A síndrome de Leigh é uma doença neurológica rara, de origem genética, que afeta principalmente o cérebro. Em muitos casos, ela também atinge músculos e outros órgãos. Ela costuma surgir na infância, muitas vezes ainda nos primeiros anos de vida, e está ligada a falhas na produção de energia dentro das células. Por ser uma condição complexa, exige acompanhamento especializado e atenção constante à evolução dos sintomas.
Nessa síndrome, estruturas chamadas mitocôndrias, responsáveis por gerar energia, não funcionam de forma adequada. Assim, essa falha energética compromete áreas importantes do sistema nervoso central. Em especial, o tronco encefálico e os gânglios da base. Com o passar do tempo, essas regiões podem sofrer degeneração, o que explica o aparecimento de sinais motores, respiratórios e cognitivos em diferentes níveis de gravidade.
O que é a síndrome de Leigh?
A síndrome de Leigh, também conhecida como encefalomielopatia necrosante subaguda, é um distúrbio neurodegenerativo progressivo, geralmente associado a defeitos na respiração mitocondrial. Ela pode ser classificada como uma doença mitocondrial ou como um erro inato do metabolismo energético. Ademais, embora mais comum em bebês e crianças pequenas, existem relatos de início na adolescência e na idade adulta, em formas consideradas atípicas.
Do ponto de vista médico, a síndrome é caracterizada por lesões simétricas em determinadas áreas do cérebro, visíveis em exames de imagem como a ressonância magnética. Essas lesões estão ligadas à falta de energia nas células nervosas, que acabam não suportando o estresse metabólico. O quadro clínico é bastante variável, mas, em geral, envolve regressão de marcos do desenvolvimento, fraqueza muscular e alterações respiratórias.
Quais são as causas da síndrome de Leigh?
A causa principal da síndrome de Leigh é uma alteração genética que compromete o funcionamento das mitocôndrias ou de enzimas envolvidas na produção de energia. Além disso, essas mudanças podem ocorrer tanto no DNA mitocondrial quanto no DNA nuclear. Ademais, dependendo do gene afetado, o padrão de herança pode ser autossômico recessivo, ligado ao cromossomo X ou materno (quando envolve o DNA mitocondrial).
Em muitos casos, a síndrome de Leigh está relacionada a defeitos em complexos da cadeia respiratória mitocondrial, como o complexo I, IV ou V, ou ainda à deficiência de piruvato desidrogenase. Portanto, esso significa que a célula não consegue transformar nutrientes em energia de maneira eficiente. Entre os fatores envolvidos estão:
- Mutação em genes mitocondriais herdados da mãe;
- Mutação em genes nucleares que controlam proteínas das mitocôndrias;
- Alterações em enzimas essenciais ao metabolismo energético;
- Erros na montagem ou manutenção da cadeia respiratória.
Em alguns pacientes, mesmo com exames genéticos avançados, o gene exato responsável pode não ser identificado de imediato, o que reforça a necessidade de investigação detalhada e, muitas vezes, de reavaliações ao longo do tempo.
Quais são os sintomas mais comuns da síndrome de Leigh?
Os sintomas da síndrome de Leigh variam conforme a idade de início, o gene afetado e o grau de comprometimento do sistema nervoso. Em geral, os primeiros sinais surgem na infância, com atraso no desenvolvimento motor ou perda de habilidades previamente adquiridas. Bebês que antes sustentavam a cabeça ou se sentavam podem deixar de realizar essas atividades.
Entre as manifestações clínicas mais relatadas estão:
- Fraqueza muscular e diminuição do tônus (hipotonia);
- Atraso para sentar, engatinhar ou andar;
- Dificuldade na coordenação dos movimentos e instabilidade ao se mover;
- Alterações na respiração, com pausas, irregularidade ou respiração acelerada;
- Problemas na deglutição e alimentação;
- Convulsões ou crises epilépticas;
- Movimentos involuntários dos olhos, estrabismo ou perda parcial da visão;
- Retardo no crescimento e baixa estatura em alguns casos.
Em fases mais avançadas, a síndrome de Leigh pode afetar o controle da temperatura corporal, da pressão arterial e de funções automáticas do organismo. Alguns pacientes apresentam episódios de piora súbita após infecções, febre ou estresse metabólico, o que exige atenção especial a quadros aparentemente simples, como resfriados.
Como é feito o diagnóstico da síndrome de Leigh?
O diagnóstico da síndrome de Leigh é clínico e laboratorial. Ele começa pela observação dos sintomas neurológicos e do histórico familiar, seguida de exames que avaliam o cérebro, o metabolismo e o material genético. Profissionais de neurologia, genética médica e outras especialidades costumam atuar em conjunto.
Entre os exames mais utilizados para investigar a síndrome de Leigh, destacam-se:
- Ressonância magnética do encéfalo, que pode mostrar lesões típicas em áreas profundas do cérebro;
- Dosagem de ácido lático no sangue e no líquor, frequentemente em níveis elevados;
- Estudos de função mitocondrial em músculo ou fibroblastos, quando indicados;
- Testes genéticos, como painéis de genes, exoma ou genoma, para identificação da mutação.
O diagnóstico precoce permite um planejamento mais adequado do acompanhamento, orientações genéticas para a família e, quando possível, o início de medidas terapêuticas que possam retardar a progressão do quadro.
Síndrome de Leigh tem tratamento?
Até 2025, não existe cura para a síndrome de Leigh, mas existem estratégias de tratamento voltadas para aliviar sintomas, reduzir complicações e tentar melhorar a qualidade de vida. O manejo é multidisciplinar e inclui neurologistas, geneticistas, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, nutricionistas e outros profissionais.
As abordagens mais comuns incluem:
- Suplementação vitamínica e de cofatores (como tiamina, riboflavina, coenzima Q10, L-carnitina), quando indicados pelos exames;
- Dietas específicas em alguns subtipos, como restrição de carboidratos em deficiências de piruvato desidrogenase;
- Fisioterapia motora e respiratória para preservar funções e prevenir contraturas;
- Fonoaudiologia para trabalhar deglutição e comunicação;
- Suporte nutricional, com adaptação de consistência de alimentos ou uso de sondas, se necessário;
- Controle de convulsões com medicamentos antiepilépticos adequados;
- Monitorização respiratória e, em alguns casos, suporte ventilatório.
Estudos em andamento avaliam terapias gênicas e novas abordagens metabólicas para doenças mitocondriais, incluindo a síndrome de Leigh. Embora ainda em fase de pesquisa, essas estratégias ampliam a perspectiva de opções futuras. Enquanto isso, o foco permanece no acompanhamento contínuo, na prevenção de descompensações metabólicas e no apoio integral ao paciente e à família.