Mujica afirma que se opõe a maconha e aborto, mas prefere legalizá-los

Presidente do Uruguai diz que prefere legalizá-los para que não cresçam 'nas sombras' e causem mais prejuízos à população

16 mai 2013 - 17h19
(atualizado às 17h27)
<p>Mujica alega que a maconha é 'uma praga', mas o narcotráfico é 'muito pior'</p>
Mujica alega que a maconha é 'uma praga', mas o narcotráfico é 'muito pior'
Foto: EFE

O presidente do Uruguai, José Mujica, disse nesta quinta-feira em entrevista à Agência Efe que se opõe ao consumo de maconha e à prática do aborto, mas que prefere legalizá-los para que não cresçam "nas sombras" e causem mais prejuízos à população.

A maconha é "uma praga", mas o narcotráfico é "muito pior", disse o líder em referência a seu projeto de lei para legalizar o consumo e a venda de cannabis, cedendo o controle do setor ao Estado.

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"Nunca fumei maconha porque sou de outra época e não defendo nenhuma dependência", afirmou o líder em sua casa, uma chácara nos arredores de Montevidéu que transformou em residência presidencial quando chegou ao poder em 2010.

No entanto, para Mujica, o narcotráfico é "mais problema" que o consumo de maconha ou de outras drogas porque "tende a multiplicar" o grau de violência na sociedade "e é uma doença que corrói por baixo". "Propusemos a hipótese de regular o mercado da maconha como uma tentativa para arrebatá-lo (dos narcotraficantes)", justificou.

Além disso, a legalização "permitirá tratar os consumidores problemáticos" porque "se continuarem clandestinos ou escondidos, não poderemos fazer nada por eles". A humanidade "reprime há 100 anos" o consumo de drogas e "não propõe nenhuma alternativa" e os fatos "demonstram que estamos fracassando", assinalou Mujica.

É preciso "ter a audácia de pensar novas variáveis porque o consumo nas sombras é muito pior", opinou. Um projeto de lei apresentado no ano passado e que é analisado no Parlamento autoriza o Estado a assumir "o controle e a regulação de atividades de importação, exportação, plantação, cultivo, colheita, produção, aquisição, armazenamento, comercialização e distribuição de cannabis e seus derivados".

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Segundo números da Junta Nacional de Drogas, 20% dos uruguaios de idades entre 15 e 65 anos consumiram maconha alguma vez em sua vida e 8,3% a consumiu no último ano.

'Nunca fumei maconha porque sou de outra época', disse Mujica
Foto: Reuters

Sobre o aborto, Mujica disse que "acontece algo parecido". Contra esse fenômeno "estamos todos", mas "por impedimentos sociais, problemas econômicos ou outros" abortos continuam sendo realizado "nas sombras". No ano passado, o Parlamento uruguaio descriminalizou a interrupção da gravidez até a 12ª semana de gestação sempre que sejam respeitados certos procedimentos regulados pelo Estado.

A paciente deve passar por uma comissão técnica que a informa sobre seus riscos e inclusive sobre a possibilidade de não interromper sua gravidez e encaminhar a criança à adoção. Depois tem cinco dias para refletir e, se ratificar sua vontade, será submetida ao aborto farmacológico, seguindo os critérios recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Em janeiro deste ano, primeiro mês da aplicação efetiva da lei, foram realizadas 200 interrupções de gravidezes no Uruguai. Apesar de ser proibido por lei até ano passado, no país ocorrem mais de 30 mil abortos anuais, segundo números oficiais, embora a realidade possa dobrar esse número de acordo com organizações não-governamentais. A legalização "tira o problema da sombra e nos permite tentar incidir" para que a mulher "volte trás em sua decisão (de abortar)", argumentou Mujica.

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A ideia primária é "tentar ajudá-la" e eventualmente "convencê-la" de evitar o aborto, porque "muitas vezes há um problema de falta de meios, solidão, falta de informação ou preconceitos familiares", acrescentou o líder,que espera que a legalização do aborto ajude a "salvar vidas".

A menos de duas semanas de sua visita à Espanha, na qual se reunirá com o rei Juan Carlos, Mujica, convidou empresas espanholas a investir em seu país como uma forma de entrar no Mercosul.

"Vou à Espanha mais que nada como um regozijo, pela afinidade entre os dois países", concluiu o ex-guerrilheiro que passou 14 anos na prisão, a maioria durante a ditadura (1973-1985), e que na próxima segunda-feira completará 78 anos.

  
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