Mais de 3 mil migrantes morreram em 2025 tentando chegar à Espanha pelo mar, aponta Ong

Mais de 3 mil migrantes morreram em 2025 tentando chegar à Espanha, a maioria na rota atlântica rumo às Ilhas Canárias, segundo a Ong Caminando Fronteras. No mesmo período, novos naufrágios voltaram a atingir a Grécia, onde travessias pelo mar Egeu seguem letais. Apesar da queda nas chegadas irregulares, as duas fronteiras continuam entre as mais mortais para quem tenta alcançar a Europa.

29 dez 2025 - 15h00

De acordo com a ONG espanhola Caminando Fronteras, que monitora rotas migratórias no Atlântico e no Mediterrâneo, 3.090 pessoas morreram até 15 de dezembro, a maioria na rota do Atlântico que liga a costa da África Ocidental às Ilhas Canárias — considerada uma das travessias mais perigosas do mundo. O relatório se baseia em depoimentos de familiares, dados oficiais de resgates e monitoramento independente.

Um navio da Guarda Costeira da Espanha reboca uma embarcação com migrantes a bordo em direção ao porto de Arguineguín, na ilha de Gran Canária, Espanha. Imagem de arquivo, de 25 de dezembro de 2024.
Um navio da Guarda Costeira da Espanha reboca uma embarcação com migrantes a bordo em direção ao porto de Arguineguín, na ilha de Gran Canária, Espanha. Imagem de arquivo, de 25 de dezembro de 2024.
Foto: © Reuters/Borja Suarez / RFI

Segundo a organização, o número representa uma queda expressiva em relação a 2024, resultado direto da forte redução das tentativas de travessia marítima rumo ao território espanhol.

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As estatísticas confirmam os números mais recentes do Ministério do Interior da Espanha, que registrou uma queda de 40,4% nas entradas irregulares entre 1º de janeiro e 15 de dezembro, em comparação com o mesmo período de 2024. Foram 35.935 chegadas, contra 60.311 no ano anterior.

Quase metade dessas entradas ocorreu pela rota atlântica, que parte de países como Mauritânia, Senegal, Gâmbia e Guiné‑Conacri rumo às Ilhas Canárias. Apesar da queda geral, a ONG alerta para o surgimento de uma nova rota ainda mais longa e perigosa, com embarcações partindo da Guiné em direção ao arquipélago espanhol.

Entre as vítimas registradas em 2025 estão 437 crianças e 192 mulheres. A imensa maioria morreu no mar — apenas três mortes ocorreram em terra firme.

Ibiza, cemitério a mar aberto

A Caminando Fronteras também identificou um aumento no número de barcos que deixam a Argélia rumo às Ilhas Baleares, especialmente Ibiza e Formentera, no Mediterrâneo. Tradicionalmente usada por argelinos, essa rota passou a receber migrantes da Somália, Sudão e Sudão do Sul. O número de mortes nesse trajeto dobrou em 2025, chegando a 1.037, segundo a ONG.

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Em 2024, o cenário havia sido ainda mais dramático: 10.457 migrantes morreram ou desapareceram tentando chegar à Espanha — o maior número desde o início do monitoramento da ONG, em 2007.

A organização atribui a queda das chegadas irregulares em 2025 ao aumento do financiamento europeu para países africanos com o objetivo de conter os fluxos migratórios antes que os barcos deixem a costa. Isso inclui reforço de patrulhas, controles mais rígidos e acordos bilaterais que, na prática, deslocam a fronteira europeia para os países de origem.

A Espanha segue como um dos três principais pontos de entrada de migrantes na União Europeia, ao lado de Itália e Grécia.

Mortes também aumentam na Grécia

A crise migratória não se limita à rota espanhola. Nesta segunda‑feira (29), uma mulher de 22 anos foi encontrada morta perto da ilha grega de Samos, no mar Egeu, após o naufrágio de uma embarcação com mais de 40 pessoas. Três migrantes seguem desaparecidos, segundo a polícia portuária.

A maioria dos ocupantes conseguiu chegar à ilha com vida, mas as autoridades ainda buscam os desaparecidos. Não há informações sobre nacionalidades ou sobre as circunstâncias do naufrágio.

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Na semana anterior, um menor desapareceu perto da ilha de Farmakonisi, também próxima da costa da Turquia — principal ponto de partida de migrantes que tentam chegar às ilhas gregas.

Mortes no Mediterrâneo seguem em níveis alarmantes

Além da rota turca, muitos migrantes tentam a travessia entre a Líbia e a ilha de Creta, no sul da Grécia. Mais de 840 pessoas foram resgatadas ao sul de Creta na semana passada. Mas os naufrágios continuam frequentes: no início de dezembro, 17 pessoas morreram e 15 desapareceram após o afundamento de uma embarcação na mesma região. Apenas duas sobreviveram.

O Alto Comissariado da ONU para Refugiados (ACNUR) registrou, em novembro, mais de 1.700 mortos ou desaparecidos nas rotas migratórias do Mediterrâneo e do Atlântico em 2025. Desde 2014, segundo o projeto Missing Migrants, da Organização Internacional para as Migrações (OIM), cerca de 33 mil pessoas morreram ou desapareceram tentando cruzar o Mediterrâneo rumo à Europa.

Com AFP

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