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Escritora relata como se tornou um imã de doenças estranhas

13 fev 2010 - 12h00
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Sue Eisenfeld, 38, é escritora de Arlington, Virgínia.

Aos 38 anos, eu oficialmente me declaro Rainha das Indisposições De Que Ninguém Ouviu Falar.

Quer me testar? Mucocele. Você provavelmente nem sabe como pronunciá-la, muito menos defini-la: um cisto cheio de líquido que pode se formar na sua boca. O meu apareceu um dia há dois verões, um inchaço suave dentro do meu lábio inferior. Aconselhada a não perder tempo, removi cirurgicamente a coisa. Durante semanas, meu sorriso ficou preto e azul.

Não convencido? Carotidinia. Uma incomum condição crônica que começou oito anos atrás e que me atinge a cada alguns anos desde então, na maior parte das vezes por causa de estresse - uma literal dor no pescoço, irradiando por minha garganta e ouvido, próximo da artéria carótida, agravada ao engolir ou virar a cabeça. É uma daquelas síndromes que faz o médico arregalar os olhos e dizer, "Nunca tinha visto isso de verdade antes".

Recentemente, eu sofri com uma brânquia vestigial infectada. Ah, sim, também tenho anomalias anatômicas: um pequeno tubo na frente do meu ouvido direito, remanescente dos meus dias embrionários quando tinha brânquias (todos tínhamos). Ocasionalmente, eles se enchem e se esvaziam com um fluido mal-cheiroso; dá até para ver um pequeno furo.

Já que eu sou o assunto, devo mencionar que tenho tecido mamário em minhas axilas, que incha, como os meus seios, antes da menstruação. Também tenho um ceco móvel, a parte do intestino da qual surge o apêndice. Soube disso quando fiz uma tomografia no pronto-socorro, para onde fui com uma febre de 39º C e uma dor lancinante no meu lado direito. Qual foi exatamente o problema, nunca saberemos; os médicos não conseguiram encontrar meu apêndice.

Nem todas as minhas doenças são tão esotéricas; a maioria é bem comum, mas que coleção!

Tenho bruxismo - ranger os dentes durante a noite ¿, o que me causou uma dor de cabeça tão terrível durante uma viagem a Key West que quis me afogar enquanto praticava mergulho.

Tenho os comuns cistos ovarianos cíclicos - nem dignos de nota - e o fibroide uterino que acumulei recentemente, que causa cólicas menstruais tão horrendas que só consigo funcionar graças ao Advil, dia e noite. Tem também a contusão estranha: uma costela deslocada, por exemplo, ao bater em uma árvore na minha primeira e única tentativa de dirigir um veículo para neve.

A primeira de minhas enfermidades incomuns foi a chamada síncope vasovagal (ou desmaio).

O mundo se escureceu pela primeira vez aos 15 anos: desmaiei no consultório do médico depois de tomar uma injeção. Minha mãe pensou que eu estava só fazendo drama quando coloquei as costas da mão sobre a testa e perdi a consciência, mas mostrei o quanto ela estava errada. Foi o primeiro de provavelmente uma dúzia de episódios de desmaio até chegar na casa dos 30.

Nos últimos três anos, mais ou menos, passei a desenvolver urticária nas minhas pálpebras em festas até altas horas e durante jantares com amigos e colegas - vergões rosados gigantescos que deslocam 2,5 cm minha sobrancelha de seu lugar original, me deformando por algumas horas. Com resultados negativos para alergias alimentares comuns e não encontrando qualquer relação com um alimento ou ingrediente particular, os médicos e eu só pudemos presumir que seja uma reação à fadiga ou ansiedade social.

Esse título real sob o qual me untei não é um do qual sinta orgulho, embora as histórias de cada uma de minhas esquisitices médicas entretenham meus amigos mais perturbados. Esses problemas acumulados, embora passageiros, podem me indispor por um tempo, podem regredir minha natureza alegre e, se nada mais, são inconvenientes.

Pior ainda, quando cada novo problema aparece, fico em um estado de preocupação.

Desde que um amigo meu morreu de glioblastoma - tumor cerebral ¿ aos 17 anos, passo minha vida morrendo de medo de alguma doença, deformação e deficiência. Toda vez que algum novo problema médico surge - algo novo no meu rosto, uma massa indeterminada na minha pélvis, uma dor de cabeça inexplicavelmente persistente -, a nuvem negra de apreensão me engole, sussurrando, "É agora, vai ser esse".

Enquanto escrevo, deixo no gelo a sola do meu pé esquerdo, onde parece que uma ervilha assumiu residência. É a protuberância mais dolorosa que já tive, arrastando minha vida. Não consultei ainda um podólogo, mas pela internet parece ser um cisto ou um nervo inflamado, ambos tratáveis com injeções ou cirurgia. Sairemos para uma viagem de trilhas em Idaho daqui a 10 dias, e estou sentindo pena de mim pelas coisas que não poderei fazer, pelas montanhas que não poderei subir.

Mas, novamente, como rainha desse pequeno reino de surpresas da vida, sei que isso é muito bem tratável, algo que pode afetar minha vida por algumas semanas, mas que ao final vai embora - em última instância, algo com o qual posso conviver.

Todas as minhas partes vitais estão funcionando corretamente, nada está se desintegrando de dentro para fora. Viverei, é do que me lembro quando tudo parece ser demais para aguentar. Viverei. Um excelente prognóstico.

Tradução: Amy Traduções

The New York Times
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