'Travamos uma batalha diária': iranianas enfrentam regime e abandonam aos poucos o véu islâmico

A lei iraniana que obriga o uso do véu islâmico continua em vigor, mas cresce o número de mulheres que desafiam o regime e saem às ruas sem o acessório, mesmo correndo o risco de sanções.

11 dez 2025 - 17h27

"Quando olho fotos antigas minhas, usando o hijab [o véu islâmico], acho isso bastante estranho, não me reconheço mais", afirma uma iraniana que aceitou dar seu depoimento de forma anônima. Ela vive, na maior parte do tempo, sem véu: na rua, em cafés ou restaurantes. "No começo, isso dizia respeito principalmente às jovens. E agora, cada vez mais mulheres, menos jovens [abandonam o acessório]", afirma.

A iraniana observa que a tendência se intensificou desde 2022, ano em que surgiu o movimento "Mulher, Vida, Liberdade", criado após a contestada prisão da jovem Mahsa Amini, acusada de usar o véu de forma inadequada e morta durante a detenção.

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Ela explica, no entanto, que sair sem véu não significa que as iranianas perderam o medo do regime. "Não me sinto segura e acho que nenhuma mulher se sente segura se não estiver usando hijab [no Irã]", diz. "Porque, por enquanto, não há nenhuma regra à qual recorrer. Você não sabe se está infringindo algo, não sabe se alguém vai se sentir autorizado a atacá-la ou a prendê-la", explica.

Ela ressalta que em alguns locais do Irã, como repartições públicas, ainda é impossível para uma mulher entrar sem cobrir a cabeça. "É uma oposição cotidiana que manifestamos", diz a iraniana que aceitou dar seu testemunho. "Travamos uma batalha diária".

Lei não mudou

Se essa iraniana relata um contexto incerto, é porque a lei não mudou, apenas a prática. A repressão já não recai sempre de forma brutal e imediata sobre as mulheres que recusam o véu obrigatório.

No ano passado, o Parlamento aprovou uma lei que endurece as penas contra mulheres sem véu ou com o acessório mal colocado, mas o governo atual se recusa a promulgá-la. O presidente iraniano Pezeshkian declarou que não se pode obrigar uma mulher a se cobrir. Há poucos dias, a maioria dos deputados também criticou o Judiciário, acusando-o de ser complacente ao deixar de impor o uso do véu.

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"O véu não é apenas um tecido, é uma ideologia imposta às mulheres desde o início da República Islâmica [em 1979]", lembra Azadeh Khian, professora emérita de sociologia da Universidade Paris Cité. Segundo a especialista em Irã, os ultraconservadores do regime e o guia supremo, aiatolá Ali Khamenei, querem que o uso do véu seja respeitado "a todo custo". Mas, segundo a socióloga, "as pesquisas realizadas pelo próprio governo indicam que 80% das iranianas são a favor da liberdade de escolha".

"O poder sabe muito bem que um retrocesso sobre o véu significaria mais tensões na sociedade, num momento em que a população já está muito revoltada contra o regime devido a uma crise econômica sem precedentes", analisa Azadeh Khian. De acordo com ela, "a situação vai piorar com as sanções internacionais recentemente restabelecidas", obrigando o guia supremo iraniano a navegar entre pragmatismo e as exigências dos ultraconservadores.

Porém, o espaço de liberdade conquistado pelas mulheres iranianas não significa que a pressão tenha diminuído sobre toda a sociedade. A repressão contra qualquer voz considerada crítica continua constante, e as execuções atingiram um nível histórico, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos.

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