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ANS anuncia incorporação de remédio contra dermatite atópica grave para crianças

Antes dessa determinação, somente pacientes com mais de 18 anos tinham acesso ao medicamento por meio dos planos de saúde; valor da medicação em farmácias de alto custo pode chegar a R$ 12 mil

7 mai 2024 - 18h35

A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) expandiu a cobertura do medicamento Dupixent (dupilumabe), da farmacêutica Sanofi, nas redes privadas de saúde, agora disponibilizando o tratamento da dermatite atópica grave também a pacientes pediátricos de 6 meses a menores de 18 anos. Anteriormente, somente indivíduos com mais de 18 anos tinham acesso a essa medicação por meio dos planos particulares. A medida, impulsionada por uma consulta pública que contou com a participação de 10 mil pessoas, entrou em vigor em 2 de maio.

Segundo a médica Silvia Soutto Mayor, membro titular da Sociedade Brasileira de Dermatologia, a dermatite atópica é comum em crianças e adolescentes, afetando até 20% da população jovem globalmente.

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Embora muitos casos sejam leves e não exijam tratamento sistêmico, aproximadamente 10% dos pacientes enfrentam formas moderadas ou graves da doença, prejudicando consideravelmente sua qualidade de vida. Isso porque o quadro gera coceira intensa, interferindo no sono e na autoimagem, além de aumentar o risco de problemas psicossociais, como bullying, isolamento social e transtornos de ansiedade.

Até 2017, ano em que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o uso do Dupixent em casos de dermatite atópica, o tratamento para esses casos envolvia corticoides, tanto tópicos quanto orais, com seus potenciais efeitos colaterais, especialmente em usos prolongados. O uso poderia levar a complicações como obesidade, interrupção ou atraso no crescimento, diabetes, aumento do colesterol e catarata.

Outras opções incluíam medicamentos como metotrexato e ciclosporina, embora seu uso em crianças para dermatite atópica seja considerado "off-label", ou seja, fora das recomendações originais.

Na opinião de Silvia, a incorporação do dupilumabe pela ANS, órgão responsável pela regulação e fiscalização das redes privadas de saúde, pode ser considerada um "divisor de águas". "Estamos falando de uma terapia segura e que, quando bem indicada, pode mudar o curso da doença, evitando sintomas graves, progressão e internações hospitalares por conta das infecções, principal complicação da dermatite atópica", declara a especialista.

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Segundo a titular da SBD, a expectativa, a partir de agora, é que o Sistema Único de Saúde (SUS) inclua o medicamento. Afinal, para aqueles que não são beneficiários da rede privada de saúde, o acesso ao medicamento continua acontecendo por meio de compras em farmácias de alto custo, podendo chegar a um valor de R$ 12 mil. "Agora, aguardamos a incorporação pelo sistema público de saúde, para que crianças e adolescentes que não possuem os planos privados também sejam beneficiados pelo tratamento de qualidade", declara a médica.

O que é dermatite atópica?

É uma doença inflamatória crônica caracterizada por lesões de eczema (vermelhas e grossas), secura e coceira na pele. Outra marca da doença é a recorrência, já que, segundo a SBD, ela costuma alternar entre períodos de melhora e piora dos sintomas, "podendo haver intervalos de semanas, meses ou anos entre uma crise e outra".

Além disso, a dermatite atópica faz parte do grupo de doenças atópicas, ou seja, que não estão diretamente ligadas a um fator externo específico e que têm relação entre si. "Por isso, pessoas que têm alguma atopia, sejam as respiratórias (como rinite, bronquite e asma) ou alergias alimentares, têm mais chances de desenvolver a dermatite atópica e vice-versa", explica Silvia.

O que causa a dermatite atópica?

Essencialmente, a dermatite atópica está ligada a fatores genéticos, de acordo com o dermatologista Heitor Gonçalves, presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia. Apesar disso, fatores externos podem disparar e piorar os sintomas, segundo o especialista.

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"Pessoas com essa tendência genética, sob determinadas condições, sofrem alterações no sistema imunológico que levam a reações exacerbadas. Isso resulta na produção de substâncias inflamatórias e na diminuição da barreira de proteção da pele. Consequentemente, a pele fica mais suscetível à perda de água e mais seca, o que facilita o surgimento de inflamações", descreve Gonçalves.

Apesar de não serem a causa, fatores externos podem piorar o quadro de dermatite atópica, segundo a SBD. Confira alguns deles:

  • Suor excessivo (favorecido por ambientes e roupas quentes e variações de temperatura);
  • Baixa umidade do ambiente (porque aumenta o ressecamento da pele);
  • Uso de roupas de lã e de tecidos sintéticos e ásperos (aumentam a coceira);
  • Uso exagerado de sabonete;
  • Situações de estresse. De acordo com Gonçalves, a adrenalina liberada nesses momentos aumenta a sensibilidade da pele em relação às substâncias que causam inflamação;

Por que a dermatite atópica aparece principalmente em crianças?

Segundo Gonçalves, os motivos dessa maior prevalência não são claros. Porém, ele acredita que o quadro melhore ao longo do tempo devido a uma "acomodação" do sistema imunológico à alteração genética típica da doença. "A dermatite atópica costuma surgir a partir dos três meses de idade e é possível que, ao longo dos anos, a sensibilidade aos fatores que causam alergia diminua", explica.

Inclusive, a SBD aponta que aproximadamente 70% das crianças que apresentam dermatite atópica evoluem com a remissão (estágio em que a doença está sob controle) na adolescência. Apesar disso, a entidade destaca que há casos menos comuns em que a dermatite atópica surge na fase adulta.

Como prevenir a dermatite atópica?

Por ser uma doença com base genética, é difícil evitar o surgimento da dermatite atópica. Consequentemente, a sua prevenção, assim como o seu tratamento em casos leves, consiste em hábitos para evitar o agravamento dos sintomas, tais como:

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  • Melhorar as condições da barreira da pele. Para isso, é recomendado usar hidratantes ou emolientes sem cheiro, pelo menos duas vezes ao dia;
  • Evitar banhos muito quentes e demorados;
  • Não usar sabonetes direto na pele lesionada. Nesses casos, optar por loções de limpeza;
  • Aliviar a coceira com compressas frias e, nos casos graves, com o medicamentos anti-histamínicos;
  • Manter as unhas das crianças curtas para reduzir o risco de lesões a partir da coceira. Caso a coceira noturna seja um problema grave, pensar na possibilidade de recorrer a luvas leves durante o sono;
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