Daniela Marys Costa Oliveira, brasileira presa no Camboja acusada de porte de drogas, foi condenada a 2 anos e 6 meses de prisão; sua família alega que foi vítima de tráfico humano e busca apoio das autoridades para sua defesa.
Presa há cerca de oito meses no Camboja, a brasileira Daniela Marys Costa Oliveira, de 35 anos, foi condenada a 2 anos e 6 meses de prisão por porte e uso de drogas. A informação foi dada pela irmã de Daniela, Lorena Oliveira, que defende que a arquiteta foi vítima de tráfico humano e presa por engano.
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Segundo Lorena, a condenação ainda permite recurso. "A Clínica de Trabalho Escravo e Tráfico de Pessoas da UFMG, que nos apoia e assessora já está ciente do caso e preparará tudo que for preciso, uma vez que minha irmã é inocente e esta sendo injustiçada lá. Não podemos nunca esquecer que ela foi vítima de um esquema de tráfico de pessoas", disse ao Terra.
Lorena disse estar buscando apoio do Ministério de Relações Exteriores (Itamaraty) para auxiliar na defesa da brasileira, que está sem advogado no país estrangeiro. A pasta informou ao Terra ter conhecimento do caso, por intermédio da Embaixada do Brasil em Phnom Penh.
"A Embaixada vem realizando gestões junto ao governo cambojano e prestando a assistência consular cabível à nacional brasileira, em conformidade com o Protocolo Operativo Padrão de Atendimento às Vítimas Brasileiras do Tráfico Internacional de Pessoas", disse o Itamaraty.
O ministério complementou que não divulga "informações pessoais e cidadãos que requisitam serviços consulares e tampouco fornece detalhes sobre a assistência prestada a brasileiros" em cossonância com o direito à privacidade.
"Não temos ainda nem o comunicado oficial dessas informações. Soubemos por meio da ONG Um Grito Pela Vida", disse Lorena, ao descrever o desamparo que está vivendo. A irmã de Daniela afirmou ainda que a brasileira pediu para passar por exame toxicológico para provar que não é usuária de drogas, mas o pedido lhe teria sido negado.
Relembre o caso
Daniela está presa no Camboja desde o dia 26 de março, quando foi encontrada pela polícia em uma espécie de complexo, em que foi acusada de estar em posse de três pílulas de drogas. O local, porém, seria onde a brasileira era mantida à força por uma quadrilha de tráfico humano, segundo denuncia a família de Daniela daqui do Brasil.
Ela recebeu uma proposta de trabalhar com telemarketing no país da Ásia em meados de janeiro via Telegram, segundo a irmã Lorena contou. Nessa época, ela, que já havia residido nos Estados Unidos e nos Emirados Árabes, estava morando com a mãe em João Pessoa, na Paraíba.
"Ela estava começando no ramo imobiliário, só que ele exige que você tenha um capital, um dinheiro", explica a irmã. O novo emprego seria temporário, de seis meses a um ano, justamente para levantar um dinheiro. "Infelizmente, ela acreditou na falsa promessa deles e de que poderia ser um crescimento para ela, para se restabelecer financeiramente para voltar para o Brasil”, aponta.
Sociável, alegre e fluente em inglês, ela topou o novo desafio. Ela chegou ao Camboja em 30 de janeiro e foi levada para um complexo, a 10 horas de distância da capital do país. O local tem vários andares, em um local descampado e ermo. Ali ela passou a ser mantida em cárcere privado, segundo Lorena.
“Ela não tem contato com a rua desde de 30 de janeiro. Não pôde sair desse completo, retiveram o passaporte dela, e ela viu que tinha alguma coisa errada. Pessoas a vigiando o tempo todo”, explica.
Daniela passou o mês todo de fevereiro naquele local sem fazer nada, já que as pessoas que mantinham o local estavam recrutando mais vítimas. Em março, quando começaram o treinamento, a brasileira soube que havia sido levada para o país para aplicar golpes pela internet. Ela se negou e sua situação passou a se complicar.
No dia 26 de março, ela acabou presa por policiais dentro do complexo. Eles a acusaram de estar em posse de três pílulas, conforme a família. Os pertences dela, como celular, notebook, roupas e passaporte, ficaram todos com os criminosos que a mantiveram naquele local por quase dois meses.
Ainda segundo Lorena, a própria família da brasileira também foi vítima de um golpe dos criminosos, que se passaram por Daniela e pediram transferências bancárias.
“Começaram a mandar mensagem, que se não fosse pago um determinado valor, iriam vendê-la, prendê-la. E aí começou esse tormento no dia 27 e 28 de março. Foram 48 horas disso. Eles nos extorquiram em R$ 27 mil. A gente começou a perceber que não era ela, porque a gente fazia perguntas e ela não respondiam. Começou a me chamar de ‘mana’ e ela nunca me chamou assim”, esclarece.
A família pegou dinheiro emprestado para pagar a quantia pedida, na esperança da brasileira voltar para a casa em segurança. Os familiares só tiveram a confirmação de que se tratava de um golpe quando ela conseguiu ligar de dentro da Prisão Provincial de Banteay Meanchey, no dia 29 de março, relatando que armaram uma emboscada.