França pretende reagir a represálias de Israel a reconhecimento do Estado da Palestina

O reconhecimento de um Estado palestino pelo presidente francês, Emmanuel Macron, deve afetar as relações já tensas entre a França e Israel, antecipam analistas. Logo após o anúncio oficial da decisão, previsto para ocorrer na Assembleia Geral da ONU, na segunda-feira (22), Tel Aviv deve reagir, e Paris pretende responder às represálias de Israel.

20 set 2025 - 10h31

O reconhecimento de um Estado palestino pelo presidente francês, Emmanuel Macron, deve afetar as relações já tensas entre a França e Israel, antecipam analistas. Logo após o anúncio oficial da decisão, previsto para ocorrer na Assembleia Geral da ONU, na segunda-feira (22), Tel Aviv deve reagir, e Paris pretende responder às represálias de Israel.

Trocas de farpas entre Emmanuel Macron e Benjamin Netanyahu só começou, avaliam especialistas.
Trocas de farpas entre Emmanuel Macron e Benjamin Netanyahu só começou, avaliam especialistas.
Foto: © DS / RFI

Mesmo antes de o reconhecimento ser oficializado, as autoridades israelenses já mencionam prováveis medidas de vingança. A principal é a anexação total da Cisjordânia. Na sexta-feira, o Palácio do Eliseu alertou que a ocupação constituiria "uma clara linha vermelha" no conflito.

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Israel não mediu palavras quando Macron informou a intenção de reconhecer um Estado palestino, em julho. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, acusou o líder francês de "alimentar o fogo antissemita" e "fazer o jogo do Hamas", autor do ataque de 7 de outubro de 2023 contra o território israelense, que desencadeou a guerra em Gaza.

Emmanuel Macron manifestou indignação com o que considerou uma ofensa a "toda" a França e defendeu sua iniciativa diplomática que, em sua avaliação, representa uma "mão estendida" a Israel para uma "paz duradoura".

Em Tel Aviv, a mensagem foi recebida como uma afronta. Israel poderia fechar o consulado francês em Jerusalém ou reduzir a cooperação militar e de defesa com Paris. Essas medidas significativas não chegariiam, no entanto, a uma ruptura diplomática, segundo diplomatas franceses e israelenses entrevistados pela AFP.

Trocas de farpas em público

Mesmo assim, "muito barulho" é esperado, confidenciou um deles, prevendo discussões verbais públicas entre lideranças dos dois países. Emmanuel Macron é considerado persona non grata em Israel até segunda ordem, embora tenha "se oferecido para ir até lá" antes do reconhecimento oficial da Palestina, para explicar sua decisão. Uma fonte próxima ao presidente garante que ele mantém contato com Benjamin Netanyahu, com quem conversou no domingo passado (14).

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Paris permanece discreta sobre as represálias planejadas, mas promete uma resposta forte, baseada no princípio da reciprocidade. Denis Bauchard, ex-embaixador e pesquisador do Instituto Francês de Relações Internacionais (IFRI), menciona, por exemplo, medidas relativas a vistos diplomáticos. Segundo ele, a embaixada israelense na França está "superlotada", com "um número enorme de pessoas portadoras de passaportes diplomáticos, embora sua atividade esteja claramente mais voltada para os serviços de inteligência".

A diplomacia francesa garantiu que "jamais comprometerá" a "segurança das embaixadas estrangeiras" e refutou qualquer tentativa de reduzir a proteção concedida ao embaixador israelense em Paris.

Qual o impacto para os palestinos? 

Observadores estão particularmente preocupados com as repercussões práticas para os palestinos. "Os israelenses estão preparados para tudo, e a resposta francesa corre o risco de ser bastante limitada", acredita Agnès Levallois, pesquisadora especialista em Oriente Médio. Segundo ela, o fechamento do consulado francês em Jerusalém seria "catastrófico", por ser um ponto-chave de contato com os palestinos. Com a potencial anexação da Cisjordânia, "em última análise, são os palestinos que mais têm a perder nesta crise", opina.

Israel planeja expandir seus assentamentos no território, que ocupa desde 1967. Em agosto, o governo israelense aprovou a construção de novas moradias no local, um projeto considerado uma ameaça à viabilidade de um futuro Estado palestino.

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"É injusto e irresponsável", protestou Emmanuel Macron em entrevista na quinta-feira ao Canal 12 de Israel. Ele disse que vê o plano como uma prova de que o "projeto político" das autoridades israelenses "não é desmantelar o Hamas, mas eliminar a possibilidade de dois Estados".

"Desde o início, deixamos claro que o reconhecimento de um Estado palestino pela França, sem quaisquer condições, complicaria a situação no terreno, em vez de promover a paz", disse à AFP Joshua Zarka, embaixador de Israel em Paris.

"Se o presidente Macron tivesse imposto algumas condições — reconhecimento após a libertação dos reféns e a desmilitarização do Hamas —, a dinâmica teria sido diferente", complementou ele.

Para Gérard Araud, ex-embaixador francês em Israel e nos Estados Unidos, as relações franco-israelenses "estão permanentemente prejudicadas" porque, além da difícil relação Macron-Netanyahu, a França não é popular entre a população israelense. Por muito tempo, "foi considerada antissemita, inimiga do Estado de Israel e amiga dos palestinos", enfatiza.

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Na impossibilidade de uma relação pacífica no horizonte, "meu objetivo será acalmar as coisas o mais rápido possível", promete o embaixador Joshua Zarka.

Informações da AFP

A RFI é uma rádio francesa e agência de notícias que transmite para o mundo todo em francês e em outros 15 idiomas.
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