Cientistas: 'elo perdido' dos primatas pode ser só um lêmure
Cientistas: 'elo perdido' dos primatas pode ser só um lêmure
No mês de maio, a descoberta do fóssil de uma criatura de 47 milhões de anos, batizada de 'Ida', foi apresentada com furor como sendo o elo perdido na evolução dos primatas superiores. O fóssil, muito bem preservado, foi apresentado como sendo o 'link' entre os humanos e o resto do reino animal. Ida, naquele então, foi considerada a 'oitava maravilha do mundo' pelos pesquisadores que realizaram a descoberta. Mas, em recente artigo na revista Nature, uma equipe de paleontólogos de Nova York afirma que Ida não está relacionado com os seres humanos. Em vez disso, eles concluem, o fóssil mais parece um pequeno lêmure. As informações são do The Guardian.
"Nossa análise e os resultados têm nos convenceu de que Ida não era um antepassado dos macacos, ou de seres humanos, e tem mais relevância para a nossa compreensão das origens dos lêmures e dos lorisídeos", disse ao jornal britânico Erik Seiffert, um 'caçador de fósseis' da Universidade de Stony Brook, em Nova York, que liderou o estudo da Nature. Os pesquisadores que realizaram a descoberta do fóssil Ida, conhecida formalmente como masillae Darwinius, imediatamente defenderam sua própria interpretação, que é baseada em dois anos de medições meticulosas dos restos mortais.
"Esperávamos um desafio como este e é interessante que tenha levado cinco meses para o primeiro ataque vir", disse Jorn Hurum, paleontólogo do Museu de História Natural da Universidade Oslo, na Noruega. "O que nós descobrimos sobre Ida é realmente muito polêmico."
"Seiffert e sua equipe não tem muitos detalhes anatômicos para estudar, nenhum deles estudou o modelo original. Há uma grande quantidade de informações no fóssil. Nós realmente temos confiança e vamos manter a nossa interpretação", disse Hurum.
Hurum comprou Ida por US$ 1 milhão do seu 'dono anterior' depois de ver uma série de fotografias do fóssil. Mas, o lugar exato dele na história evolutiva não era clara. O que Hurum sabia era que Ida era proveniente de uma época em que a linhagem de primatas dividiu-se entre macacos e humanos e um outro grupo de animais que se tornaram lêmures e lorisídeos. Hurum fez uma aposta. "Teria sido um lêmure muito caro", disse ele na época.
Quando o fóssil Ida, que foi encontrado nos arredores de Hamburgo, foi revelado ao público atingiu o maior índice de publicidade da ciência moderna, tornando-se uma sensação na mídia de imediato. A polêmica surgiu após a equipe de Seiffert descobrir os restos fossilizados de um semelhante, mas muito mais jovem, primata no norte do Egito. A análise do fóssil, que tinha 37 milhões de anos, mostraram que ele era parecido à um lêmure, que poderia ser um parente próximo de Ida e que tinha várias características dentárias que são comumente observados em macacos e seres humanos.
A equipe liderada por Seiffert alimentou um modelo computacional com informações do o novo fóssil e de 117 espécies vivas e extintas de primatas para descobrir onde a nova espécie se situava na árvore da evolução. Em artigo publicado na revista Nature, Seiffert explicou que, embora o novo fóssil, de nome Afradapis, estivesse relacionado com Ida, ambos surgiram ao longo do caminho evolutivo que levou a lêmures e lorisídeos.
"Eles estão tentando explicar todos os traços que vemos em Darwinius em termos de evolução paralela", disse Hurum. Evolução paralela é quando dois grupos de animais de características semelhantes evoluem sem ser relacionados entre si.
Em um e-mail, Philip Gingerich, chefe da Paleontologia da Universidade de Princeton que trabalhou com o fóssil Ida, disse que ambos os fósseis eram quase certamente parte da linhagem que levou aos macacos e seres humanos. Ele escreveu que era "enigmático" ver Seiffert e sua equipe relacionarem os fósseis a um grupo que se tornou lêmures e lorisídeos "com os quais não compartilham nenhuma semelhança".
Um último trabalho desenvolvido pela equipe de Seiffert apareceu para adicionar mais dúvidas à questão. Segundo seu estudo, nem Ida, nem Afradapis possui descendentes vivos, o que significa que foram extintos da árvore evolutiva.
"Isso será parte de uma discussão que se estenderá durante semanas e meses", disse Hurum.