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Brasil retoma estudos para concluir Angra 3 e reabre debate sobre papel da energia nuclear

Com mais de 90% dos equipamentos comprados, usina depende da atualização; presidente da ABDAN diz que tecnologia é segura

16 dez 2025 - 04h59
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Resumo
O Brasil retoma estudos para finalizar a usina nuclear Angra 3, com atualização de dados econômicos e técnicos, enquanto o setor promove debates sobre energia nuclear segura e busca atrair investimentos privados.
A atualização dos valores será decisiva para que o governo defina qual dos cenários será adotado
A atualização dos valores será decisiva para que o governo defina qual dos cenários será adotado
Foto: Divulgação/Eletronuclear

Em meio à corrida mundial pelo fim dos combustíveis fósseis, bastante debatido na COP30, em Belém, a decisão do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) de determinar a atualização dos estudos para a conclusão de Angra 3 marca um novo capítulo para o setor nuclear brasileiro.

A medida, publicada no Diário Oficial da União, exige que a Eletronuclear e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) revejam os dados econômico-financeiros do projeto, paralisado desde 2015, e considerem diferentes cenários para o futuro da usina — desde a retomada com recursos públicos ou privados até o abandono definitivo.

Segundo o presidente da Associação Brasileira para o Desenvolvimento de Atividades Nucleares (ABDAN), Celso Cunha, a atualização é necessária porque os últimos estudos, realizados pelo BNDES, já têm cerca de três anos.

“Esse estudo já tem três anos que foi feito. Para você concluir agora efetivamente, principalmente com a entrada de um novo grupo privado, que é o grupo da AMBA e da JBF, você precisa trazer esses valores de 2022 para valores presentes”, disse.

Angra 3 tem cerca de 65% das obras prontas e quase 90% dos equipamentos comprados e estocados. De acordo com Cunha, o levantamento anterior apontou que concluir a usina custaria R$ 25 bilhões, enquanto abandoná-la exigiria R$ 23 bilhões somente para desativar o que já está construído — sem contar eventuais riscos jurídicos. “Só para manter as peças que estão lá armazenadas, nós gastamos 1.2 bi por ano”, afirmou.

A maior parte dos serviços pendentes está relacionada à montagem e construção civil. “Ainda falta muita coisa de Construção Civil e menos de 5% em equipamentos e sistemas”, afirmou Cunha.

A atualização dos valores será decisiva para que o governo defina qual dos cenários será adotado, especialmente após a recente troca acionária na Eletrobras, que repassou parte do controle da Eletronuclear para a ENBPar.

Setor busca desmistificar medo da população

Parada, obra de Angra 3 custa milhões aos cofres públicos
Parada, obra de Angra 3 custa milhões aos cofres públicos
Foto: Divulgação/Eletronuclear

Cunha reconhece que parte da população ainda tem receio da energia nuclear, mas afirma que a rejeição diminui quando há informação adequada. Ele cita pesquisas realizadas pela ABDAN. “Há cerca de sete anos, nós fizemos um trabalho em nível nacional e você tinha aproximadamente 34% de aceitação. Depois, há cerca de quatro anos, foi feito um trabalho na região de Angra dos Reis e a aceitação é de 74%”.

Para ele, a resistência nasce da falta de conhecimento sobre a tecnologia, algo que se repete em outras áreas. “A tecnologia, ela sempre assusta, né? A própria inteligência artificial assusta as pessoas”, disse.

Ao comentar o funcionamento de uma usina nuclear, Cunha reforça que o Brasil opera dentro dos padrões mais rigorosos do mundo. “As nossas usinas estão entre as melhores do mundo. Com um nível de eficiência acima de 90%”, afirmou.

Ele destacou que a indústria incorporou aprendizados de acidentes passados, especialmente nos reatores de nova geração. “Eles têm o que a gente chama de elementos passivos. Eles se desligam automaticamente, independentemente de um comando, de uma válvula, do que for, se existir algum problema.”

Operação pode iniciar em seis anos

Caso o governo dê a ordem para reinício da obra, a previsão é que Angra 3 entre em funcionamento em seis anos. "A partir do momento que se dê a ordem de recomeço, em seis anos você bota ela para funcionar", afirmou Cunha.

Para ele, a principal barreira hoje é a falta de estabilidade e continuidade nas decisões do setor energético. “O governo está com muita dificuldade de governança no setor. Troca de dirigente toda hora nas empresas, e isso tem sido muito ruim, tem atrapalhado muito”, disse.

Cunha defende que o Brasil abra espaço para investidores privados, como já ocorre em outros países. “Nossa proposta, inclusive, para o governo, é que o governo faça só regular e deixe a iniciativa privada construir, como todas as outras fontes.”

Sobre o papel do Brasil no cenário global, Cunha é direto: o país está atrás do que poderia ser. “O Brasil é um dos países do mundo, senta num grupo seleto de cinco países que tem urânio, domina a tecnologia do combustível nuclear, e tem capacidade de construir”, concluiu.

Tecnologia ultrapassada e custo elevado, avalia especialista

Para o professor Ildo Sauer, diretor do Instituto de Energia e Ambiente da USP e ex-diretor de Gás e Energia da Petrobras, a retomada de Angra 3 não representa avanço tecnológico e não seria a opção mais viável do ponto de vista econômico.

Ele afirma que o reator de Angra 3 é baseado em um projeto da década de 1970, adaptado de tecnologias militares americanas e posteriormente transferido pela Alemanha. “A tecnologia dessa Angra 3 não tem nada de novo. Era a tecnologia mais avançada do mundo de meio século atrás”, disse.

Para o professor, a comparação econômica é desfavorável à energia nuclear. “Se ela vai custar US$ 4 bilhões (cerca de R$ 21,6 bi), você faz a mesma quantidade por US$ 2 bilhões (R$ 10,8 bi), no máximo, de fotovoltaica e eólica. Então, eu pergunto: vale a pena você gastar o dobro para ter o mesmo benefício energético?”

Ele calcula que, considerando investimentos de R$ 25 bilhões, a energia produzida por Angra 3 custaria entre R$ 600 e R$ 800 por megawatt-hora, enquanto solar e eólica saem por cerca de R$ 150. “Portanto, vai custar mais que o dobro, praticamente o triplo”, afirmou.

Sauer também alerta para o impacto dos resíduos nucleares.“A ANGRA 3 vai deixar mais ou menos mil toneladas de combustível irradiado, que precisa ter cuidado por dois milênios se não houver reprocessamento”, disse.

“Vale a pena deixar essa herança para gerações futuras, pagar o dobro pela energia, dado que as alternativas renováveis são mais baratas e não deixam rejeitos?”

Apesar das críticas, ele diz que o Brasil deveria continuar avançando em pesquisa nuclear, mas em tecnologias modernas e mais seguras, como sistemas que utilizam resfriamento passivo. "Concluir Angra 3 não fazer sentido", avalia.

Para Sauer, o País tem abundância de alternativas. “O Brasil tem muitas fontes abundantes. Para energia, Angra 3 não serve. Para tecnologia, tampouco”, concluiu.

Fonte: Portal Terra
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