Este selo atribuído pela prefeitura de Paris é destinado a produtos fabricados na capital francesa, com o objetivo de valorizar o savoir-faire local e promover práticas éticas e sustentáveis.
"Eu comecei a desenhar joias em 2015 e, a partir de 2019-2020, passei a fabricar eu mesma", conta Ingrid. Inicialmente, suas peças exploravam metais e pedras preciosas, mas o contexto pós-pandemia trouxe novas reflexões. "Eu mudei um pouco de estratégia e comecei a usar materiais mais duráveis, como madeira de lei e produtos têxteis. A minha ideia é propor joias grandes, generosas, para empoderar quem as usa - principalmente as mulheres."
Essa busca pelo empoderamento se conecta a outro eixo do trabalho da designer: a relação com a natureza. "É muito confortável usar madeira. Ela tem uma temperatura agradável. Minha ideia é nos conectar com a natureza e nos empoderar com a força dela", explica.
Entre culturas e escalas: do design à escrita
Além das joias, Ingrid também cria peças de cerâmica, influenciada por suas origens familiares. "Tenho memórias da infância no interior de São Paulo, onde cresci e minha família japonesa se instalou. Eu tenho lembranças de algumas peças de cerâmica, de alguns chawan [tigela de forma aberta], na casa dos meus avós e dos meus tios."
Essa herança cultural e de conexão com a terra se traduz em outras técnicas tradicionais que Ingrid utiliza, entre elas o kurinoki, que consiste em entalhar a terra com uma faca ou um objeto cortante, e o kintsugi, que é a arte de restaurar alguns objetos, como peças quebradas que são coladas com folhas de ouro. "Meu trabalho é orgânico. Tento introduzir formas arredondadas porque estamos banhados em um universo de linhas retas e minha ideia é introduzir mais curvas."
Ingrid costuma dizer que "a geometria está em tudo e tudo é design". Segundo ela, isso lhe permite navegar de uma grande escala até o objeto. "Essa liberdade é essencial", afirma.
Paralelamente à criação artística, ela atua como auditora de modelos de alta qualidade ambiental na França, certificando projetos arquitetônicos e urbanos. "Sou exigente com qualidade. Aqui, essa questão ambiental é bem regulamentada, com selos específicos", observa. No Brasil, existe a certificação AQUA, ligada à USP, que nasceu da francesa HQE - acrônimo para alta qualidade ambiental em francês.
Liberação da criatividade
Com uma vida marcada pela diversidade de experiências, Ingrid também encontrou espaço para a escrita. "Uso há anos um método de liberação da criatividade da Julia Cameron. Entre 2024 e 2025, escrevi crônicas sobre a vida em Paris, sobre como é viver na cidade no dia a dia. Vou traduzir para o português e ilustrar os textos. Quero abrir a cortina do que acontece atrás dos monumentos e do turismo em Paris."
A trajetória revela uma profissional que transita entre culturas, linguagens e escalas, sempre guiada pelo conceito de design e pela busca de sustentabilidade. De auditorias ambientais a joias que conectam à natureza, Ingrid de Rio Campo constrói uma narrativa onde estética e ética caminham juntas.