Fazer promessas - a Deus, à Virgem Maria ou a um santo - é um gesto presente na religiosidade popular brasileira e tem raízes profundas na tradição cristã. Muito antes de se tornar um costume cotidiano, os votos já eram mencionados na Bíblia, feitos em momentos de angústia, pedido e agradecimento.
Mas, apesar de sua popularidade, muitas pessoas não sabem exatamente como as promessas funcionam, o que a Igreja ensina sobre elas e como cumprir esse compromisso com responsabilidade espiritual. A seguir, entenda a origem bíblica das promessas, o valor que elas têm na vida cristã e como fazer esse gesto de forma consciente e equilibrada.
Promessas existem desde o Antigo Testamento
A prática aparece em diversas passagens da Bíblia. Quando Jacó, fugindo para a Mesopotâmia, implorou proteção divina, fez um voto ao Senhor: "Se Deus for comigo (…) de todas as coisas que me deres te oferecerei o dízimo" (Gn 28,20-22).
Outra promessa marcante é a de Ana, mãe do profeta Samuel, que sofria por ser estéril. Em sua súplica, declarou: "Senhor dos exércitos… se me deres um filho varão, eu o darei ao Senhor durante todos os dias de sua vida" (1Sm 1,11). Essas histórias revelam uma verdade central: a promessa não é troca, barganha ou tentativa de "convencer Deus", mas uma resposta de gratidão e confiança.
É um compromisso livre, feito com amor e confiança, em troca de uma graça, proteção ou ajuda espiritual. Pode ser simples (como acender uma vela) ou mais profunda, como uma novena, peregrinação ou ato de caridade.
Promessa não obriga Deus a fazer o que pedimos
Um ponto importante da tradição cristã é que nenhuma promessa força Deus a atender pedidos. Ele sempre age segundo o que é bom para a pessoa, ainda que o fiel não compreenda imediatamente. Por isso, promessas são um gesto de devoção, e não uma condição para obter milagres. Elas expressam fé, humildade e desejo de caminhar mais perto de Deus.
A prudência bíblica: não prometa o que não pode cumprir
O Antigo Testamento também traz uma mensagem muito clara: "É muito melhor não fazer promessas do que, depois de as fazer, não as cumprir" (Ecl 5,4). Em outras palavras: prometer é um gesto livre, mas deve ser feito com verdade, consciência e coerência. No Novo Testamento, Jesus não condena a prática. E a própria Igreja nascente manteve o costume dos votos. Para as primeiras comunidades cristãs, o voto era um gesto de entrega e amor - e nunca um peso.
O propósito espiritual das promessas
A promessa é um ato de confiança: a pessoa se coloca diante de Deus reconhecendo sua fragilidade, pedindo auxílio e se comprometendo a viver de forma mais virtuosa. É um gesto que aproxima o fiel da oração, da caridade e da conversão - as três práticas que Jesus recomenda no Evangelho (Mt 6,1-18). Quando uma promessa conduz alguém a esses caminhos, ela se torna um instrumento de graça.
O que levar em conta antes de fazer uma promessa
- Tenha clareza do que está pedindo;
- Escolha algo que você realmente possa cumprir;
- Crie um espaço de oração em casa para manter a conexão viva;
- Compartilhe com alguém de confiança (isso fortalece o compromisso);
- E, sobretudo: cumpra o voto com gratidão e carinho, não por obrigação.