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Coelhos-robôs de R$ 21 mil são usados nos EUA para caçar serpentes gigantes que ameaçam biodiversidade

Robôs imitam aparência, cheiro e movimentos de coelhos reais para atrair as pítons; iniciativa tenta proteger a fauna, mas é questionada

22 out 2025 - 04h59
Resumo
Coelhos-robôs estão sendo usados na Flórida para atrair e capturar pítons-birmanesas invasoras, mas especialistas apontam desafios como alto custo e dificuldades logísticas no projeto.
Equipamentos imitam aparência, cheiro e movimentos de coelhos reais para atrair serpentes invasoras
Equipamentos imitam aparência, cheiro e movimentos de coelhos reais para atrair serpentes invasoras
Foto: ROBERT MCCLEERY/UNIVERSITY OF FLORIDA

Coelhos-robôs equipados com sensores de calor e odor estão sendo usados na Flórida, nos Estados Unidos, para ajudar a capturar pítons-birmanesas que ameaçam a fauna dos Everglades – região pantanosa subtropical. Segundo a Associated Press (AP), o projeto faz parte de um esforço do Distrito de Gestão de Águas do Sul da Flórida e da Universidade da Flórida para conter o avanço das serpentes invasoras, responsáveis por dizimar até 95% dos pequenos mamíferos da região.

Os coelhos artificiais se parecem com animais reais – se movem, emitem calor e reproduzem o cheiro característico dos coelhos nativos dos pântanos – e funcionam como iscas para atrair as cobras até áreas monitoradas por câmeras. Quando uma píton se aproxima, o sistema envia um alerta para que equipes especializadas a capturem. Cada unidade custa cerca de US$ 4 mil (cerca de R$ 21,8 mil) e é alimentada por energia solar.

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As pítons-birmanesas, que podem chegar a cinco metros de comprimento, não são nativas da América do Norte. Elas foram introduzidas nos pântanos da Flórida após fugas de cativeiros ou solturas ilegais de animais de estimação. De acordo com o Serviço Geológico dos Estados Unidos, há dezenas de milhares desses répteis nos Everglades --alguns estudos estimam até 300 mil. 

Coelhos-robôs produzem o próprio calor para atrair as pítons
Foto: ROBERT MCCLEERY/UNIVERSITY OF FLORIDA

Para o pesquisador Marcelo Ribeiro Duarte, do Instituto Butantan, a situação ilustra o impacto imprevisível de espécies exóticas no meio ambiente.

“A imprevisibilidade na introdução de espécies exóticas no meio ambiente é a palavra mais acertada para definir quais serão as consequências para a fauna, flora e, em última instância, a população humana”, afirma o especialista.

Segundo Duarte, as pítons são animais crípticos, difíceis de localizar por viverem escondidas em áreas alagadas. Ele explica que a introdução das cobras nos Everglades pode ter ocorrido após o furacão Andrew, nos anos 1990, quando criadouros foram destruídos. “Entretanto, a enormidade de espécies exóticas neste parque nos leva a acreditar que a soltura proposital foi certamente um fator decisivo”, completa.

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As pítons-birmanesas, que podem chegar a cinco metros de comprimento, não são nativas da América do Norte e causam destruição da biodiversidade
Foto: Imagem ilustrativa/ McDonald Wildlife Photography Inc. / Getty Images

O especialista avalia, porém, que o método dos coelhos-robôs pode enfrentar limitações práticas. “Em primeiro lugar pela área imensa a ser coberta pela parafernália, que tem alto custo. Em segundo, pela dificuldade no acesso aos locais inundáveis. Em terceiro lugar, pela rapidez necessária que as pessoas responsáveis pelas coletas terão que ter”, pondera Duarte.

Ele cita ainda um exemplo semelhante no Japão, onde armadilhas com roedores artificiais para capturar serpentes peçonhentas tiveram baixa efetividade. Para o pesquisador, a chamada “busca ativa” --em que equipes percorrem o ambiente para localizar e capturar os animais-- continua sendo o método mais eficaz, embora mais caro e demorado.

Desde 2000, mais de 23 mil pítons já foram removidas da natureza na Flórida. O projeto dos coelhos-robôs, ainda em fase experimental, é visto com otimismo pelas autoridades locais. “Cada píton invasora removida faz a diferença para o meio ambiente da Flórida e sua vida selvagem nativa”, afirmou Ron Bergeron, membro do conselho do Distrito Hídrico, à AP.

Fonte: Futuro Vivo
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