Com a colaboração do presidente americano Donald Trump e, como sempre, do brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, o Banco Central do Brasil (BC) teve mais uma justificativa para elevar os juros, desta vez para 15%, a maior taxa em 19 anos. Com isso, as perspectivas voltam a piorar para os consumidores, para as empresas e, naturalmente, para os trabalhadores, empregados ou em busca de emprego.
Nos Estados Unidos, o presidente da República ameaçou tomar para si a presidência do Federal Reserve (Fed), o banco central americano, por haver deixado de cortar a taxa básica, mantida entre 4,2$ e 4,50%.
No Brasil, o chefe do governo lamentou o novo aperto monetário, mas foi moderado e manteve, mais uma vez, o bom relacionamento com seu ex-colaborador e atual presidente do BC, Gabriel Galípolo.
A inflação americana tem sido alimentada pela forte atividade econômica e, de modo especial, por ações voluntaristas do presidente Trump. O governo federal tem aumentado gastos e intensificado o protecionismo comercial, praticado com aumento de impostos e resultante elevação de custos.
No Brasil, a alta de preços tem sido influenciada pela instabilidade internacional e pela forte demanda interna, aquecida pela expansão do emprego e do consumo e pelos gastos federais.
No Brasil, o BC chama atenção para riscos inflacionários mais elevados que os habituais, associados tanto a fatores externos quanto a desajustes locais.
O anúncio do novo aumento da Selic, a taxa básica de juros, menciona um "hiato do produto mais positivo". Tradução: o crescimento econômico tem superado o ritmo suportável pela capacidade produtiva do País.
Conclusão implícita: para crescer com segurança nesse ritmo o Brasil necessita de mais investimento em potencial produtivo. Mas isso envolveria uma seleção de objetivos pelo governo e uma orientação mais eficiente do uso de recursos.
Nenhum desses detalhes aparece no informe do Copom. Os ministros econômicos conhecem todos esses pontos, mas o gasto do governo é orientado mesmo pelos impulsos e interesses presidenciais.
Num ambiente de "expectativas desancoradas", resta ao Copom, de acordo com a nota, manter a política monetária "em patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado".
O ciclo de elevação de juros - esta foi a sétima da atual sequência - poderá ser interrompido enquanto se avaliam os efeitos das últimas decisões. Mesmo sem previsão de novo aumento, o comunicado apresenta a perspectiva de um longo período de juros muito altos.
De fato, entre os mais altos do mundo, compondo um cenário pouco favorável a um presidente interessado na eleição do próximo ano.