Vazamento: etapa mais difícil ainda está por vir, diz analista
17 jul2010 - 12h27
(atualizado às 12h58)
Ana Ávila
Pela primeira vez desde a explosão da plataforma Deepwater Horzion no Golfo do México, que deixou 11 mortos no dia 20 de abril, a British Petroleum (BP) conseguiu, na última quinta-feira, parar o vazamento responsável pelo maior desastre ambiental da história mundial. Na opinião de Celso Morooka, professor do Departamento de Engenharia de Petróleo e Pesquisador do Centro de Estudos do Petróleo (Cepetro) da Unicamp, tudo indica que o vazamento está realmente contido.
Porém, mesmo que o sistema impeça que mais óleo volte a jorrar até a entrada em operação de poços alternativos que estão sendo construídos ao lado do original, este é apenas o primeiro passo da série de medidas que a BP precisa tomar, segundo Ricardo Baitelo, coordenador da Campanha de Energias Renováveis do Greenpeace no Brasil. Depois disso, vem a necessidade de impedir que a mancha de óleo continue se alastrando e a limpeza - etapa mais complicada na opinião de Baitelo. "A limpeza é muito difícil porque o óleo está em diferentes profundidades", explica.
O teste que conseguiu parar o vazamento consiste na colocação de uma cápsula no poço com o objetivo de verificar se a pressão no mecanismo está baixa, o que poderia significar que o petróleo está vazando em outro ponto ou que a jazida está começando a se esgotar; ou alta, o que indicaria que não há outros vazamentos. Para chegar a tal conclusão, foram instalados sensores acústicos capazes de detectar um eventual fluxo de petróleo. A operação é considerada "muito delicada" pela BP. O principal desafio era instalar a "tampa" no poço a uma profundidade de aproximadamente 1,5 mil m, o que nunca tinha sido feito antes.
Uma vez concluídos os testes de pressão, a BP e o governo americano teriam a opção de deixar o poço fechado à espera do fim da construção do poço alternativo, apontado como a solução definitiva para o desastre ecológico no Golfo. Mesmo assim, a alternativa mais provável segundo declaração feita pelo almirante da Guarda Litorânea, Thad Allen, na quinta-feira, é a de abrir o obturador e permitir que o petróleo flua pelas tubulações de contenção. A bomba tem capacidade para abrigar até 80 mil barris de petróleo, que são transferidos para vários navios na superfície por meio de encanamentos.
Pelas últimas estimativas oficiais, até agora, o poço ficou expelindo petróleo para o mar a um ritmo entre 35 mil e 60 mil barris diários. Segundo Morooka, assim que o poço alternativo estiver pronto, este onde ocorre o vazamento "deve ser fechado definitivamente e abandonado".
Dois poços alternativos estão sendo cavados pela BP desde maio sob o leito marítimo. O poço em processo mais avançado está a entre 1 e 2 m horizontais de distância do poço original. Uma vez juntos, a BP injetará uma mistura de cimento e barro pesado através do duto auxiliar para bloquear permanentemente o vazamento. O segundo poço alternativo será usado só se houver algum problema com o principal. Embora o poço auxiliar possa interceptar o que está avariado até o fim de julho, a BP diz que mantém a meta de estancar definitivamente o vazamento até meados de agosto.
Publicidade
Terceira tarefa, e supostamente mais complicada, a limpeza, embora já tenha começado, avançou pouco enquanto o vazamento não era estancado e foi suspensa durante o último teste. Embarcações pequenas e de grande porte, como o gigantesco navio taiuanês A Whale "absorvem o petróleo e a água 'empetrolada' e depois filtram o petróleo e expelem a água", conforme explicou o porta-voz da BP Toby Odone em entrevista coletiva recente. Assim que o vazamento for contido em definitivo, a limpeza deve se tornar a maior preocupação da BP. O tempo que ela pode levar é imprevisível, de acordo com Baitelo. "O acidente do Exxon Valdez - petroleiro que bateu em um recife na costa do Alasca em 1989, provocando o derramamento de 42 milhões de litros de óleo no mar - ainda traz problemas", lembra.
