Situada no extremo nordeste do Chifre da África, com uma área do tamanho do Uruguai (175 mil km²), a Somalilândia declarou sua independência da Somália em 1991, quando o país enfrentava um cenário de caos após a queda do regime militar do autocrata Siad Barre.
Nesta sexta-feira (26), Israel se tornou o primeiro país a reconhecer o território, que funciona de forma autônoma e se distingue por uma relativa estabilidade em comparação à Somália, afetada por insurgências islâmicas e conflitos políticos.
A Somalilândia é "um Estado independente e soberano", afirma um comunicado divulgado pelo gabinete do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu. A decisão, no entanto, foi condenada pela Somália e pela União Africana.
Dadas as repercussões geopolíticas, Turquia, Djibuti, que tem fronteira com a Somalilândia, Egito e a Autoridade Palestina, que administra parcialmente a Cisjordânia ocupada, também rejeitaram o anúncio.
Em entrevista ao New York Post, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou que se opõe ao reconhecimento do território e que Washington não seguiria os passos de Israel, seu aliado.
"Não", respondeu o bilionário republicano ao jornal quando foi perguntado sobre o reconhecimento da região, e acrescentou: "Alguém sabe realmente o que é a Somalilândia?".
Ameaças de retaliação
O Al-Shabaab, grupo armado islâmico ligado à Al-Qaeda que luta contra o governo somali desde 2006, afirmou neste sábado (27) que "lutará" contra qualquer tentativa por parte de Israel de "usar" a Somalilândia, após o governo de Netanyahu ter reconhecido oficialmente a autoproclamada república.
O Al-Shabaab "rejeita a ambição israelense de reivindicar ou usar partes de nossos territórios. Não aceitaremos e lutaremos contra isso, se Deus quiser", disse o porta-voz Ali Dheere em um comunicado.
"É uma humilhação da mais alta ordem ver hoje alguns somalis comemorando o reconhecimento pelo primeiro-ministro israelense Netanyahu", quando Israel é "o maior inimigo da sociedade islâmica", concluiu.
"Ataque à soberania"
Em Hargeisa, capital da Somalilândia, centenas de pessoas saíram às ruas durante a noite com bandeiras e gritos de "vitória".
A Somália condenou um "ataque deliberado contra sua soberania" por parte de Israel e advertiu que o anúncio exacerba "as tensões políticas e de segurança na região".
Em comunicado, a União Africana alertou sobre o "risco de criar um precedente perigoso com consequências consideráveis para a paz e a estabilidade em todo o continente".
Posição estratégica
A Somalilândia tem uma posição estratégica na entrada do Estreito de Bab el-Mandeb, em uma das rotas comerciais mais movimentadas do mundo, que liga o Oceano Índico com o Mar Vermelho e o Canal de Suez, mais ao norte. Analistas acreditam que a decisão de Tel Aviv foi motivada por interesses de segurança regional.
"Israel precisa de aliados na região do Mar Vermelho por muitas razões estratégicas, incluindo a possibilidade de uma futura campanha contra os huthis (rebeldes iemenitas apoiados pelo Irã)", afirmou o Instituto de Estudos de Segurança Nacional em um documento publicado no mês passado.
A costa do Iêmen fica próxima da Somalilândia e Israel atacou alvos neste país de forma reiterada após o início da guerra na Faixa de Gaza, em outubro de 2023. Os bombardeios foram respostas aos ataques dos huthis lançados contra o Estado hebreu em solidariedade aos palestinos do enclave.
Além disso, Tel Aviv tenta fortalecer suas relações com países do Oriente Médio e da África. Os históricos Acordos de Abraão, alcançados no final do primeiro mandato de Trump em 2020, estabeleceram relações entre Israel e países muçulmanos como Emirados Árabes Unidos, Marrocos, Bahrein e Sudão. Mas os esforços foram interrompidos pela guerra de Gaza.
"Estou muito, muito feliz e muito orgulhoso deste dia, e quero desejar a você e ao povo da Somalilândia o melhor", declarou Netanyahu ao presidente da Somalilândia, Abdirahman Mohamed Abdulahi.
O território buscava reconhecimento internacional há décadas. O presidente Abdulahi afirmou que esta era sua prioridade ao assumir o cargo, no ano passado.
"É um momento histórico", celebrou o presidente, conhecido como "Irro".
Com AFP