O influenciador Daniel Gomes Ferraz foi absolvido pela Justiça de São Paulo por falta de provas das acusações de envolvimento no planejamento de um grande roubo a um banco em 2017, com base em dúvidas sobre a validade de provas coletadas.
O influenciador digital Daniel Gomes Ferraz foi absolvido pela Justiça de São Paulo por falta de provas das acusações de tentativa de furto qualificado e organização criminosa. O caso refere-se à tentativa de roubo à caixa-forte de uma agência do Banco do Brasil na Chácara Santo Antônio, em 2017, que ficou famosa pelo túnel escavado por criminosos para acessar o cofre.
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Durante as investigações, constatou-se que o túnel cavado pela quadrilha para o que a polícia classificou como o "maior roubo do mundo" estava tão próximo do alvo que já causava rachaduras no piso e nas paredes da sala do cofre principal do Banco do Brasil, na Zona Sul de São Paulo. A operação resultou na prisão de 16 pessoas em uma casa que funcionava como oficina para a fabricação das ferramentas de escavação.
O Ministério Público havia denunciado Daniel por integrar a organização criminosa que planejou e executou a escavação do túnel para acessar o cofre onde, estimava-se, haveria cerca de R$ 700 milhões. O influenciador, residente em Guarujá (SP), foi preso em flagrante apenas em 2020, após investigação da Polícia Civil sobre um roubo a uma residência em Perdizes, na capital paulista. Durante as diligências, os policiais localizaram uma mulher que havia recebido um Pix de uma das vítimas.
A mulher, que era ex-namorada de Daniel, disse à polícia que a arma apreendida em sua residência pertencia a ele. Apesar de negar a acusação, o influenciador ficou quase dois meses preso após ser reconhecido pelas vítimas do roubo. Posteriormente, ele também foi absolvido dessas acusações por falta de provas.
Justiça aponta falta de provas
No caso da tentativa de roubo ao banco, as provas de autoria contra Daniel Ferraz não convenceram o magistrado. A acusação do Ministério Público baseava-se essencialmente em uma prova pericial de DNA, que apontava uma probabilidade superior a 99,9% de compatibilidade entre o perfil genético do réu e o material coletado no local do crime – uma escova de dentes.
Entretanto, a confiabilidade dessa prova técnica tornou-se o ponto central da defesa e também da decisão judicial. O advogado Marcos Jesuino Junior, responsável pela defesa do influenciador, contestou a validade desta evidência. O juiz ressaltou em seu despacho que o material genético da escova de dente havia sido comparado com o DNA de uma luva apreendida no outro processo do qual Daniel Ferraz já havia sido absolvido.
Para o Juízo, o laudo de DNA, por si só, não seria suficiente para embasar uma condenação, especialmente devido ao caráter indireto da comparação realizada. A prova de que a luva pertencia ao réu foi considerada inconclusiva. Além disso, as oitivas testemunhais não corroboraram a acusação: nenhuma das testemunhas, incluindo policiais e o corretor que intermediou o aluguel de um dos galpões, identificou Daniel. O próprio jovem negou conhecer os demais investigados e afirmou nunca ter estado nos imóveis relacionados ao crime.
Diante disso, o juiz Guilherme Eduardo Martins Kellner, da 2ª Vara de Crimes Tributários, Organização Criminosa, Lavagem de Bens e Valores da Capital, absolveu Daniel na última terça-feira, 23, julgando improcedente o pedido do Ministério Público de São Paulo devido à insuficiência de provas para condenação.
"O laudo de exame de DNA, embora aponte uma probabilidade superior a 99,9% de compatibilidade, não pode ser o único elemento de convicção para um decreto condenatório quando não é comparado diretamente com o material genético do investigado. [...] Nesse ponto, o direito penal não se contenta com meras suposições ou probabilidades", afirmou o magistrado.
Influenciador comemorou absolvição
Nas redes sociais, Daniel comemorou a absolvição. "Cinco longos anos sofrendo por um crime que não cometi. Consegui provar minha inocência, mas minha vida foi destruída. E agora, como vou prosseguir sem ter ao menos uma oportunidade? Quem vai reparar o dano permanente em minha vida?"
O rapaz afirmou que se lembra todos os dias dos detalhes da data em que foi preso. "Eu estava dormindo em casa com minha namorada e escuto barulhos, como se estivessem invadindo minha casa. O desespero tomou conta de mim e, quando vi a polícia, isso mesmo, a 'polícia' empunhando um fuzil no meu rosto, fiquei sem entender".
Ele relembrou que, sem compreender o que acontecia, questionou o que estava ocorrendo e foi informado que estava sendo preso por porte ilegal de arma. "Eu nunca encostei em uma arma. Arma essa que estava na casa de uma ex-namorada, com quem já não tinha contato há muito tempo. Ou seja, fui preso por uma arma que estava dentro da casa de uma ex-namorada que eu já não via há muito tempo! Foi aí que meu pesadelo começou", disse.
O influenciador afirmou ainda que ficou muito abalado emocionalmente pelo tempo que ficou na prisão. "Espero que a Justiça brasileira consiga reparar o erro e retomar o caso, e agradeço a Deus por não me ter desamparado. Foi Ele que me ajudou", finalizou em publicação.
Ao Terra, o advogado do influenciador, Marcos do Nascimento, afirmou que a defesa recebe a decisão "com muita satisfação e tranquilidade, reforçando a confiança que tem no judiciário paulista, acrescendo para tanto, a enorme felicidade em reafirmar a inocência de Daniel mesmo após diversas falsas acusações sofridas".
"Com relação a acusação em si, desde o primeiro contato com os autos a defesa percebeu que a combinação genética nunca fora efetivada com o DNA do acusado, postulando desde o primeiro momento pela ausência de justa causa para promoção da ação penal contra Daniel, em que pese tenha passado por todo o transtorno que um processo penal causa, a defesa se vê satisfeita com a absolvição", acrescentou a defesa.