Perigo em dose pequena: os efeitos colaterais das canetas para emagrecimento

Descubra quais os riscos das canetas emagrecedoras apenas para fins estéticos e como elas afetam sua saúde física, emocional e financeira

3 dez 2025 - 07h33

O uso de canetas emagrecedoras apenas para fins estéticos vem ganhando espaço em clínicas, consultórios e até em conversas informais desde 2023. Esses medicamentos injetáveis, geralmente aplicados uma vez por semana, foram desenvolvidos para auxiliar no controle do diabetes tipo 2 e da obesidade, mas passaram a ser adotados por pessoas que desejam perder alguns quilos rapidamente, mesmo sem indicação clínica. Esse movimento levanta uma série de dúvidas sobre segurança, riscos e impactos na saúde a curto e longo prazo.

Embora a promessa de redução de peso em pouco tempo chame atenção, o uso dessas canetas para emagrecimento estético envolve uma medicação com ação sistêmica, isto é, que interfere em mecanismos complexos do organismo. Quando utilizadas sem acompanhamento profissional adequado ou sem real necessidade médica, as chances de efeitos indesejados aumentam. O debate atual gira justamente em torno da fronteira entre o uso terapêutico e o uso puramente estético.

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O que são as canetas emagrecedoras e como agem no organismo?

As chamadas canetas emagrecedoras costumam conter substâncias que imitam hormônios produzidos pelo intestino, os chamados análogos de GLP-1. Eles atuam no sistema digestivo e no cérebro, ajudando a aumentar a sensação de saciedade, retardar o esvaziamento gástrico e reduzir o apetite. Em pacientes com obesidade ou diabetes tipo 2, essa ação pode auxiliar no controle do peso e da glicemia, sempre dentro de um plano de tratamento.

Quando o medicamento é usado apenas para fins estéticos, muitas vezes a pessoa não apresenta obesidade nem fatores de risco associados, como hipertensão, resistência à insulina ou colesterol elevado. Nesses casos, o organismo é exposto a uma droga potente sem que haja uma real indicação clínica. Isso pode gerar um desequilíbrio artificial na regulação da fome, impactar o funcionamento do intestino, do pâncreas e até o estado emocional, já que o eixo intestino-cérebro é sensível a esse tipo de intervenção.

Preços podem ultrapassar R$ 2 mil por mês, reforçando a importância de orientação profissional antes do tratamento – depositphotos.com / Micromoh77
Preços podem ultrapassar R$ 2 mil por mês, reforçando a importância de orientação profissional antes do tratamento – depositphotos.com / Micromoh77
Foto: Giro 10

Quais são os riscos das canetas emagrecedoras para fins estéticos?

Os riscos das canetas de emagrecimento usadas apenas para melhorar a aparência envolvem tanto efeitos imediatos quanto possíveis impactos de longo prazo. Entre os efeitos mais relatados estão náuseas, vômitos, diarreia, constipação, dor abdominal e sensação de mal-estar geral. Em muitos casos, esses sintomas são vistos como "parte do processo", o que pode levar a pessoa a subestimar sinais de alerta importantes.

Especialistas também apontam preocupações com:

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  • Desidratação e perda de eletrólitos por causa de vômitos e diarreia frequentes;
  • Alterações na função pancreática, com relatos de pancreatite em alguns pacientes;
  • Piora de quadros gastrointestinais prévios, como gastrite ou refluxo;
  • Impacto psicológico, com dependência emocional do medicamento para manter o peso;
  • Uso irregular, com aumento ou redução da dose por conta própria, elevando a chance de eventos adversos.

Outro ponto de atenção é o chamado "efeito sanfona". Ao interromper o uso das canetas de emagrecimento sem mudança de hábitos, é comum ocorrer recuperação rápida do peso perdido. Quando o objetivo é apenas estético, a pessoa tende a não investir em alimentação equilibrada e atividade física, o que favorece ciclos repetidos de perda e ganho de peso, associados ao aumento de risco metabólico a longo prazo.

Canetas de emagrecimento podem substituir mudanças de estilo de vida?

As canetas para emagrecer não foram projetadas para substituir hábitos saudáveis. Em diretrizes médicas, esse tipo de medicamento é recomendado como complemento a um plano estruturado de alimentação, exercício físico e acompanhamento psicológico, principalmente em casos de obesidade. Quando o uso é motivado apenas pela busca de um padrão estético, o foco costuma se deslocar da saúde para números na balança, o que pode distorcer a relação com o próprio corpo.

Além disso, ao associar o emagrecimento quase exclusivamente à injeção semanal, há o risco de se criar uma relação de dependência com o fármaco. A pessoa passa a acreditar que apenas com a caneta emagrecedora conseguirá controlar o peso, o que dificulta a adoção de comportamentos sustentáveis. Em contextos estéticos, isso pode ser ainda mais intenso, já que pequenas variações de peso são vistas como problema e motivam uso prolongado ou repetido do medicamento.

Estudos clínicos apontam reduções significativas da hemoglobina glicada (HbA1c) e melhora no controle glicêmico, com potencial adicional de auxiliar na perda de peso em alguns pacientes – depositphotos.com / mariar12
Foto: Giro 10

Quais cuidados devem ser considerados antes de usar canetas emagrecedoras?

Mesmo quando o interesse principal é estético, o uso de medicamentos para emagrecer injetáveis exige avaliação médica criteriosa. Profissionais avaliam histórico de saúde, uso de outros remédios, presença de doenças pré-existentes e fatores familiares de risco, como problemas cardíacos ou pancreáticos. Sem essa triagem, cresce a possibilidade de interação medicamentosa ou agravamento de condições silenciosas.

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Alguns cuidados básicos incluem:

  1. Realizar consulta com profissional habilitado, relatando todas as medicações em uso;
  2. Fazer exames laboratoriais quando recomendados, principalmente glicemia, função hepática e renal;
  3. Seguir rigorosamente a dose prescrita, sem ajustes por conta própria;
  4. Observar sinais como dor abdominal intensa, vômitos persistentes, amarelamento da pele ou dos olhos e buscar atendimento se aparecerem;
  5. Associar qualquer tratamento para emagrecimento a mudanças de alimentação, sono e atividade física.

O debate em torno das canetas emagrecedoras apenas para fins estéticos tende a se intensificar nos próximos anos, à medida que mais estudos de longo prazo forem publicados. Até o momento, há consenso entre entidades de saúde de que esses medicamentos devem ser utilizados com critério, prioridade para casos em que há indicação clínica clara e sempre sob supervisão profissional. Em vez de se limitar à balança, a avaliação de risco-benefício precisa considerar o conjunto da saúde física e mental, bem como a forma como a pessoa se relaciona com seu próprio corpo e com a alimentação.

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