Ao se reunir com uma delegação de agricultores da região de Occitânia, em Toulouse, no sul da França, Emmanuel Macron "foi extremamente claro" ao dizer que a proposta de acordo entre a UE e o Mercosul, "tal como está atualmente, receberá um 'não' categórico da França", informou a ministra da Agricultura francesa, Annie Genevard, presente à reunião.
Na ausência de uma cláusula de salvaguarda, "cláusulas-espelho", que exigem que as mercadorias importadas pelo bloco europeu sigam as mesmas regras de produção aplicadas dentro da UE, ou "controles fronteiriços", ela destacou que "a França não pode, nesta fase, apoiar a proposta de acordo com os países do Mercosul, porque não protege os interesses dos nossos agricultores".
"Não podemos aceitar, os agricultores não podem aceitar, os consumidores não podem aceitar que produzamos e importemos para a Europa produtos e alimentos que não respeitam as regras que impomos aos nossos próprios produtores", acrescentou Annie Genevard. Ela insiste que a França será "extremamente" determinada, particularmente na questão das "medidas de equivalência".
A postura da política francesa não chega a ser surpreendente, uma vez que durante as negociações o país tem sido um dos maiores obstáculos para a implementação do tratado.
Agora fragilizado internamente, Macron terá de enfrentar o poderoso lobby ruralista. Os agricultores franceses exigem "compromissos claros e firmes" após as declarações do presidente durante a COP30 sobre o acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul. O otimismo manifestado por Macron durante visita ao Brasil, na semana passada, causou forte indignação entre os agricultores franceses.
As declarações do presidente foram feitas na última quinta-feira (6), à margem da COP30 em Belém. "Estou relativamente positivo, mas permaneço vigilante porque também defendo os interesses da França", disse Macron, sem imaginar a repercussão das afirmações em seu país.
Por meio de seu presidente, Arnaud Rousseau, a Federação Nacional dos Sindicatos de Exploradores Agrícolas (FNSEA) classificou a atitude do presidente francês como uma "afronta" à categoria.
Tratores nas ruas
A bordo de aproximadamente 70 máquinas agrícolas, cerca de 300 agricultores franceses protestaram pela manhã, expressando sua indignação com as declarações do chefe de Estado.
"Queremos que ele se comprometa a não assinar este tratado, que é perigoso para a agricultura francesa", declarou Jean-Marie Dirat, presidente da Federação Regional de Sindicatos de Agricultores (FRSEA).
"Se não obtivermos respostas claras (...), haverá caos na Occitânia até o final do inverno", alertou, por sua vez, Jean-Baptiste Gibert, secretário-geral da Associação dos Jovens Agricultores da região.
O acordo UE-Mercosul foi aprovado em Montevidéu no ano passado, depois de um processo que se estende há mais de 25 anos. O tratado envolve cerca de 800 milhões de consumidores.
A expectativa é que ele amplie o comércio e reduza tarifas entre os países do Mercosul, bloco formado por Argentina, Brasil, Uruguai, Paraguai e Bolívia, e as 27 nações europeias.
Em 3 de setembro de 2025, o texto foi adotado pela Comissão Europeia. Agora falta a ratificação pelos países-membros e a análise do Parlamento Europeu.
Com AFP