Segurança
Embora grande parte da atenção mundial só tenha despertado para os perigos da exploração de petróleo após o acidente com a plataforma da BP, Baitelo afirma que este risco não é novidade e chama a atenção para o caso do Brasil. "No caso brasileiro, o risco é até maior", diz.
Na contramão de Estados Unidos e de países da Europa, que suspenderam temporariamente projetos de exploração de petróleo e gás em águas profundas dos Mares do Norte, Negro e Mediterrâneo após o desastre no Golfo do México, o Brasil iniciou a produção de óleo da camada do pré-sal, garantindo que a produção nas bacias nacionais está apenas começando e que as normas de segurança adotadas aqui estão entre as melhores do mundo. Para Baitelo, embora as empresas exploradoras garantam que estão fazendo todo o possível para mitigar os riscos de novos desastres, uma situação como esta "é imprevisível". "O mais eficiente seria reduzir o uso do petróleo. Nós não só estamos correndo riscos, como o de explosão, mas também contribuindo com o aquecimento global", afirma.
Para Morooka, as companhias do setor já estão reforçando as medidas de segurança desde a tragédia no Golfo do México, mas só depois de saber exatamente o que aconteceu na plataforma da BP poderão traçar novas e mais adequadas estratégias. "Penso que todos ficam agora na expectativa de se entender o que ocorreu tecnicamente para tomar medidas definitivas. Órgãos reguladores devem estar também bastante envolvidos para se estabelecer eventuais novas medidas para evitar acidentes como o ocorrido e contenção de acidentes como este", diz.
Publicidade
O professor da Unicamp não tem dúvidas de que este endurecimento nas medidas de segurança acabará ocorrendo. "As exigências para segurança das operações de perfuração e produção de poços de petróleo certamente ficarão mais rigorosas, significando que novas barreiras de segurança para operações deverão ser exigidas junto às operadoras da indústria do petróleo". Porém, ele explica que esta mudança não será, necessariamente, rápida. "Este processo poderá ser gradativo, à medida que a ocorrência no Golfo venha ser esclarecida e entendida tecnicamente, e assim, procedimentos e, eventualmente, também novas tecnologias necessitem ser desenvolvidas", diz.
Moratória No dia 12 de julho, o governo dos EUA decretou uma nova moratória para manter temporariamente a suspensão nas perfurações petrolíferas em águas profundas no Golfo do México. Ela vai vigorar até o dia 30 de novembro e faz parte da luta contra novos acidentes. Após o início do vazamento, o governo de Barack Obama já tinha suspendido a concessão de novas formas para busca de jazidas de petróleo e suspendido a perfuração em 33 poços já abertos no Golfo.
A União Europeia (UE) também anunciou no dia 14 de julho que estuda aprovar a proibição total de perfurações de petróleo em águas profundas. Guenther Oettinger, comissário europeu de Energia, disse que "uma moratória para novas perfurações pode ser uma boa ideia". Ele anunciou também uma revisão das regras de segurança de perfuração e um limite de licenças para empresas baseado no dinheiro que elas têm para cobrir gastos de limpeza para um eventual acidente como o da BP.
