No Mali, cristãos fazem peregrinação para evitar zonas controladas por jihadistas e celebrar Natal

Marcado por festividades e espírito de paz em muitos países, o período do Natal tem sido desafiador para a comunidade cristã no Mali, por ser minoria na nação da África Ocidental dominada por jihadistas do grupo islâmico Jnim. Para contornar os riscos, sem deixar de celebrar, os cristãos do país fazem uma peregrinação para evitar zonas sob controle dos jihadistas. No trajeto, eles contam com a empatia de seus compatriotas muçulmanos, que às vezes se juntam às comemorações.

25 dez 2025 - 13h51

David Baché, da RFI em Paris

A região de Bandiagara, no centro do Mali, é uma das abaladas pelo o domínio dos extremistas do grupo Jnim, que impõe suas leis e não permite que os cristãos vivam sua fé em liberdade, principalmente no círculo de Koro, localidade que concentra diferentes grupos étnicos.

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A presença dos cristãos é tolerada mediante o pagamento de um imposto específico. Apesar de não serem perseguidos diretamente, eles enfrentam obstáculos para exercer sua fé, como o fechamento de igrejas. No entanto, nem todos desistem de celebrar o Natal.

"Os habitantes se deslocam. Grande parte dos moradores dessas aldeias vai para as capitais da sua região para poder participar da missa. Isso é feito em comum acordo com as lideranças locais, os padres e os catequistas que estão nessas localidades", explica à RFI um fiel da região de Bandiagara, que teve seu nome preservado por questões de segurança.

"Os líderes veem como as diferentes aldeias podem se reunir ou, se os padres estiverem disponíveis, eles tentam aproximar-se o máximo possível das aldeias para poder celebrar o Natal", acrescenta o homem, que diz se mobilizar com a comunidade cristã local.

Risco para as mulheres

Deslocar-se na região é um risco, especialmente para as mulheres, que são obrigadas a obedecer às determinações dos jihadistas, ainda que não compartilhem da mesma crença islâmica.

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"Nossas mulheres cristãs são obrigadas a usar véu para poderem se deslocar e comemorar o Natal. É difícil, portanto, sentir-se 100% cristão e celebrar com tranquilidade", lamenta o fiel da região de Bandiagara.

O cerco à fé dessa comunidade não acontece somente nas festividades de fim de ano. Em novembro, por exemplo, a peregrinação cristã de Kita teve que ser cancelada. O episcopado renunciou ao evento de âmbito nacional, devido à ameaça à segurança e à escassez de combustível imposta no país pelos jihadistas.

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