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Sem recursos para voo médico, marido planeja voltar de motorhome dos EUA ao Brasil com mulher em estado vegetativo

Após o Itamaraty negar apoio para transporte aéreo, Ubiratan decidiu adaptar veículo para levar Fabíola

17 out 2025 - 04h59
Resumo
Sem recursos para transporte aéreo, Ubiratan Rodrigues decidiu adaptar um motorhome para levar sua esposa, em estado vegetativo, dos Estados Unidos ao Brasil em uma viagem de cerca de 60 dias, buscando recomeçar a vida ao lado da família.
Fabíola, de 32 anos, sofreu mal súbito no trabalho e teve três paradas cardíacas
Fabíola, de 32 anos, sofreu mal súbito no trabalho e teve três paradas cardíacas
Foto: Arquivo pessoal

Em setembro de 2024, a vida de Ubiratan Rodrigues mudou completamente. Caminhoneiro por profissão e casado com Fabíola da Costa há mais de 15 anos, ele trocou as estradas dos Estados Unidos pela rotina de cuidados com a esposa, que entrou em estado vegetativo após sofrer um mal súbito no trabalho. Agora, sem condições financeiras de permanecer no país, ele planeja viajar de motorhome da Flórida até Juiz de Fora (MG) para tentar recomeçar a vida ao lado da família.

Sem recursos para voo médico, família planeja voltar de motorhome dos EUA ao Brasil. "Há um ano, minha esposa Fabiola sofreu um mal súbito e teve três paradas cardíacas, que faltou oxigênio no cérebro e a deixou em estado vegetativo. Durante sete meses, ela ficou internada em estado de grave. Hoje, eu cuido dela em casa, juntamente com nossos três filhos", contou Ubiratan.

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Ao Terra, ele explicou que o casal chegou aos Estados Unidos em 2019. Fabíola trabalhava como manicure quando passou mal, e desde então, Ubiratan deixou o trabalho para se dedicar integralmente aos cuidados da esposa.

Ele conta que chegou a tentar arrecadar fundos para um transporte aéreo com UTI, mas a campanha não alcançou o valor necessário. "A partir da liberação do médico para estar voando, a gente então deu início a uma campanha para conseguir UTI aérea. Foi sem sucesso. Na época, conseguimos 20 e poucos mil dólares", diz.

Fabíola trabalhava com manicure e Ubiratan como caminhoneiro
Foto: Arquivo pessoal

A viagem de avião, segundo ele, custaria em torno de 120 mil dólares (aproximadamente R$ 700 mil). "A nossa maior dificuldade hoje é retornar ao Brasil, porque não temos condições de nos manter aqui, por causa que eu não consigo trabalhar. Então, a gente precisa dessa ajuda para estar voltando para o Brasil, em segurança", explicou em vídeo em que pedia doações pelo perfil (@biraefabiola).

O caminhoneiro chegou a buscar auxílio do Itamaraty, mas não teve sucesso na tentativa. "O Ministério das Relações Exteriores não possui previsão orçamentária para arcar com custos de transporte de pacientes ao Brasil em UTIs móveis", informou o órgão em nota obtida pela reportagem. O Itamaraty, porém, ofereceu suporte na emissão de documentos de viagem.

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Diante da falta de alternativas, o caminhoneiro decidiu adaptar um motorhome para transportar a esposa. "Não temos nenhuma ajuda aqui, então eu tive que tomar uma atitude. Eu optei pelo retorno ao Brasil em um motorhome. O médico liberou para ela estar viajando. Nas palavras dele, é transporte de paciente por via terrestre. Eu só tenho que me atentar ao cuidado com a temperatura interna do motorhome, que jamais pode perder a média de temperatura ambiente”, explica.

Para garantir segurança e estabilidade durante a viagem, ele elaborou um plano detalhado. "Então, eu deveria traçar um plano A, um plano B e C para que não perdesse energia elétrica. Então, o plano A seria usado as baterias do próprio motorhome. O plano B, um gerador. E o plano C, a energia solar. E a adaptação seria de retirar uma mesa e fixaria a cama no piso para ficar estável".

O custo total do veículo com adaptação pode chegar a US$ 40 mil dólares, cerca de R$ 218 mil.

"Qualquer ajuda faz a diferença, para nos ajudar a levar Fabiola de volta para casa, e estarmos perto da família e continuar o tratamento que ela precisa", diz.

De acordo com o Escritório de Assuntos Públicos da Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA, em nota à reportagem, é permitido viajar internacionalmente de motorhome, desde que o veículo e os viajantes cumpram as exigências de documentação, como passaportes, vistos, seguro e registro do veículo.

A rota mais curta entre a Flórida e Juiz de Fora duraria cerca de 25 dias, passando por estados americanos como Texas, Novo México, Arizona e Califórnia -- regiões de clima árido e grandes trechos de deserto. Por isso, Ubiratan optou por uma alternativa mais longa, evitando as áreas de deserto e cruzando países da América Central e do Sul.

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Família pretende voltar ao Brasil para ficar perto de parentes
Foto: Arquivo pessoal

"Eu traçei uma rota alternativa para poder sair do deserto por causa de questões de emergência, até mesmo se precisar parar para algum problema mecânico ou se ela, por acaso, precisar de algum atendimento emergencial. Isso daria a viagem durar cerca de três a quatro dias a mais", explica.

O trajeto passa por México, Guatemala, Honduras, Costa Rica, Panamá, Colômbia, Equador, Bolívia e Peru, entrando no Brasil pelo Acre. Com as pausas para cuidados e descanso, o percurso deve levar entre 50 e 60 dias.

A viagem está prevista para começar até o fim de outubro. E, ao chegar a Juiz de Fora, a família pretende se hospedar na casa da mãe de Fabíola.

"Voltar para o Brasil muda tudo. Vou ter que buscar o mercado de trabalho novamente, começar do zero. A gente está buscando uma qualidade de vida melhor para ela e também estamos aliviando um pouco. As crianças precisam de mim. Nesse pouco mais de um ano, eles não só perderam a mãe, como perderam o pai. Agora, a gente vai ter apoio familiar para que eu possa dedicar mais tempo a eles", conclui Ubiratan.

Fonte: Portal Terra
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