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A Romênia dos Cárpatos, da Transfagarasan e do famoso Conde

4 mai 2024 - 06h10
Foto: Ümit Yıldırım / Unsplash

Salve, salve!!! Salve-se quem puder.

Esse artigo será ligeiramente diferente no formato. Em 2022, antes de começar uma viagem a trabalho a Galaţi na Romênia, pensei no país e me veio à mente o seguinte (sem olhar no Google, juro):

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• Os Cárpatos, as montanhas

• Aquela estrada maravilhosa mostrada num episódio de Top Gear

• Ikea destruindo as últimas florestas nativas da Europa

• Ceaușescu, o ditador

• Hagi, o craque da bola

• Trem da Vida, o filme

• Drácula e a Transilvânia

• Nadia Comaneci

Agora vamos conferir se minha cachola estava boa mesmo no texto que segue.

A playlist é um Top 50 das músicas mais tocadas na Romênia no momento. Me parece que é atualizada com frequência. Tem Coldplay, o DJ Tiesto, Elton John, Ed Sheeran, Arctic Monkeys e muitos artistas locais.

Aperte o play!!!

Um belo país: simples, digno, honesto e cheio de cultura

Antes de começar, um parêntese: É impressionante a semelhança da cidade de Galaţi com Mariupol na Ucrânia, onde estive várias vezes e escrevi um artigo sobre aqui no Terra. Talvez pela proximidade com a fronteira, pois em apenas 37 minutos de carro chego em Reni, cidade do outro lado do Danúbio, já na ex-república soviética. As construções são muito parecidas, blocos de prédios da era soviética e casas simples, onde pessoas pacatas levam uma vida comum.

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Na saída da usina vi trabalhadores entrando nos ônibus. Olhar cansado, mas com o dever cumprido. Trocaram seu precioso Tempo e habilidades manuais por dinheiro a ser usado para colocar comida na mesa, prover roupas, água, luz, internet, educação e principalmente caráter aos filhos. A vida é simples, digna e honesta. Vivem em paz e querem continuar assim.

Imaginei os tantos funcionários da Azovstal ou da Ilitch que viviam em Mariupol. Se parecem fisicamente com os romenos. Hoje a maioria está certamente morta.

Os ucranianos trocavam seu precioso Tempo e capacidades manuais por valores que eram creditados nas contas-salário. Sacavam o papel colorido pra comprar comida, roupas, água, luz, internet, formação acadêmica e transmitir valores aos seus filhos. Os dias eram simples, dignos e honestos.

Viviam em paz e queriam continuar assim. Infelizmente a estupidez humana escolheu outros planos tanto pra Mariupol quanto pra Ucrânia.

Os Cárpatos, as montanhas

As famosas montanhas “romenas” na verdade se estendem por 1.500 km desde a Rep. Tcheca, passando pela Eslováquia, Polônia, até chegar na Romênia e depois virar colinas na Ucrânia. É a segunda cadeia mais longa da Europa, atrás apenas dos Alpes Escandinavos que eu nem sabia da existência.

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A Transfagarasan, a melhor estrada do mundo

O jornalista Stephen Dobie detalhou num artigo suas experiências na famosa “pista”. Ele disse: “Com o perigo de despencar ladeira abaixo, você está totalmente absorvido no processo de guiar o carro tão no limite quanto você se atrever.”

Me lembrei dela por causa do episódio de Top Gear com Jeremy Clarkson e seus comparsas cujos nomes me falharam a memória, mas logo descobri: James May é o cabeludo engraçado e Richard Hammond o baixinho invocado.

Essa estrada maravilhosa foi feita para levar o carro ao limite, seja o do próprio veículo ou da coragem e habilidade do motorista.

Três conversíveis, um Aston Martin prateado (Jeremy), uma Ferrari rossa (Richard) e uma Lamborghini negra (James) nas mãos de três aficcionados por carros na melhor estrada do planeta. Veja as crianças se divertindo e morra de inveja.

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Ikea destruindo as últimas florestas nativas da Europa

Não me lembro mais onde foi que assisti esse documentário. Me veio à memória as florestas da Romênia, as últimas nativas e não reflorestadas, sendo dizimadas.

Nos últimos dois anos, a sueca Ikea tornou-se o maior proprietário de florestas privadas da Romênia, um país que ainda abriga algumas das últimas florestas originais da Europa que estão desaparecendo num ritmo alarmante.

A empresa de móveis escandinava estaria ilegalmente derrubando árvores centenárias pra fazer portas de armários, pés de mesa e criados mudos, e ganhando rios de dinheiro com isso.

Segundo o documentário “Wood Mafia country: the dark side of Ikea in Romania” e um artigo de 2022 do jornalista Alexander Sammon sobre a corrida dos suecos pela última floresta antiga da Europa, a indústria madeireira na Romênia é conhecida pela corrupção e violência em larga escala. Ambientalistas, guardas florestais e jornalistas já foram atacados e até assassinados por estarem xeretando nos lugares errados.

