Artesão amazonense Denizal Melo já transformou mais de 30 mil toneladas de lixo eletrônico em arte, impactando milhares de estudantes com projetos de educação sustentável, mas busca maior valorização local.
O mundo atingiu a marca de 62 milhões de toneladas de resíduos eletrônicos produzidos em 2022, segundo relatório divulgado pela Organização das Nações Unidas (ONU). Desse total, apenas 3% foi descartado corretamente. O dado é recente, mas o tema já causava preocupação ao amazonense Denizal Melo, de 53 anos, há dez anos.
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Em 2012, quando fazia um curso de técnico em eletrônica, Denizal se incomodou com a quantidade de lixo eletrônico que ele mesmo produzia. “Eu percebi que não tinha um descarte. Onde eu ia deixar aquele material?”, questionou à época. A resposta veio na arte.
O artesão passou a usar as peças de eletrônicos que não prestavam mais para criar obras de arte únicas. A primeira foi uma moto feita do lixo. E, de lá para cá, já foram mais de 30 toneladas de lixo eletrônico transformadas.
“Foram mais de 3 mil peças produzidas. Todas por encomenda”, conta. Os valores das peças decorativas variam de acordo com o grau de dificuldade, podendo ir de R$ 30 a R$ 800.
“No começo do mês, foi para a França, um pedido de um músico. Eles queriam uma peça feita de resíduo. Ele era baterista, então ele tinha bateria de tudo o que era tipo de arte. Quando ele viu o meu trabalho, deu-me aquele desafio. Consegui fazer e a menina levou para ele, que adorou. É assim que funciona”, explica Denizal, que vê cada peça como um desafio novo.
Apesar da repercussão de seu trabalho no mundo, ele confessa que sente falta de mais reconhecimento em seu Estado, o Amazonas. "Eu queria estar realizando mais atividades aqui. Que as pessoas vissem de outra maneira."
“Quando a gente trabalha com reciclagem aqui, é meio complicado a gente sair ou ser visto de uma outra forma. Nessas oportunidades que eu tive para fora, graças a Deus eu vendia tudo. Não ficava com nada, não trazia nada. E eu ficava tão feliz porque era valorizado. Eu sou valorizado lá fora, mas aqui não”, desbafa.
Arte eletrônica e educação
Além das produções sob encomenda, uma parte importante do trabalho de Denizal está voltado à educação. Ele atua como professor de robótica sustentável, por meio de projetos parceiros de escolas das redes municipais e estadual do Amazonas.
“Apenas no projeto Guardiões da Amazônia, já foram mais de dois mil alunos com quem trabalhei. Nós estamos em 12 escolas, faltam oito, então deve chegar a atingir uns cinco mil alunos”, estima Denizal.
O trabalho com as escolas começou após Denizal ganhar alguns prêmios pelo País enquanto artesão. Em 2019, ele concorreu com 1,5 mil inscritos e ficou em quarto lugar na Feira Nacional de Negócios de Artesanato (Fenearte), com uma moto em miniatura produzida com celulares e outros resíduos eletrônicos.
“Logo após a pandemia, eu fui para o Encontro Mundial de Tecnologia, que foi o Rio Innovation Week, em 2022. Só eram cinco artistas do Brasil", relembra.
Após essa participação, ele abraçou as ideias de levar a arte eletrônica para as escolas. “As crianças assimilam mais rápido. E é importante fazer a coleta seletiva já desde o início, porque a gente não tem esse hábito no Amazonas. Em Manaus é meio complicado, porque a gente não tem uma coleta levada a sério.”
Mais recentemente, junto com a esposa, Denizal começou a investir em uma outra frente, na produção das chamadas EcoJóias Eletrônicas, que são brincos, colares e anéis feitos a partir de resíduos eletrônicos.
Impacto social e ambiental
A Vivo, por meio do programa 'Vivo Recicle', incentiva a reciclagem de celulares, cabos, teclados e outros itens eletrônicos. É só levar esses materiais até os pontos de coleta disponíveis nas lojas da operadora em todo o país e não precisa ser cliente Vivo para participar.
Implantado em 2006, o 'Vivo Recicle' já recolheu mais de 5,2 milhões de itens de lixo eletrônico. Apenas nos últimos oito anos, mais de 10 milhões de modems/decoders foram reutilizados/recondicionados e 7,5 milhões de equipamentos sem condição de reuso foram reciclados.