1 de 69
Óleo é visto em torno do navio petroleiro Joe Griffin, assim que chega ao local onde ocorreu a explosão da plataforma Deepwater, no Golfo do México
Foto: AP
2 de 69
Mancha de óleo toma conta do mar na costa de Louisiana, no Golfo do México
Foto: AP
3 de 69
Uma plataforma é rodeada por manchas de óleo, no rio Mississippi
Foto: Reuters
4 de 69
Pescadores da região auxiliam como voluntários no carregamento de bóias, em Louisiana
Foto: AFP
5 de 69
Tartaruga morta é vista nas areias da praia de Saint Louis, no Mississipi
Foto: AFP
6 de 69
Tartaruga coberta por óleo é encontrada morta em Pass Christian, costa do Mississipi
Foto: AP
7 de 69
Pássaros cobertos por óleo são vistos na Ilha Brenton Sound, no Golfo do México, ao sul de Lousiana
Foto: AFP
8 de 69
Pássaro manchado pelo óleo voa pela costa de Lousiana
Foto: AFP
9 de 69
Imagem de satélite mostra mancha no contorno da costa de Lousiana
Foto: AFP
10 de 69
Plataforma de petróleo explodiu e pegou fogo, no Golfo do México, costa de Louisiana
Foto: AP
11 de 69
A Guarda Corteira registrou o incêndio após a explosão quando chegava para prestar socorro
Foto: AFP
12 de 69
Guarda Costeira utilizou quatro barcos para controlar as chamas
Foto: AP
13 de 69
Devido à intesidade das chamas, mais barcos tiveram que ser utilizados
Foto: AP
14 de 69
Coluna de fumaça ficou visível à longa distância
Foto: AP
15 de 69
Van transportando operários resgatados deixa a empresa, em Louisiana
Foto: AP
16 de 69
Ao menos 5 mil barris de petróleo estão vazando diariamente no Golfo do México
Foto: Reuters
17 de 69
Mancha de óleo se movimenta rapidamente e pode atingir em breve a costa americana
Foto: EFE
18 de 69
Petróleo se espalha em região onde ficava a plataforma, no Golfo do México
Foto: AP
19 de 69
A mancha chegou a cerca de 40 km dos pântanos de Louisiana, hábitat de diversas espécies
Foto: AFP
20 de 69
Equipes de emergência iniciaram na quarta-feira a queima controlada da gigantesca mancha de petróleo
Foto: AFP
21 de 69
Autoridades americanas disseram que o vazamento ameaça ser um dos maiores desastres ecológicos da história do país
Foto: AP
22 de 69
Em imagem de satélite, nuvens à direita da imagem cobrem a região onde está a mancha de óleo, próximo à costa da Louisiana
Foto: AFP
23 de 69
Imagem de satélite mostra a mancha de óleo avançando em direção à costa da Louisiana, no Golfo do México
Foto: Reuters
24 de 69
Veterinários limpam um pássaro Gannet do Norte sujo pelo óleo acumulado no mar, em Fort Jackson
Foto: AP
25 de 69
Pesquisadores resgatam tartaruga morta após ser contaminada pelo vazamento de petróleo, em Pass Christian, Mississipi
Foto: AP
26 de 69
Homens colocam barreiras para conter a chegada de óleo na beira da praia de Dauphin Island, no Alabama
Foto: EFE
27 de 69
Trabalhadores retiram algas manchadas de óleo e limpam a praia em Gulfport, no Mississipi
Foto: Reuters
28 de 69
O interior da estrutura de 100 toneladas que será usada para frear o vazamento de petróleo no Golfo do México
Foto: AP
29 de 69
Óleo cobre a superfície do mar, no Golfo do México
Foto: AP
30 de 69
Óleo é queimado no Golfo do México
Foto: Reuters
31 de 69
Ave coberta de petróleo tenta levantar voo junto ao casco de um navio, na região onde acontece o vazamento no Golfo do México
Foto: AP
32 de 69
orda de proteção é amarrada nas águas de Perdido Pass, no Alabama
Foto: Reuters
33 de 69
Manchas de óleo cobrem a superfície do mar
Foto: AP
34 de 69
Pássaro morto sujo de óleo é visto na praia de Grand Isle, na Louisiana
Foto: Reuters
35 de 69
Mancha de óleo se espalha pela margem do rio Mississippi
Foto: AP
36 de 69
