Lula e Trump mostram progresso em negociações para reduzir tarifas de 50% sobre produtos brasileiros; presidente brasileiro declara que Bolsonaro pertence ao passado e expressa otimismo com um acordo comercial iminente.
O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse nesta segunda-feira (27) que considera possível obter um acordo comercial "nos próximos dias" entre o Brasil e os Estados Unidos, para aliviar as tarifas impostas pelo presidente americano, Donald Trump. Washington aplica tarifas de 50% sobre produtos brasileiros.
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Lula se encontrou neste domingo (26) com Trump à margem da cúpula da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), em Kuala Lumpur. "Estou convencido de que, dentro de alguns dias, encontraremos uma solução definitiva entre os Estados Unidos e o Brasil, para que a vida continue bela e alegre", afirmou Lula durante uma coletiva de imprensa na capital da Malásia.
"O encontro que tive com o presidente Trump foi surpreendentemente positivo. Se dependesse apenas de nós dois, um acordo já teria sido fechado", afirmou Lula nesta segunda-feira. "Mesmo sem prometer nada, ele me garantiu que vamos chegar a um acordo", destacou. Os dois presidentes têm posições opostas em temas como multilateralismo, comércio internacional e combate às mudanças climáticas.
Trump impôs tarifas de 50% sobre produtos brasileiros e aplicou sanções econômicas contra o juiz Alexandre de Moraes e sua esposa. O presidente norte-americano acusa Moraes de liderar uma "caça às bruxas" devido à condenação, no Brasil, do ex-presidente Jair Bolsonaro a 27 anos de prisão por tentativa de golpe de Estado. Bolsonaro é amigo de Trump.
No domingo, Trump disse a jornalistas que se sentia "muito triste com o que aconteceu" com Bolsonaro. "Sempre achei que ele fosse alguém franco e direto, mas está passando por um momento difícil", acrescentou.
O presidente norte-americano não comentou sobre Bolsonaro durante sua conversa com Lula. Mas o presidente brasileiro afirmou nesta segunda-feira que a questão de Bolsonaro está resolvida após suas conversas com Trump e que ele pertence "ao passado da política brasileira".
"Com três reuniões que você fizer comigo, vai perceber que o Bolsonaro era nada, praticamente. Era, porque eu não converso em tom pessoal, eu converso em tom político, de interesse do meu país", afirmou Lula durante a entrevista coletiva desta segunda-feira, acrescentando: "Rei morto, rei posto".
A tensão entre Trump e Lula diminuiu após o breve encontro à margem da Assembleia Geral das Nações Unidas, em setembro. "Temos que conseguir bons acordos para nossos dois países", garantiu Trump a Lula no domingo. "Vamos acabar tendo uma relação muito boa", acrescentou.
"Estamos progredindo", declarou Marcio Rosa, secretário executivo do Ministério das Relações Exteriores do Brasil. O chanceler brasileiro, Mauro Vieira, informou que se reuniu com o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, e outros representantes. "Concordamos em trabalhar na elaboração de um acordo satisfatório para ambas as partes nas próximas semanas", acrescentou.
Imprensa francesa repercute a "reconciliação" de Lula e Trump
Após o encontro de Lula e Trump no domingo, a imprensa francesa desta segunda-feira (27) fala em "reconciliação" entre Lula e Trump. O jornal Le Parisien informa que o Brasil avança para reduzir as tensões relacionadas às tarifas alfandegárias com os Estados Unidos.
O diário diz que o presidente Lula está otimista com a possibilidade de um acordo e, citando o presidente brasileiro, antecipa que uma solução definitiva pode ser encontrada "nos próximos dias". Atualmente, as tarifas adicionais são de até 50% e prejudicam significativamente a economia brasileira, escreve Le Parisien.
O Le Monde lembra que esse foi o primeiro encontro entre Lula e Donald Trump, que aconteceu após a imposição do tarifaço e das sanções econômicas contra o ministro do STF, Alexandre de Moraes.
Já o La Croix também cita o encontro entre os dois presidentes em Kuala Lumpur, mas dá mais destaque ao anúncio da nova candidatura de Lula à eleição presidencial e à realização da COP30 em Belém, que começa no dia 10 de novembro. Com chamada de capa, o jornal publica quatro páginas com matérias sobre o Brasil para explicar "Como Lula voltou a ser o homem forte do país".
Aniversário e reeleição
O jornal católico La Croix começa lembrando que esta segunda-feira (27) é o aniversário do presidente brasileiro, que completa 80 anos e cita os principais eventos da carreira política de Lula, ressaltando que o petista já anunciou que tentará a reeleição.
Esta será sua sétima candidatura à presidência. Desde o retorno da democracia ao Brasil, em 1985, Lula só ficou de fora de três eleições e, após registrar queda na popularidade, atualmente metade dos brasileiros se dizem satisfeitos com o presidente, segundo as pesquisas.
Na origem dessa virada está Donald Trump. Ao atacar o Brasil, acusado de promover uma "caça às bruxas" contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, o presidente dos EUA tocou no nacionalismo brasileiro. Mas a reeleição do presidente está longe de ser garantida, pois o Brasil segue polarizado e o contexto econômico pode ser mais difícil para Lula em 2026.
Além disso, a poucos dias da abertura da COP30 em Belém, um projeto de exploração de petróleo no norte do país revela as contradições entre o desejo de desenvolvimento do presidente brasileiro e seu discurso ambiental.