Um correspondente da AFP, que visitou 12 seções eleitorais, verificou longas filas pela manhã, repletas de eleitores entusiasmados para cumprir seu dever cívico pela primeira vez. Pela tarde, a movimentação caiu.
"Esperei na fila por horas antes de poder votar. Fiquei muito feliz por participar", disse Ali Salad, de 51 anos. "É um grande dia", comentou Guhad Ali, de 37 anos, mostrando um de seus dedos manchado de tinta, a comprovação de que havia votado.
Mais de 10 mil membros das forças policiais estão mobilizados na capital, segundo o governo, que luta contra o grupo islamista al-Shabaab, ligado à Al-Qaeda, desde 2006. Embora a guerra ainda assole uma região a 60 quilômetros de Mogadíscio, a segurança na cidade melhorou ao longo dos últimos meses.
No começo do ano, a capital registrou uma tentativa frustrada de assassinato contra o comboio presidencial, disparos de morteiro perto do aeroporto e um ataque a um centro prisional.
"A segurança está 100% garantida", declarou Moalim Mahdi, um oficial da polícia, à imprensa. "Pedimos para a população confiar nas forças de policiais mobilizadas nesta quinta-feira", continuou ele.
A votação é considerada um teste antes da eleição presidencial marcada para 2026, ao final do mandato de Hassan Sheikh Mohamud. "Este é o futuro do povo somali, caminhando na direção certa", declarou o presidente, logo após votar no Teatro Nacional. Sheikh Mohamud conclamou os cidadãos a "abraçarem o caminho da democracia".
Boicote da oposição
Os principais partidos de oposição, no entanto, boicotaram a eleição. A Coalizão para o Futuro da Somália, por meio de um de seus líderes, o ex-primeiro-ministro Hassan Ali Kheire, afirmou que não considerava o pleito ou seu resultado "legítimos".
"Esta é uma eleição orquestrada por um partido que tenta legitimar uma votação para garantir a prorrogação de seu mandato, o que não será aceito", salientou.
Somalis que se abstiveram de votar ressaltaram este sentimento. "Eu não votei e sei que o processo não é inclusivo", disse Mohamed Yare.
Quase 400 mil eleitores estavam registrados para votar, de uma população de mais de 2 milhões na região, segundo a comissão eleitoral. Os eleitores escolherão entre 1,6 mil candidatos para 390 vagas regionais.
Fim do voto direto em 1969
O voto direto na Somália foi abolido após a ascensão do ditador Siad Barre ao poder em 1969. Desde sua queda, em 1991, o sistema político na maior parte do país tem sido estruturado em torno dos inúmeros clãs e subclãs que compõem a sociedade.
O sufrágio universal, no entanto, já está em vigor na região separatista da Somalilândia, que declarou sua independência em 1991, mas nunca foi reconhecida internacionalmente.
Em maio de 2023, o estado semiautônomo de Puntlândia (no norte) realizou eleições locais por sufrágio universal, mas posteriormente abandonou a prática. O governo federal aprovou o retorno das eleições diretas em agosto de 2024, mas a medida foi vista como uma estratégia do presidente para estender seu mandato.
A eleição desta quinta-feira, realizada sob o princípio de "uma pessoa, um voto", foi adiada três vezes este ano. Segundo um relatório de setembro do International Crisis Group, a situação atual na Somália lembra a crise política em torno de Mohamed Abdullahi "Farmajo", quando, em 2021, confrontos entre facções de clãs eclodiram após ele não ter conseguido realizar eleições parlamentares e presidenciais antes do término de seu mandato.
O país ainda não chegou a um consenso sobre como a votação geral prevista para 2026 será conduzida. A oposição ameaça realizar um processo paralelo, caso o governo federal insista em uma votação direta.
Com AFP