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Acuado, Ministério da Saúde não entrega hidroxicloroquina desde janeiro

Presidente Jair Bolsonaro tem sido pressionado a explicar gastos e produção em massa de medicamentos sem eficácia para a covid-19

2 abr 2021 - 18h36

BRASÍLIA - Após meses de entregas em massa de medicamentos sem eficácia para a covid-19 tornarem-se alvo de investigações e críticas, o governo Jair Bolsonaro fechou a torneira da cloroquina e da hidroxicloroquina. As drogas não são distribuídas desde janeiro, quando a cúpula do Ministério da Saúde desembarcou em Manaus com 130 mil doses, enquanto o Amazonas enfrentava uma escassez de oxigênio medicinal.

O uso de medicamentos do "kit covid" virou bandeira do presidente, que chegou a expor uma caixinha de cloroquina em reunião com líderes do G20 e para emas no Palácio do Alvorada. O governo, porém, tem sido pressionado a explicar gastos e produção em massa destes fármacos.

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Procurado, o Ministério da Saúde não explicou o porquê da interrupção das entregas, mas desde o meio do ano passado a pasta recebe relatórios que indicam queda na demanda destes medicamentos.

Como mostrou o Estadão, as drogas têm encalhado nos municípios. Joinville, em Santa Catarina, recebeu cerca de 160 mil comprimidos de hidroxicloroquina e utilizou 1,26 mil até o começo de março. A prefeitura planeja devolver a droga. Já Porto Alegre levou 18 mil doses, mas apenas 10 unidades foram distribuídas, para um paciente que pediu o tratamento. Há mais de 2,5 milhões de unidades de hidroxicloroquina paradas no estoque da Saúde, doadas pelo governo Donald Trump, ex-presidente dos Estados Unidos, e pela farmacêutica Sandoz.

Já a cloroquina foi fornecida principalmente pelo Laboratório do Exército. Por ordem de Bolsonaro, o órgão fabricou 3,3 milhões de unidades no ano passado, em operação que custou R$ 1,16 milhão. O lote anterior feito na mesma planta, em 2017, de 265 mil unidades, exigiu R$ 43,3 mil. A produção foi quase 3 vezes mais cara na pandemia, comparando o preço das doses. Há ainda mais de 300 mil doses estocadas no Exército.

A Saúde também desviou comprimidos de cloroquina do programa de malária, fabricados pela Fiocruz, para o tratamento da covid-19. Dados de janeiro da Saúde apontavam ao menos 1,5 milhão de unidades desviadas, como mostrou o Estadão. Após atualizações, a base de dados da Saúde não mostra mais quantas doses foram levadas de um programa para o outro.

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No total, a Saúde afirma ter distribuído 5,4 milhões de doses de cloroquina e 418,5 mil de hidroxicloroquina durante a pandemia. Segundo dados do ministério, o Rio Grande do Sul recebeu o maior número de unidades destes medicamentos (606 mil). Na outra ponta deste ranking, o Maranhão levou 98 mil doses -- o Estado chegou a ter mais comprimidos, mas devolveu lotes ao Ministério da Saúde.

Acuado, o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello passou a afirmar que nunca defendeu o uso do kit covid, apesar de ele mesmo ter dito que ficou "zero bala" com o tratamento. O general precisou ser internado dias depois desta fala, em outubro. Ao se despedir da Saúde, no último dia 24, Pazuello afirmou que um grupo de médicos de dentro da Saúde levou uma "fake news" a Bolsonaro de que ele seria contra o "tratamento precoce".

Ainda que em menor frequência, Bolsonaro segue estimulando o uso dos fármacos sem eficácia. No último dia 19, o presidente entrou ao vivo em uma rádio de Camaquã, no interior do Rio Grande do Sul, para defender uma médica que trata pacientes com nebulização da cloroquina diluída em soro. O Ministério Público gaúcho abriu investigação sobre a conduta da médica após três mortes.

A Saúde orienta, desde maio de 2020, o uso da cloroquina ou hidroxicloroquina, em associação com o antibiótico azitromicina, logo no primeiro dia de sintomas da covid-19. A mudança de postura da pasta ocorreu nos primeiros dias de gestão do general Eduardo Pazuello. Antes, Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich deixaram o governo por divergência com Bolsonaro sobre o tratamento.

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O ministro Marcelo Queiroga não é um defensor do kit covid e já disse a auxiliares que não promoverá a distribuição da droga. Mas ele também não faz esforços para desestimular o uso do medicamento: afirma que a escolha deve ser feita entre o médico e o paciente, ainda que a droga não tenha eficácia.

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