Os elevados preços de hospedagem em Belém, cidade que sediará a conferência do clima da ONU em 2025, são motivo de preocupação e podem afetar a presença de delegações internacionais. Para André Corrêa do Lago, presidente da COP30, a ausência de alguns países colocaria em risco a legitimidade das negociações climáticas.
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“Se nós não tivermos todas as delegações em Belém, você pode ter um questionamento sobre a legitimidade do que nós negociamos. Alguns países podem não ter condições de participar por causa do preço, e isso não deve ser possível. Temos que resolver isso de alguma maneira”, declarou Corrêa do Lago em participação remota em evento do Insper para o lançamento do programa Cidade +2°C, uma iniciativa dedicada a promover soluções concretas para adaptação urbana diante das mudanças climáticas, nesta terça-feira, 5.
Embora a logística e a infraestrutura da COP sejam coordenadas diretamente pela Casa Civil do governo federal, Corrêa do Lago reconheceu que o tema também recai sobre sua alçada, já que afetam diretamente a dinâmica e o equilíbrio das negociações diplomáticas. “Meu interesse, obviamente, é impedir que os preços dos hotéis interfiram na presença de todas as delegações em Belém.”
André Corrêa do Lago reconheceu, no entanto, que lidar com essa questão envolve entraves legais no Brasil. “É uma questão difícil de tratar pela legislação brasileira. Mas estamos fazendo o possível para que isso não afete a conferência”, pontuou.
Críticas ao modelo de negociação das COPs
Além da preocupação com os custos, ele também respondeu a críticas sobre a eficácia do modelo atual das conferências climáticas da ONU, que reúnem quase 200 países com diferentes níveis de responsabilidade histórica nas emissões de gases de efeito estufa.
O diplomata comentou a avaliação do professor José Eli da Veiga, que considera o atual formato das COPs desgastado e pouco funcional. Para o acadêmico, seria mais efetivo reunir apenas os países responsáveis pelas maiores empresas emissoras de CO2 no mundo.
“Eu tendo a concordar com ele. Juntar mais de 190 países e conseguir consenso é uma loucura, porque é muito difícil. Cada país está defendendo seu direito ao desenvolvimento, e isso transforma o debate climático em uma discussão econômica e social”, reconheceu o presidente da COP30, que participa das negociações climáticas desde 2002.
Ele destacou que, diante da urgência climática, “a ação não precisa de consenso”, e defendeu que a agenda de ação da COP30 --composta por iniciativas paralelas às negociações diplomáticas-- ganhe protagonismo. “Se já foi acordado que precisamos nos afastar dos combustíveis fósseis, vamos mostrar exemplos e buscar recursos humanos e tecnológicos para ampliar essas soluções. A ação pode ser feita por quem já está convencido.”
Corrêa do Lago ainda comentou a responsabilidade das grandes corporações nas emissões globais e sinalizou que a COP30 também deve mirar nesse público. “O presidente Lula já mencionou que cerca de 70 empresas são responsáveis por 80% das emissões do mundo. Precisamos trabalhar com elas também. Por isso, teremos reuniões com as maiores empresas do mundo para discutir compromissos e soluções que elas podem oferecer.”
Belém no centro do debate climático
A COP30 acontecerá em novembro de 2025 e será a primeira conferência climática da ONU na Amazônia. A expectativa é de que mais de 40 mil pessoas participem do evento. O alto custo da rede hoteleira de Belém já vem sendo criticado por delegações estrangeiras e ONGs, o que tem gerado pressão para que o governo brasileiro busque soluções de hospedagem acessível e evite exclusão de países menos desenvolvidos.