Não há registro de 'movimentação militar atípica' recente na fronteira com Venezuela

MINISTÉRIO DA DEFESA VAI FAZER EXERCÍCIO MILITAR NO NORTE DO BRASIL A PARTIR DE SETEMBRO

8 jul 2025 - 16h12

O que estão compartilhando: vídeo em que uma mulher afirma que há um movimento incomum de soldados brasileiros na fronteira com a Venezuela para que iranianos entrem no Brasil. O Exército brasileiro teria reforçado a Amazônia com blindados, mísseis anticarro, metralhadoras e soldados.

Print de suposta notícia sobre o vídeo é de uma postagem desmentida em 2022.
Print de suposta notícia sobre o vídeo é de uma postagem desmentida em 2022.
Foto: Reprodução/Facebook / Estadão

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. O vídeo usa como fonte de informação uma postagem publicada em dezembro de 2022. Nem agora, nem naquela época, havia registro de movimentação militar atípica na fronteira entre Brasil e Venezuela. Na realidade, as Forças Armadas vão deslocar pessoal e equipamentos para a região a partir de setembro, na Operação Atlas. Trata-se de um exercício militar conjunto na região Norte.

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Saiba mais: o vídeo aqui checado foi gravado em tom conspiracionista e a sequência de argumentos não segue um raciocínio lógico.

Sem explicar o motivo, a autora sustenta que iranianos organizados em células na Venezuela teriam a intenção de entrar no Brasil pelas fronteiras de Roraima, Acre e Paraná (Foz do Iguaçu). Ela não fornece indícios ou provas para essa alegação e não explica qual seria o interesse dos iranianos em território brasileiro.

Em seguida, diz que iranianos pretendem se juntar às facções criminosas brasileiras, mas sem revelar, mais uma vez, a motivação ou objetivo desse suposto encontro.

Por fim, a autora insinua haver envolvimento do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, que seria amigo do Irã. Ela não esclarece porque o governo estaria mobilizando militares nas fronteiras se haveria uma simpatia do líder do país aos iranianos.

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Soldados e equipamentos devem ser deslocados em setembro

A Operação Atlas está em fase de planejamento, de acordo com o Ministério da Defesa. Essa etapa ocorre na Escola Superior de Defesa, em Brasília. Neste momento, estão sendo definidos procedimentos de deslocamento, sistemas de comando e controle, além da análise de cenários e problemas simulados.

A segunda fase, quando ocorrerá o deslocamento de militares e equipamentos, está prevista para ser iniciada em 27 de setembro. Depois disso, de 2 a 10 de outubro, ocorre o exercício militar, com a execução das ações previamente planejadas, no Amazonas, em Roraima, no Pará e no Amapá. O Acre, mencionado no vídeo, não está incluso, até o momento, no planejamento.

Em abril, o jornalista do Estadão Marcelo Godoy informou que a operação pretende reunir 8 mil homens das Forças Armadas e mobilizar mísseis, foguetes, blindados, embarcações e aeronaves. A ação será realizada às vésperas da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30), que ocorrerá em Belém, no Pará, em novembro.

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Preocupação com conflito entre Venezuela e Guiana

Como explicado pelo Comprova, coalizão de checagem de fatos que o Verifica integra, em 22 de janeiro o governo da Venezuela fechou por 12 horas a fronteira com o Brasil em Roraima para a realização de exercícios militares da operação "Escudo Bolivariano 2025".

Conforme a Venezuela, o exercício militar teve o objetivo de colocar em prática ações que "garantam a defesa militar e a ordem interna do país". Na mesma data, o Ministério das Relações Exteriores (MRE) do Brasil divulgou nota afirmando que a decisão se deu de forma unilateral pelo governo venezuelano.

Para a coluna de Godoy, um integrante do Alto-Comando do Exército avaliou que essa movimentação teve como principal objetivo a propaganda do regime de Maduro.

No ano passado, se reacendeu uma disputa histórica entre Venezuela e Guiana pela região de Essequibo, rica em minerais e petróleo, localizada na fronteira com Venezuela e Roraima, no Brasil.

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A Venezuela fez um referendo para consultar se a população reconhecia o território como parte do país. O território é internacionalmente reconhecido como sendo da Guiana, que viu a manobra venezuelana como uma ameaça à sua soberania territorial e reagiu.

A reportagem procurou o Ministério da Defesa e o Exército Brasileiro perguntando quantos militares estão atuando hoje na fronteira com a Venezuela e na Amazônia e se existe alguma preocupação de presença de iranianos na Venezuela, mas não teve resposta.

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Print usado no vídeo é de 2022 e alegação foi desmentida

Sobre o vídeo enganoso, foi colocada uma imagem do que parece ser uma notícia com o título "Movimentação atípica: soldados e tanques do exército". Ao consultá-lo, o Verifica identificou que a postagem foi feita em dezembro de 2022 em um blog.

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Ao longo do texto, foram linkados vídeos que demonstravam movimentações militares. A publicação associava as imagens a manifestações de bolsonaristas contrários à eleição de Lula, ocorrida em outubro daquele ano. O conteúdo foi checado pelo Boatos.Org e a maior parte dos vídeos acabou removida do YouTube por decisão judicial.

Também em dezembro de 2022,o Verifica demonstrou que diversos vídeos que flagravam movimentações das forças militares vinham sendo retirados de contexto em posts virais compartilhados por apoiadores do então presidente Jair Bolsonaro (PL) e de pessoas descontentes com a eleição de Lula. Paralelamente, bolsonaristas se manifestavam solicitando "intervenção militar" e a anulação da eleição presidencial.

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