"Homo sapiens Report", mudando o mundo a partir do olhar de um alienígena
O físico e cineasta americano Michael Wadleigh tenta mudar o mundo com sua série de conferências "Homo sapiens Report", nas quais analisa a superexploração dos recursos naturais através do olhar crítico e distanciado de um alienígena.
A sede da Comissão Europeia, em Bruxelas, foi a última parada de Wadleigh, ganhador de um Oscar por seu documentário "Woodstock" (1970), que já expôs seu projeto em mais de 100 universidades de países de todo o mundo.
O projeto "Homo sapiens Report" é baseado em uma extensa apresentação visual e parte da premissa de um alienígena que analisa a situação do planeta em termos sociais, políticos, econômicos e ambientais, explicou Wadleigh em entrevista à Agência Efe.
"Se um alienígena chegasse à Terra, diria: 'Mas que diabos estão fazendo?' Ele pensaria que estamos administrando nossos recursos de forma muito pobre e pouco ou nada inteligente", afirmou Wadleigh.
"Nosso antropocentrismo nos impede de ver a fotografia completa", assegura, e por isso defende o "abandono do pensamento dominante centrado em termos financeiros e voltar para as coisas reais e tangíveis", sobretudo os recursos básicos.
"É preciso parar para pensar no que significa o crescimento econômico. Não se trata de fazer crescer o dinheiro e a riqueza, mas de fazer crescer os recursos básicos, que cada vez estão piores distribuídos enquanto a população cresce de forma exponencial", destacou Wadleigh.
"Se dividíssemos todo o território do planeta com recursos naturais aproveitáveis pelo homem - desde água doce até as florestas ou terrenos cultiváveis - entre a população mundial, cada pessoa teria uma superfície equivalente a três campos de futebol. Na Europa, essa proporção se reduz a apenas um campo", assinalou.
Segundo uma das imagens da apresentação visual de "Homo sapiens Report", há 40 anos a proporção em nível mundial era de seis terrenos por habitante, enquanto para 2050 calcula-se que caia para dois por habitante, ao que seria preciso acrescentar o desgaste devido ao maior tempo de exploração.
"É urgente agir, e é quase um suicídio se não fizermos com a desculpa da crise econômica", destacou Wadleigh, que está em Bruxelas para expor seu projeto ao comissário europeu do Meio Ambiente, o esloveno Janez Potocnik.
Embora tenha se formado em Física e em Medicina pela Universidade de Columbia, Wadleigh ganhou fama com seu documentário sobre o mítico festival de música de Woodstock de 1969, que, além de se transformar em um sucesso de crítica e público, é considerado uma obra cult do movimento hippie.
Fiel à estética da contracultura, Wadleigh chegou à reunião com o comissário esloveno com a típica aparência de um hippie, desde a barba comprida e os cabelos longos enrolados em um lenço, a uma camisa quadriculada e seu desgastado Oscar na mão.
"O comissário se mostrou de acordo com muitos pontos da minha exposição", afirmou Wadleigh, dizendo que seu objetivo "não é mudar a mentalidade dos políticos ou empresários, mas a mentalidade de pessoas normais, que têm o futuro do mundo em suas mãos".
Entre outras propostas concretas, Wadleigh defende a aplicação de "critérios científicos" nas empresas e que os políticos eleitos "façam um juramento da verdade" no início dos mandatos, que acarrete responsabilidades penais se não cumprirem suas promessas eleitorais ou mentirem para os cidadãos.
Wadleigh, no entanto, desconfia da internet como via para divulgar sua mensagem: não conta com um site próprio e ao fazer sua apresentação visual, pediu expressamente que esta não seja distribuída pela rede.
"Somos uma organização subversiva, por isso não publicamos na rede. Sei que atualmente tudo esta passando por esse meio, mas nunca gostei. Em muitas ocasiões, os sites informaram falsamente que eu estava morto, ou trabalhando como motorista de ônibus em Ohio", comentou.
Além disso, Wadleigh justifica esta desconfiança com o dado de que apenas duas, das cem páginas da internet mais visitadas de todo o mundo, não têm fins lucrativos.
"Se não nós, quem? Se não agora, quando?". Com estas palavras Wadleigh conclui suas conferências, entrevistas e reuniões.