Mais de 58 milhões de brasileiros vivem em ruas sem arborização, revela IBGE

Pesquisa Urbanística do Entorno dos Domicílios do Censo 2022 destaca desigualdades no acesso a infraestrutura básica nas cidades brasileiras

17 abr 2025 - 09h59
Resumo
Mais de 33% da população urbana brasileira vive em ruas sem arborização, com desigualdades regionais e raciais marcantes. Dados do Censo 2022 mostram desafios em infraestrutura como pavimentação, iluminação pública e acessibilidade.
Árvore bicentenária caiu no Largo do Arouche, região central de São Paulo
Árvore bicentenária caiu no Largo do Arouche, região central de São Paulo
Foto: Felipe Rau/Estadão / Estadão

Mais de 58,7 milhões de brasileiros --o equivalente a 33,7% da população residente em áreas urbanas--vivem em ruas sem qualquer arborização. O dado integra a Pesquisa Urbanística do Entorno dos Domicílios do Censo Demográfico 2022, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nesta quinta-feira, 17.

Outras 114,9 milhões de pessoas (66,0%) vivem em vias com presença de árvores. No entanto, esse retrato não significa uma distribuição uniforme. A pesquisa revela que 35,6 milhões de moradores (20,4%) residem em ruas com até duas árvores, enquanto outros 23,4 milhões (13,5%) estão em vias com três ou quatro. Apenas 32,1% da população urbana (55,8 milhões de pessoas) vive em trechos com cinco ou mais árvores.

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Quando o assunto é densidade de arborização --ou seja, o número de árvores por trecho--, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal lideram, com 59% e 56,4% dos moradores vivendo em vias com cinco ou mais árvores, respectivamente. Já Acre e Amazonas apresentam os percentuais mais baixos nesse quesito: 10,7% e 13,7%.

Os números escancaram não apenas a carência de áreas verdes, mas também o impacto direto na qualidade de vida da população, especialmente nos centros urbanos onde o calor e a poluição se intensificam com a ausência de vegetação. 

Além disso, os dados revelam disparidades marcantes entre os grupos raciais. Enquanto 80% da população que se declara amarela vive em ruas arborizadas, esse percentual cai para 70,6% entre pessoas brancas, 59,4% entre pretas, 58,5% entre indígenas e 57,3% entre pessoas pardas.

Vias pavimentadas e circulação

Outro dado de destaque é a capacidade máxima de circulação nas vias urbanas. A maior parte da população (90,8%) vive em ruas onde é possível a passagem de caminhões ou ônibus, o que demonstra uma boa cobertura da infraestrutura viária para grandes veículos. Em contrapartida, cerca de 5 milhões de pessoas (2,9%) vivem em ruas onde apenas motocicletas, bicicletas ou pedestres podem circular --vias que, em geral, também carecem de outros elementos básicos de urbanização.

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Em relação à pavimentação, 88,5% da população vive em vias pavimentadas. No entanto, 19,5 milhões de brasileiros ainda residem em ruas sem pavimentação adequada. Entre a população indígena, por exemplo, esse índice é ainda mais crítico: apenas 72,2% vivem em ruas pavimentadas, o menor percentual entre os grupos analisados.

Iluminação pública avança, mas ainda há lacunas

A iluminação pública alcançou um percentual elevado: 97,5% dos moradores de áreas urbanas vivem em vias iluminadas. O índice representa um avanço em relação a 2010, quando o número era de 95,2%. Contudo, ainda existem quase 4,5 milhões de pessoas em áreas urbanas vivendo em ruas sem esse serviço essencial para a segurança pública e mobilidade noturna.

A desigualdade novamente aparece no recorte por raça: indígenas (90,4%) e pardos (96,2%) têm os menores índices de cobertura, enquanto a população amarela (98,8%) e branca (98,1%) apresentam os maiores índices de iluminação pública nas áreas em que residem.

Mais calçadas e mais obstáculos

A pesquisa também mostra que 84% da população urbana vive em ruas com calçadas --um aumento expressivo em relação a 2010, quando o índice era de 66,4%. No entanto, o novo indicador do Censo 2022 --que avalia se essas calçadas estão livres de obstáculos-- mostrou que apenas 18,8% dos brasileiros vivem em vias com calçadas desobstruídas.

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A situação é particularmente grave entre pessoas pretas (79,2% têm calçada, mas em muitos casos com obstáculos) e indígenas (apenas 63,7% vivem em ruas com calçada). Em termos de acessibilidade, apenas 15,2% dos moradores de áreas urbanas vivem em ruas com rampas para cadeirantes — embora esse índice tenha aumentado significativamente em comparação com 2010 (3,88%).

Estrutura para transporte público

A presença de pontos de ônibus ou vans nas vias urbanas é de 8,8% entre os moradores que vivem em ruas com esse tipo de estrutura. A carência é ainda maior entre a população indígena (4,8%) e parda (7,1%), o que revela entraves à mobilidade e ao acesso a serviços básicos.

Mesmo em estabelecimentos de ensino e saúde, os números são baixos: apenas 16,6% e 17,7%, respectivamente, estão em vias com ponto de ônibus ou van.

Apesar do crescimento do uso da bicicleta como meio de transporte, o Censo 2022 mostrou que apenas 1,9% dos moradores de áreas urbanas vivem em vias com sinalização para bicicletas. A ausência de ciclovias e ciclofaixas é mais evidente entre pretos (1,4%) e indígenas (1,1%), o que evidencia a falta de incentivo à mobilidade ativa e segura nessas comunidades.

Presença de bueiros

A infraestrutura de drenagem urbana --fundamental para o escoamento de água das chuvas-- está presente em vias onde vivem 53,7% dos brasileiros. Embora o número represente um avanço em relação a 2010 (39,3%), ainda há 80,6 milhões de pessoas vivendo em ruas sem bueiros ou bocas de lobo. Isso representa um risco direto de alagamentos, especialmente nas áreas periféricas das grandes cidades.

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Fonte: Redação Terra
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