Siegel, perde-se aqui e ganha-se ali: porque os idosos já não crescem, ao contrário das crianças, precisam de menos sono e podem precisar de mais tempo para suas atividades.

Em resumo, se dormir é favorável, a maioria dos animais tende a dormir, com o sol brilhando ou não. A depender do animal, um longo período desperto pode ou não ser seguido por um longo sono de recuperação.A teoria também sustenta o que muita gente acredita sobre quem dorme cedo ou acorda tarde: as pessoas tendem a estar mais alertas no horário em que são mais produtivas. E sentem cansaço caso sono e compromissos de trabalho não se encaixem bem.

Nada disso significa que dormir bem é desnecessário ou que distúrbios de sono não existem. Mas a teoria sugere que uma certa dose de insônia pode não ser indicadora de problemas. Se o sono evoluiu como ferramenta de administração do tempo, estar desperto às duas da manhã provavelmente significa que existe trabalho valioso a realizar. É hora de parar de assistir reprises de South Park e colocar as mãos à obra.

The New York Times
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