Para garantir um espaço na zona mais privilegiada da Conferência das Partes, em Belém, as delegações precisaram investir uma alta quantia. Isso porque, além de serem bastante disputados, os pavilhões funcionam como um lugar para painéis, reuniões e, até mesmo, negociações climáticas.
Receba as principais notícias direto no WhatsApp! Inscreva-se no canal do Terra
Os pavilhões dos países presentes na COP30 estão localizados na Blue Zone, um espaço restrito administrado pela Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC). Apenas países membros da UNFCCC e organizações admitidas como observadoras podem se aplicar para uma reserva.
A área corresponde a cerca de 160 mil m² do Parque da Cidade. A UNFCCC disponibiliza três tipos de pacotes modulares para as delegações:
- bronze package,
- silver package
- e gold package.
Em uma caminhada rápida pela conferência, é possível ver que países com mais recursos financeiros investiram pesado em seus pavilhões. O Japão, por exemplo, oferece uma experiência virtual e imersiva pelo seu espaço de alta tecnologia, bem como o estande da Arábia Saudita.
Como foi o processo de reserva?
O governo brasileiro lançou um edital em junho deste ano para convidar as delegações a reservarem seu espaço na Blue Zone. "Todos os escritórios e pavilhões vão prover para as delegações a estrutura necessária para que desenvolvam seus trabalhos e apresentem a agenda de seus países durante a Conferência", afirmou o secretário extraordinário para a COP30, Valter Correia, na época.
Mas nem todas as delegações podem contar com a mesma estrutura. Diversos países contam com apenas itens básicos em seus pavilhões, como mesas, cadeiras, uma televisão e uma sinalização simples com sua identificação. Em razão do alto preço para se ter um pavilhão, delegações de países subdesenvolvidos não conseguem arcar com os custos de um espaço tão caro.
Sem energia
Logo no início do primeiro dia de COP30 na segunda-feira, 10, o pavilhão da Papua Nova Guiné permaneceu sem energia o dia inteiro. Ao Terra, uma fonte informou que a organização da Conferência das Partes não informou o motivo pelo qual o espaço estava sem energia elétrica e também não deu um prazo para que a energia fosse restabelecida.
“Tudo muito bagunçado e não nos explicaram porque nosso pavilhão está sem energia. Tem outros ao nosso redor que estão funcionando, é muito frustrante”, desabafou.
O preço total dos pavilhões da COP30 não foi revelado por fontes oficiais. No entanto, essas reservas funcionam como um “aluguel” do governo brasileiro para outras delegações. A reportagem do Terra apurou que os custos se assemelham aos da Green Zone e aos das COPs passadas.
Valores em outras COPs
Na COP28, que ocorreu em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, um pavilhão de 65m² custava em torno de US$ 74.750 (cerca de R$ 426.075), enquanto por um espaço de 150m² as delegações precisavam pagar até US$ 211.500 (R$ 1.205.550). Na COP29, em Baku, no Azerbaijão, um pavilhão customizado de até 50m² custava US$ 1.250 por m² + VAT (18%) incluso, ou seja, aproximadamente R$ 420 mil.
Os preços dos pavilhões incluem o aluguel do espaço em que a delegação marcará presença durante os dias da conferência, mas não inclui elementos adicionais como catering e serviços de limpeza. Estes recursos customizados podem ser adquiridos por mais um montante de dinheiro.
De acordo com a organização da Conferência das Partes, cada pacote inclui serviços básicos como piso, iluminação, mobiliário e fornecimento de eletricidade. Também é possível contratar serviços adicionais, como equipamentos audiovisuais, buffet, limpeza e suporte logístico.
Para a COP30, os preços estipulados para a Green Zone, área gratuita para a população em geral e que não necessita de credenciamento, partem dos US$ 1.250 (cerca de R$ 7.125) por m² no aluguel mais básico. Na Green Zone, os espaços podem ser reservados por órgãos públicos e empresas privadas.
Problemas no primeiro dia
O primeiro dia da COP30 foi marcado por contratempos. A abertura oficial da conferência do clima sofreu com fortes chuvas na cidade e com problemas logísticos na Blue Zone. Do lado de fora do evento, a chuva forte se tornou outro grande desafio.
No trajeto de ônibus que liga a Blue Zone à Green Zone, era visível o impacto das precipitações: ruas nos arredores estavam tomadas pela água, e os pontos de alagamento dificultavam a circulação de veículos e pedestres, expondo os desafios urbanos da capital paraense em meio à conferência.
No trajeto entre as duas zonas, a demora para chegar ao destino foi tanta que alguns painelistas que tinham horário marcado para sua participação se desesperaram. Em meio à forte chuva e ao trânsito intenso, desceram do ônibus ainda com a água na altura dos tornozelos para tentar seguir a pé até a Zona Verde.
*Essa reportagem foi produzida como parte da Climate Change Media Partnership 2025, uma bolsa de jornalismo organizada pela Earth Journalism Network, da Internews, e pelo Stanley Center for Peace and Security.