Mamografias: medo de infecção faz mulheres adiarem exame na pandemia

Levantamento apontou uma queda de 53% na realização do exame entre março e setembro, em relação ao ano passado, na rede pública no Estado de São Paulo

21 out 2020 - 22h02

O medo de infecção pelo novo coronavírus fez com que algumas mulheres evitassem fazer a mamografia, exame para detectar o câncer de mama, capaz de reduzir a taxa de mortalidade pela doença em até 30%. Levantamento da Fundação Instituto de Pesquisa e Estudo de Diagnóstico por Imagem (Fidi) apontou uma queda de 53% na realização do exame entre março e setembro, em relação ao ano passado, na rede pública no Estado de São Paulo. O mesmo levantamento foi feito no HCor, onde a redução foi de 46%.

Atrasar o exame pode ter impactos no tamanho da lesão, no tratamento e na possibilidade de cura, explica Vivian Milani, médica radiologista da Fidi.

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"Quando se faz o rastreamento, é possível encontrar tumores pequenos, que não são palpáveis. Então, tira-se menos tecido, com possibilidade de simetrização da mama. Quando o tumor é menor, podemos preservar o mamilo. Uma vez com câncer de mama, o tumor vai evoluir."

Mastologista do HCor, Afonso Nazário diz que a lesão pode crescer em questão de meses. "O câncer continua crescendo, não quer saber se tem pandemia ou não. Em seis meses, em média, ele duplica. Tem tumores que duplicam em um mês. A quarentena começou em março. Se a paciente fez um delay e foi em setembro, o prognóstico piora, o tratamento pode ficar mais agressivo. Se bastasse fazer cirurgia e radioterapia, pode precisar fazer quimioterapia."

O Instituto Nacional de Câncer (INCA) estima que 66,2 mil novos casos de câncer de mama serão registrados no Brasil em 2020.

No HCor, segundo Nazário, houve queda em praticamente todos os setores da área de oncologia. "O movimento da oncologia clínica caiu 45%. Na mamografia, caiu 46%. Em março, houve queda de 20% em cirurgia. Em abril e maio, caiu em 80% a procura por mastologista. Em junho e julho, voltou 50% e, em agosto, estava beirando 90% do que era."

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Vivian diz que mulheres que adiaram o exame devem manter o check-up anual mesmo com o atraso e que o procedimento pode ser feito com os devidos cuidados para evitar a covid-19. "Não dá para pular este ano, porque ele existiu. A questão do atraso do diagnóstico foi algo que o mundo inteiro percebeu e, no ano que vem, a gente vai conseguir notar o quanto foi devastador, porque é uma doença que já matava com o exame anual", diz.

Fui fazer o exame de máscara e com todos os cuidados, diz paciente

A síndica Katia Helena Fortunato, de 56 anos, iniciou um acompanhamento com mastologista em 2019 após sentir dor em uma das mamas. Ela fez uma mamografia e deveria repetir o exame em março, mas resolveu adiar por causa da pandemia. "Estava com muita dor e tinha um vergão no meu peito no ano passado. O médico já passou uma segunda mamografia para o começo de março deste ano, mas deixei para fazer em agosto, porque me senti mais segura. Fui de máscara e com todos os cuidados."

Embora o primeiro resultado não tivesse apontado problemas, ela temia algo sério. "Estava preocupada. De repente, poderia ter alguma coisa e eu esperando a pandemia. Comecei a ver na televisão que, quem tinha exames, deveria fazer. Graças a Deus, não deu nada." Como já tinha o hábito de fazer os exames de rotina em agosto, já realizou todos e só vai precisar refazer o check-up no ano que vem.

Segundo a recomendação do Ministério da Saúde, a mamografia deve ser feita entre os 50 e os 69 anos a cada dois anos quando não há sintomas.

"As sociedades médicas recomendam a partir dos 40 anos e de forma anual. A mamografia é o único exame de imagem que diminui a taxa de mortalidade de 20% a 30%. O autoexame não é mais recomendado, porque a mulher consegue detectar nódulos com dois ou três centímetros. Tem de pegar o nódulo milimétrico, pois a taxa de cura é de 95%", explica Nazário.

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Mesmo assim, ele destaca a importância de a mulher ter o hábito de observar as mamas. "É importante a paciente periodicamente apalpar para entender a anatomia do corpo e também porque o tumor pode crescer muito rápido."

Procedimentos foram reagendados e atendimento foi ampliado, diz secretaria

Em nota, a Secretaria de Estado da Saúde informou que a média de mamografias nos três primeiros meses do ano foi de 95 mil por mês, número que corresponde com o que foi registrado no ano passado. Nos meses de abril e maio, houve queda de 78% nos procedimentos, pois alguns foram reagendados.

"No decorrer da pandemia, exames e procedimentos médicos eletivos - ou seja, sem risco iminente ao paciente - foram reprogramados para garantir a segurança tanto dos pacientes quanto dos profissionais de saúde. Nesse sentido, mamografias também foram reprogramadas, o que resultou numa queda principalmente entre abril e maio, que registraram média de 20 mil mês."

Segundo a pasta, os números subiram em junho, julho e agosto, totalizando 31 mil, 39 mil e 48 mil mamografias, respectivamente. A secretaria informou que utilizou como base de dados o DataSUS, que tem informações disponíveis até o mês de agosto.

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Ainda de acordo com a secretaria, o Hospital Pérola Byington ampliou em 54% a capacidade de atendimento a novos casos de câncer. "Durante esses seis meses mais intensos da pandemia, a oferta de consultas para novos casos foi de 130 vagas por mês, 63% delas na área de mastologia. As outras 37% foram para a área de oncologia pélvica. O serviço também efetuou 2.640 cirurgias, sendo 60% delas oncológicas", completa.

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