Família diz que brasileira presa no Camboja está em cela com 90 pessoas e toma banho de caneca

Daniela Marys deve passar por julgamento nesta quarta-feira, 22; família tenta provar inocência

21 out 2025 - 04h59
Saiba quem é a brasileira que está há sete meses detida em prisão superlotada no Camboja
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A arquiteta Daniela Marys Costa Oliveira, de 35 anos, sempre gostou de viajar. Morou fora do Brasil mais de uma vez e decidiu viver uma nova experiência no começo deste ano. O que ela não sabia é que sua vida viraria de cabeça para baixo e acabaria presa no Camboja, do outro lado do mundo. A família acredita que ela foi vítima de tráfico humano. 

A proposta de trabalhar com telemarketing no país da Ásia foi recebida pela arquiteta em meados de janeiro via Telegram, segundo a irmã Lorena contou ao Terra. Nessa época, ela, que já havia residido nos Estados Unidos e nos Emirados Árabes, estava morando com a mãe em João Pessoa, na Paraíba. 

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"Ela estava começando no ramo imobiliário, só que ele exige que você tenha um capital, um dinheiro", explica a irmã. O novo emprego seria temporário, de seis meses a um ano, justamente para levantar um dinheiro. "Infelizmente, ela acreditou na falsa promessa deles e de que poderia ser um crescimento para ela, para se restabelecer financeiramente para voltar para o Brasil”, aponta. 

Sociável, alegre e fluente em inglês, ela topou o novo desafio. Ela chegou ao Camboja em 30 de janeiro e foi levada para um complexo, a 10 horas de distância da capital do país. O local tem vários andares, em um local descampado e ermo. Ali ela passou a ser mantida em cárcere privado, segundo Lorena. 

“Ela não tem contato com a rua desde de 30 de janeiro. Não pôde sair desse completo, retiveram o passaporte dela, e ela viu que tinha alguma coisa errada. Pessoas a vigiando o tempo todo”, explica. 

Daniela Marys de Oliveira está presa no Camboja
Daniela Marys de Oliveira está presa no Camboja
Foto: Reprodução/Daniela Marys/Facebook

Daniela passou o mês todo de fevereiro naquele local sem fazer nada, já que as pessoas que mantinham o local estavam recrutando mais vítimas. Em março, quando começaram o treinamento, a brasileira soube que havia sido levada para o país para aplicar golpes pela internet. Ela se negou e sua situação passou a se complicar. 

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No dia 26 de março, ela acabou presa por policiais dentro do complexo. Eles a acusaram de estar em posse de três pílulas, conforme a família. Os pertences dela, como celular, notebook, roupas e passaporte, ficaram todos com os criminosos que a mantiveram naquele local por quase dois meses. 

Mais um golpe e prisão 

Daniela foi levada para a Prisão Provincial de Banteay Meanchey, local com superlotação e registros de morte em março deste ano. Inclusive, em setembro, ela contraiu uma infecção na penitenciária e precisou de atendimento médico em um hospital. 

Como se não bastasse toda a situação, os criminosos que a levaram para o Camboja também aplicaram um golpe na família da brasileira. Segundo Lorena, eles se passaram por ela usando o WhatsApp da arquiteta. 

“Começaram a mandar mensagem, que se não fosse pago um determinado valor, iriam vendê-la, prendê-la. E aí começou esse tormento no dia 27 e 28 de março. Foram 48 horas disso. Eles nos extorquiram em R$ 27 mil. A gente começou a perceber que não era ela, porque a gente fazia perguntas e ela não respondiam. Começou a me chamar de ‘mana’ e ela nunca me chamou assim”, esclarece. 

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Família acredita que Daniela Marys foi vítima de tráfico humano
Foto: Arquivo pessoal

A família pegou dinheiro emprestado para pagar a quantia pedida, na esperança da brasileira voltar para a casa em segurança. Os familiares só tiveram a confirmação de que se tratava de um golpe quando ela conseguiu ligar de dentro da prisão, no dia 29 de março, relatando que armaram uma emboscada. 

“Ela pediu para fazer exame toxicológico e eles negaram. Ela queria provar que não estava usando droga e que aquilo não era dela. A única coisa que ela queria era voltar para a casa. Não condiz com ela ficar aplicando golpe nas pessoas, senão, ela estaria lá até agora”, defendeu a irmã. 

Lorena relata que a arquiteta está em uma cela com quase 90 pessoas e que o local é “insalubre”. Há sete meses, o banho de Daniela é feito com três canecas de água e faz suas necessidades em uma fossa no meio da cela. 

Pedido de ajuda

A família conseguiu um advogado para defender a mulher por meio da ONG Um Grito Pela Vida, e ele já conseguiu provar que a arquiteta não estava traficando as pílulas. Agora, o objetivo é provar que ela não é usuária e é inocente. O julgamento ocorrerá na próxima quarta-feira, 22. 

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Lorena conta que eles tentam com o Itamaraty que seja fornecido um tradutor, pois Daniela não fala khmer e os cambojanos não falam inglês. A família também abriu uma vaquinha para custear o advogado e trazê-la de volta ao Brasil.

Família acredita que Daniela Marys foi vítima de tráfico humano
Foto: Arquivo pessoal

“É uma aflição. A minha mãe declinou emocionalmente. Ela chegou num nível de dor que eu não consigo explicar. Não tem sido fácil, porque são sete meses de uma luta, é um sentimento de impotência, porque a gente tenta fazer tudo e infelizmente o Governo não está dando resposta. É uma angústia porque você não sabe como é que ela está, o estado dela, como é que vai ser esse processo de julgamento, se vai ser justo ou não. É uma aflição, a gente só quer que esse pesadelo acabe e ela volte”, desabafa.

Caso seja julgada culpada, ela pode pegar até 2 anos de prisão. Existe a possibilidade da arquiteta ser extraditada para o Brasil assim que o julgamento acabar, mas tudo ainda é meio incerto, conforme menciona Lorena. 

“Eu torço para que eles consigam acelerar esse processo porque ela pode pegar uma pena de até 2 anos por um crime que ela não fez. E dois anos naquele estado, eu não sei o tanto que ela aguenta. Ela está muito preocupada, muito angustiada, muito sofrida, porque como ela não recebeu apoio de ninguém do Governo, está aflita. Estamos pedindo por justiça, para o Itamaraty fazer a extradição dela”, finaliza. 

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Itamaraty

Questionado sobre o caso, o Ministério das Relações Exteriores, por intermédio da Embaixada do Brasil em Bangkok, informou que tem conhecimento do caso citado e que vem realizando gestões junto ao governo cambojano, prestando a assistência consular à brasileira, em conformidade com o Protocolo Operativo Padrão de Atendimento às Vítimas Brasileiras do Tráfico Internacional de Pessoas.

No entanto, a pasta esclareceu que não pode não divulgar informações pessoais de cidadãos que requisitam serviços consulares e tampouco fornece detalhes sobre a assistência prestada a brasileiros.

“O Ministério participa ativamente do IV Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, no âmbito do qual foram elaborados materiais informativos, como a cartilha ‘Orientações para o Trabalho no Exterior’. Além disso, emitiu alertas consulares e notas à imprensa sobre o aliciamento de pessoas para o Sudeste Asiático, buscando aumentar a conscientização sobre o tema”, finalizou. 

Fonte: Portal Terra
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