Bóias são colocadas ao redor das Ilhas Cat, na baía de Barataria, Golfo do México
Foto: Reuters
37 de 69
Reprodução de vídeo mostra equipamento que tentará fazer a vedação do vazamento de óleo na tubulação
Foto: AP
38 de 69
Imagem de satélite divulgada pela Nasa mostra mancha de óleo (na cor prateada) que se alastra no delta do Rio Mississipi, nos Estados Unidos
Foto: AFP
39 de 69
Manhca de óleo é vista nas águas do Golfo do México
Foto: Reuters
40 de 69
Foto divulgada pela Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera mostra a mancha de óleo se aproximando dos corais da região de Key Largo, na Flórida
Foto: AP
41 de 69
Biólogos caminham na beira da praia da Ilha Raccoon, na costa da Louisiana
Foto: Reuters
42 de 69
Imagem de satélite mostra a mancha de petróleo no Golfo do México
Foto: AFP
43 de 69
Boias tentam conter o avanço da mancha de óleo na superfície, na ilha de Queen Bess, na Louisiana
Foto: EFE
44 de 69
Barco controla a operação das boias na ilha de Queen Bess
Foto: Reuters
45 de 69
Óleo suja praia na ilha de Queen Bess
Foto: EFE
46 de 69
Barcos colocam boias em região coberta pelo óleo, próximo à baía de Barataria, na Louisiana
Foto: Reuters
47 de 69
Funcionário da BP trabalha na limpeza de praia na Louisiana
Foto: AP
48 de 69
Pelicanos marrons, alguns sujos de óleo, pousam em pedras próximo a Venice, na Louisiana
Foto: AFP
49 de 69
Bóias de contenção do óleo são vistas embaixo de um pier na paria de Gulf Shores, no Alabama
Foto: AP
50 de 69
O presidente americano, Barack Obama, observa trabalhadores limpando bóias de contenção, na cidade de Theodore, no Alabama
Foto: AP
51 de 69
Imagem divulgada nesta quinta-feira pela BP mostra que o vazamento segue acontecendo, apesar das divesas tentativas de contê-lo
Foto: AP
52 de 69
Imagem mostra sistema de sucção, que tenta minimizar o vazamento de óleo no Golfo do México
Foto: Reuters
53 de 69
Imagem divulgada pela BP mostra vazamento de óleo de duto, no Golfo do México
Foto: AP
54 de 69
Garrafa coberta de óleo é vista na praia de Pensacola, na Flórida
Foto: EFE
55 de 69
Obama é cumprimentado por oficial da Guarda Costeira americana ao chegar em Louisiana
Foto: AP
56 de 69
Barco navega pelas águas contaminadas pela mancha de óleo, no Golfo do México
Foto: AP
57 de 69
Uma marca de uma pegada na areia é preenchida com o óleo que já chegou à praia de Dauphin Island, no Alabama
Foto: AFP
58 de 69
Pelicano manchado pelo óleo é visto na praia da Ilha East Grand Terre, na costa da Louisiana
Foto: AP
59 de 69
Uma das técnicas usadas na limpeza do Golfo do México é a queima do óleo na superfície
Foto: EFE
60 de 69
Trabalhadores queimam o óleo para descontaminar as águas
Foto: EFE
61 de 69
Óleo confinado por bóias de contenção é queimado, no Golfo do México
Foto: EFE
62 de 69
Águas do Golfo do México seguem contaminadas, na costa de Lousiana
Foto: AP
63 de 69
Barco é usado para reposicionar as bóias de contenção no Golfo do México
Foto: AP
64 de 69
Retroescavadeiras são usadas para criar uma barreira de areia, na margem da Ilhas de Chandeleur, em Louisiana
Foto: AP
65 de 69
Manchas de óleo contaminam as águas do Golfo do México
Foto: AP
66 de 69
Pelicanos pousam sobre bóias de contenção, em torno da Ilha de Racoon, em Lousiana
Foto: Reuters
67 de 69
Trabalhadores posicionam bóias de contenção na costa de Cocodrie, na Louisiana
Foto: Reuters
68 de 69
Immagem divulgada nesta sexta-feira pela BP mostra funil para contenção do vazamento do óleo
Foto: Reuters
69 de 69
Obama disse que a situação no Golfo do México ainda é preocupante, durante discurso na Casa Branca, em Washington