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Música pop tornou-se mais triste nos últimos 50 anos, diz estudo

O que as letras mais simples e melancólicas do pop dizem sobre o nosso tempo - e sobre nós mesmos

26 dez 2025 - 17h09

Há algumas décadas, hits que falavam de amores intensos e celebrações do cotidiano dominavam o topo das paradas. A música pop era, essencialmente, um espaço de alegria, afeto e escapismo. Hoje, o cenário é outro. Um novo estudo sugere que a trilha sonora do sucesso passou a refletir sentimentos bem menos ensolarados.

Estudo mostra que as músicas pop estão mais negativas, repetitivas e introspectivas nos últimos 50 anos; entenda como refletem nas emoções
Estudo mostra que as músicas pop estão mais negativas, repetitivas e introspectivas nos últimos 50 anos; entenda como refletem nas emoções
Foto: Reprodução: Ivan S/Pexels / Bons Fluidos

Menos alegria, mais estresse

Pesquisadores da Universidade de Viena analisaram mais de 20 mil músicas que estiveram no Billboard Hot 100 entre 1973 e 2023. O que encontraram foi uma mudança gradual, porém consistente, no humor das letras: palavras ligadas a ansiedade, solidão e pressão estão mais presentes; o otimismo vem diminuindo; e o tom emocional está mais negativo e introspectivo.

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Além disso, as letras ficaram mais simples e repetitivas. Para medir isso, a equipe usou um método curioso. Quanto mais fácil uma letra era para um algoritmo comprimir, menos variado e sofisticado era o vocabulário.

Um reflexo de mudanças culturais

O fenômeno também aparece no Brasil. Se a MPB já foi marcada por paisagens, encontros e delicadezas emocionais, parte das produções atuais mergulha em conflitos internos, ansiedade e desilusão.

Mesmo assim, os pesquisadores destacam que não estamos diante do "fim" da música feliz. "Nossos achados descrevem padrões estatísticos amplos ao longo de milhares de músicas", afirma o autor Mauricio Martins. "Isso não significa o desaparecimento de músicas alegres, esperançosas ou sofisticadas".

Nem todo momento histórico difícil trouxe mais tristeza às paradas. A interpretação dos autores é que, em períodos traumáticos, o público pode buscar na música um descanso emocional, escolhendo canções que se distanciam da dor coletiva.

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Música como termômetro social

Os dados acompanham outras tendências do nosso tempo: crescimento dos diagnósticos de ansiedade e depressão, mais exposição emocional nas redes e comunicação cada vez mais rápida e pragmática.

Se a música pop de hoje soa mais direta, mais angustiada e menos elaborada, isso pode revelar muito sobre nós mesmos: a pressão constante, a busca por eficiência e a urgência em expressar o que dói.

A música, como sempre, continua sendo um espelho: mais do que um produto de entretenimento, ela traduz o que estamos sentindo - mesmo quando ainda não sabemos colocar em palavras.

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