Ao chegar na Cúpula dos Líderes, o clima é de protesto. Indígenas da Aliança dos Povos pelo Clima se reuniram na porta do espaço onde acontece o evento com líderes globais, questionando justamente o fato de terem ficado para "o lado de fora" da COP30. "Nós não somos só para estar em outdoor, a gente existe", indagou Walter Kumaruara, de Pedra Branca no Baixo Tapajós, do município de Santarém (PA).
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"A gente está na Amazônia, um grande evento vai acontecer na Amazônia, mas os povos indígenas vão estar do lado de fora. E a gente está mesmo do lado de fora, mostrando que nós estamos aqui", disse Walter à reportagem, explicando que a maior parte dos indígenas não conseguiu se credenciar para o evento, onde acontecem as negociações climáticas globais.
Dezenas de pessoas estavam concentradas em frente local, o Hangar, onde também indígenas faziam falas de protesto e entoavam cânticos tradicionais. Entre as coisas que esperam para a COP é a discussão direta e efetiva sobre a redução dos combustíveis fósseis.
"Os países precisam se atentar para isso, de que são os maiores causadores dessa crise climática. E quem sofre com tudo isso é a gente lá na ponta. Só que hoje [nos eventos oficiais da COP30] estão tratando de cuidar da floresta. De como é que vão resolver o problema. Mas se não colocarem a gente no centro desses debates, não vai andar. Os tomadores de decisões precisam sair do ar-condicionado e vir para cá, para a rua, que é onde a gente está, para acertar tudo direitinho", evidenciou a liderança.
Pensando nisso, reivindicam financiamento direto para quem cuida da floresta como forma de auxílio a quem faz monitoramento territorial e para apoiar as demarcações e as auto-demarcações de terras -- "seja indígena, seja quilombola, seja toda essa diversidade que tem dentro dos territórios."
COP30 e Cúpula do Clima
Belém deixou de ser apenas a capital do Pará e passou, temporariamente, a ser a capital do Brasil para receber a COP30, a 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima. É a a primeira vez que o evento acontece no Brasil.
As programações da COP, em si, terão inicio na próxima segunda-feira, dia 10. No entanto, diversas programações esquentam o período de negociações climáticas. Nesta quinta-feira, por exemplo, teve início a Cúpula do Clima, onde os lideres mundiais se encontram para articularem sobre os principais desafios e compromissos no enfrentamento à crise climática.
Ao longo do dia, os chefes de delegação farão seus discursos formais sobre o clima. O primeiro a falar é o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Depois está prevista a fala de um representante das Nações Unidas, da Organização Meteorológica Mundial, de representantes da sociedade civil e depois tem inicio os chefes das nações em ordem alfabética.
A previsão é que os discursos sigam até 18 horas. O restante dos países irão se pronunciar amanhã, sexta-feira, na continuação do evento.
Lula está em Belém desde o dia 1° de novembro participando de encontros com líderes, inaugurando obras de infraestrutura e indo a encontro com comunidades locais. O presidente seguirá na capital até o dia 7, conforme divulgado em sua agenda, quando tem fim a Cúpula do Clima.
Temas das discussões
Os combustíveis fosseis seguem sendo o 'elefante na sala', e deve ser o tópico central da discussão -- como já apontaram especialistas, como Thelma Krug que afirmou que Brasil não fará feio na COP, mas alerta: 'não é sobre floresta, é sobre combustíveis fósseis'.
As maior parte das emissões globais sao devido a queima de combustíveis fosseis -- com ênfase no setor da energia. Estão entre os países que mais emitem China, Estados Unidos, União Europeia, Índia e Rússia.
No caso do Brasil, o cenário é diferente. O país emite gases de efeito estufa principalmente por mudanças do uso do solo --- o que inclui queimadas, desmatamento e atividades agropecuárias. A cidade que mais emite, por exemplo, é São Félix do Xingu, onde há cerca de 40 cabeças de gado por habitante. Pelos mesmos motivos, a segunda que mais emite é a de Walter, entrevistado na matéria: Altamira.
*A repórter viajou com apoio da ClimaInfo