Ultradireita polonesa leva multidões às ruas contra imigração e desafia pacto europeu obrigatório de asilo

Milhares de poloneses atenderam ao chamado neste sábado (11) do partido nacionalista Lei e Justiça (PiS) e protestaram em Varsóvia contra a imigração e o pacto europeu de realocação. O ato teve apoio do presidente Karol Nawrocki, adversário do primeiro-ministro Donald Tusk, liberal e pró-União Europeia. A manifestação expôs o racha institucional no país e reacendeu o debate sobre o papel da Polônia na crise migratória do continente.

11 out 2025 - 12h57

Milhares de poloneses atenderam ao chamado neste sábado (11) do partido nacionalista Lei e Justiça (PiS) e protestaram em Varsóvia contra a imigração e o pacto europeu de realocação. O ato teve apoio do presidente Karol Nawrocki, adversário do primeiro-ministro Donald Tusk, liberal e pró-União Europeia. A manifestação expôs o racha institucional no país e reacendeu o debate sobre o papel da Polônia na crise migratória do continente.

Manifestantes seguram bandeiras nacionais da Polônia durante um protesto antimigração convocado pelo partido nacionalista Lei e Justiça, na Praça do Castelo Real, em Varsóvia, em 11 de outubro de 2025.
Manifestantes seguram bandeiras nacionais da Polônia durante um protesto antimigração convocado pelo partido nacionalista Lei e Justiça, na Praça do Castelo Real, em Varsóvia, em 11 de outubro de 2025.
Foto: AFP - WOJTEK RADWANSKI / RFI

Milhares de pessoas foram às ruas de Varsóvia neste sábado (11) para protestar contra a "imigração ilegal" e contra a política migratória da União Europeia. A manifestação foi convocada pelo partido de oposição nacionalista Lei e Justiça (PiS), que tem o apoio do presidente Karol Nawrocki.

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O protesto começou às 14h (9h de Brasília), na Praça do Castelo, no centro histórico da capital polonesa, sob chuva persistente. Muitos manifestantes vieram de outras regiões do país em ônibus fretados, carregando bandeiras azuis e brancas ou com o símbolo da águia branca, emblema nacional da Polônia.

"Vejo o que está acontecendo no Ocidente. Tenho dois filhos na Alemanha e percebo o perigo que isso representa para a identidade alemã. Os alemães já se sentem minoria no próprio país", disse Wieslawa Najdek, aposentada de 64 anos, à AFPTV.

Pesquisas de opinião indicam que a maioria dos poloneses defende o endurecimento das políticas migratórias e demonstra crescente rejeição aos refugiados ucranianos — mesmo entre eleitores da coalizão governista pró-União Europeia, liderada pelo primeiro-ministro Donald Tusk.

A Polônia vive atualmente uma situação de coabitação política: o presidente Nawrocki, eleito no último verão do hemisfério norte, derrotou o prefeito de Varsóvia, Rafal Trzaskowski, candidato da coalizão centrista. Desde então, o presidente e o governo divergem em temas como política externa, apoio à Ucrânia e reformas institucionais — estas últimas criticadas por Bruxelas como contrárias aos princípios democráticos.

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No centro da disputa está o Pacto Migratório Europeu, aprovado em 2024, que prevê a redistribuição de dezenas de milhares de migrantes entre os países da UE. A Polônia e a Hungria votaram contra. Nawrocki enviou nesta semana uma carta à presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmando que seu país já fez sua parte ao acolher cerca de um milhão de refugiados ucranianos desde a invasão russa de 2022.

"A esmagadora maioria dos poloneses, de todos os espectros políticos, se opõe à realocação forçada de migrantes para a Polônia", escreveu o presidente. "Não aceitarei a implementação do Pacto sobre Migração e Asilo em nosso país."

A carta foi celebrada pelo primeiro-ministro húngaro de extrema direita, Viktor Orbán, aliado de Moscou e crítico ferrenho da União Europeia. "A Europa está se movendo: o presidente Nawrocki se recusa a aplicar o pacto migratório na Polônia", escreveu Orbán na rede X. "Nós também recusamos. Agora somos dois. Se mais um se juntar, já é uma rebelião."

Contradições e números recordes de imigração

Pouco antes da manifestação, o primeiro-ministro Donald Tusk afirmou, também na rede X, que a Polônia não será obrigada a aceitar as realocações previstas no pacto europeu. Contrário à chegada de novos refugiados, Tusk ironizou o histórico do PiS, lembrando que foi durante os governos do partido (2015-2023) que o país bateu recordes na concessão de permissões de residência.

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"Só Jaroslaw Kaczynski é capaz de atrair um número recorde de migrantes para a Polônia e depois convocar protestos contra a imigração", escreveu Tusk, referindo-se ao líder do PiS e principal articulador da manifestação.

Segundo dados do Eurostat, entre 2015 e 2023, a Polônia concedeu cerca de 6 milhões de permissões de residência, mais do que a Alemanha (4,3 milhões) e a França (2,4 milhões). Em 2024, o país emitiu quase 489 mil permissões, o terceiro maior número da União Europeia, atrás apenas de Espanha e Alemanha — embora tenha sido o menor número registrado pela Polônia desde 2014.

O governo Tusk também reforçou o controle nas fronteiras, especialmente com Belarus, por onde, segundo Varsóvia, a Rússia estaria enviando migrantes para desestabilizar a Polônia e a União Europeia. De acordo com a agência europeia Frontex, as entradas ilegais pela fronteira leste da UE caíram mais de um terço desde o início do ano.

Com AFP

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