EUA admitem ter atirado em náufragos após ataque a barco suspeito no Caribe

Os Estados Unidos confirmaram, na segunda-feira (1º), ter realizado dois bombardeios, no início de setembro, contra um barco supostamente carregado de entorpecentes no Caribe. O anúncio gerou críticas, inclusive entre parlamentares republicanos, que questionam se o ataque violou as regras do Pentágono sobre direito de guerra, ao atingir duas pessoas que tentavam sobreviver.

2 dez 2025 - 09h06

Segundo a Casa Branca, o secretário de Defesa americano, Pete Hegseth, autorizou o almirante Frank Bradley, chefe das operações especiais do Exército, a disparar contra os náufragos. A porta-voz Karoline Leavitt afirmou que Bradley "agiu no âmbito de suas funções e em conformidade com a lei que rege o engajamento militar, para garantir a destruição do barco e a eliminação da ameaça que pesava sobre os Estados Unidos".

Fuzileiros navais dos Estados Unidos durante operação no Mar do Caribe, em 18 de novembro de 2025.
Fuzileiros navais dos Estados Unidos durante operação no Mar do Caribe, em 18 de novembro de 2025.
Foto: via REUTERS - US Marines / RFI

Desde agosto, Washington reforçou sua presença militar no mar do Caribe e no oceano Pacífico em nome da luta contra o narcotráfico, acusando o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, de dirigir um cartel de drogas. Onze pessoas morreram em 2 de setembro, no primeiro de uma série de vinte ataques americanos em águas internacionais. 

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Segundo o Washington Post, após o primeiro bombardeio, dois sobreviventes se agarravam à embarcação em chamas, mas foram mortos logo depois, por ordem de Hegseth. Inicialmente, o Pentágono havia negado a informação. "Eu apoio Bradley e as decisões que ele tomou em combate", escreveu Hegseth na rede social X, chamando o almirante de "herói americano e verdadeiro profissional".

O jornal Washington Post revelou, na semana passada, que após o primeiro bombardeio, dois sobreviventes se agarravam à embarcação em chamas, mas foram mortos logo depois, por ordem de Hegseth. Inicialmente o Pentágono havia negado a informação.

"Eu apoio Bradley e as decisões que ele tomou em combate, durante a missão de 2 de setembro e todas as outras desde então", afirmou Hegseth na rede social X. O almirante é "um herói americano, um verdadeiro profissional", reiterou.

Violação das regras do Pentágono

A decisão de Hegseth é criticada até mesmo por lideranças republicanas. Recentemente, o secretário de Defesa alegou que a ofensiva no mar do Caribe e no Pacífico estava dentro do "direito dos conflitos armados" e havia sido aprovada pelos melhores juristas". No entanto, o duplo ataque de 2 de setembro viola o manual do Pentágono sobre o direito da guerra, que estabelece que ordens para atirar em náufragos são proibidas.

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"Republicanos e democratas chegam à conclusão de que se tratou de um ato ilegal e profundamente imoral", declarou o senador democrata Chris Murphy ao canal CNN. "As pessoas estão muito preocupadas com a maneira como esses ataques foram conduzidos", reforçou o deputado republicano Mike Turner.

"Acabaremos descobrindo o que realmente aconteceu", prometeu o republicano Roger Wicker, presidente da Comissão de Forças Armadas do Senado, que abriu uma investigação sobre o caso, a pedidos do senador democrata Mark Kelly.

"Temo que, se realmente houve, como foi relatado, sobreviventes agarrados a uma embarcação danificada, isso possa ultrapassar os limites", declarou o parlamentar, ex-piloto de caça e astronauta. 

Reunião no Conselho de Segurança Nacional 

Trump reuniu o Conselho de Segurança Nacional na segunda-feira para falar sobre a Venezuela, um dia depois de ter confirmado que conversou por telefone com Nicolás Maduro. O presidente venezuelano não se pronunciou até o momento sobre a ligação. 

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No entanto, Maduro liderou uma marcha que reuniu milhares de militantes na segunda-feira, carregando bandeiras venezuelanas e vestindo camisetas vermelhas do partido do governo. "Nascemos para vencer e não para ser vencidos!", afirmou Maduro em seu discurso. "Queremos paz, mas paz com soberania, paz com igualdade, paz com liberdade, não queremos a paz dos escravos, nem queremos a paz das colônias."

O presidente venezuelano classifica a ofensiva americana no mar do Caribe e Pacífico como "terrorismo psicológico". Os ataques das forças americanas na região deixaram mais de 80 mortos.

No sábado, Trump afirmou que o espaço aéreo da Venezuela deveria ser considerado "totalmente fechado". Na semana passada, ele declarou que os Estados Unidos iriam "muito em breve" começar a atacar "traficantes de drogas venezuelanos" em operações terrestres. 

Até o momento, a iniciativa não foi esclarecida. Questionada por jornalistas na segunda-feira, a porta-voz da Casa Branca manteve a ambiguidade sobre a questão. "Existem opções disponíveis para o presidente, e deixarei que ele se manifeste sobre elas", indicou Karoline Leavitt.

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Com informações da AFP

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