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Em contraste com a imagem sustentável que a empresa tenta transmitir, a Ikea agora enfrenta acusações de participação na exploração do patrimônio natural da Romênia. Países onde a corrupcao é a regra sao perfeitos para este tipo de prática ilegal.

Quando for comprar seu próximo móvel na Ikea, pense nisso!

Ceaușescu, o ditador

Estamos em 21 de dezembro de 1989. Após uma semana de manifestações do povo contra o comunismo onde milhares foram assassinados a sangue frio, a multidão assiste ao discurso do Presidente Nicolae Ceauşescu em Bucareste sem saber que seria o último.

A cena do moribundo ditador romeno aparecendo na varanda do palácio presidencial para seu último e patético discurso, em meio aos protestos populares, é marcante. Sem querer e perceber Ceaușescu acaba dando sinal verde para o fim do jugo socialista da União Soviética abrindo caminho para a liberdade da Romênia como nação soberana.

Em seguida o povo marcha pra cima da sede do Partido Comunista obrigando o ditador sanguinário que governou o país por 24 anos a parar de falar. Assustado, ele entra para dentro do palácio e a TV corta a transmissão.

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Ele e sua esposa Elena tentam fugir do país de helicóptero, mas são capturados por militares após a deserção em massa das forças armadas.

Após serem julgados e condenados por sabotagem econômica e genocídio, ambos são sentenciados à morte e imediatamente executados dois dias depois.

Hagi, o craque da bola

Ele foi chamado de Maradona romeno. Me lembro daquele golaço na Copa de 1994 contra a Colômbia, acho eu. Bateu de longe, a bola fez uma curva impossível e entrou na gaveta enganando o goleiro.

Jogou no Barcelona e no Real Madrid, mas sem muito sucesso. Antes era estrela do Steaua Bucareste que na época encarava os times grandes europeus sem fazer feio.

O folclórico Casagrande relatou num artigo uma semifinal de Copa da Uefa, atual Liga dos Campeões, quando o Torino, time do Casão, eliminou o poderoso Real onde Hagi jogava.

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Um gênio do futebol.

Nadia Comaneci

Uma das poucas lendas de verdade do esporte mundial. Talento puro, muito treino, disciplina e dedicação para fazer sucesso do dia pra noite após treinar anos e anos.

Béla Bartók

Ao procurar por uma playlist dei de cara com o nome do grande compositor. Achava que era húngaro e lendo sobre ele comprovei que é mesmo. Quando Béla veio ao mundo pelas mãos fortes e hábeis de uma parteira húngara, sua cidade natal se chamava Nagyszentmiklós na região de Banatian, reino da Hungria. Mas agora se chama Sânnicolau Mare, na Romênia.

Num sábado pela manhã embarquei de volta pra casa numa aeronave da Tarom (Transporturile Aeriene Române), a cia aérea estatal do país do Conde mais temido do planeta.

Pra ver e ler

FILME: Trem da Vida / Train de Vie - Radu Mihaileanu (1998)

Esse filme faz qualquer um chorar. Não é tão lúdico quanto “A Vida é Bela”, mas tem uma mensagem de solidariedade e esperança imbatíveis.

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O diretor Radu Mihaileanu transforma um filme que tinha tudo pra ser um pastelão numa obra que fala sobre o Holocausto de maneira leve e inteligente.

Durante a Segunda Guerra Mundial uma pequena comunidade judaica é avisada que os nazistas estão chegando. Surge a ideia maluca de construir um trem de deportação falso e fugir cruzando a fronteira russa até chegar na Palestina.

O disfarce é tão perfeito que alguns judeus se vestem com uniformes alemães e logo começam a se comportar como nazistas mostrando poder e força e isso pode estragar tudo.

LIVRO: Drácula – Bram Stoker (1897)

O autor da famosa história do Drácula, nasceu em Dublin, na Irlanda, e não na Romênia.

Comprei o livro lá mesmo durante um passeio etílico regado a destilado local só pra contar vantagem e guardá-lo numa estante empoeirada para todo sempre. Após algumas mudanças de casa, o pobre exemplar está agora numa caixa escura e ainda seca numa casinha de jardim ouvindo barulhos suaves de aranhas andando por cima da tampa. Nunca li. Provavelmente jamais vou ler.

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A história fascina a Humanidade há anos. No livro, um advogado inglês vai visitar o Conde Drácula nos Cárpatos, na fronteira entre a Transilvânia e a atual Moldávia. Foi prestar serviços jurídicos para um negócio imobiliário.

O advogado logo percebe algo estranho e se sente prisioneiro do anfitrião sem saber ou entender que o Conde é um vampiro. Ele não tem reflexo no espelho, ninguém nunca o vê durante o dia e jamais tem fome.

Uma noite o advogado o vê descendo pelas altas paredes do castelo e desaparecendo na floresta como se fosse um bicho.

E assim começa uma das histórias mais arrepiantes da literatura. Deu até vontade de ler.

(*) Pedro Silva é engenheiro mecânico, PhD em Materiais, vive em Viena na Áustria, está planejando um tour por Bucareste, e escreve semanalmente a newsletter Alea Iacta Est.

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