Bulgária dá passo histórico e adere à zona do euro em 2026

30 dez 2025 - 19h10

País do Leste Europeu está prestes a trocar sua moeda nacional pelo euro. Mas, embora a economia da Bulgária tenha melhorado, má gestão e corrupção continuam a ser um problema grave.A Bulgária está prestes a adotar o euro. Em 1º de janeiro de 2026, vai se tornar o 21º Estado-membro da zona do euro .

A adesão ao bloco é um marco importante para o país do Leste Europeu, que entrou para a União Europeia em 2007.

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Com a adesão da Bulgária, restam apenas 6 dos 27 países da UE fora do clube monetário: Suécia, Polônia, República Tcheca, Hungria, Romênia e Dinamarca.

O euro é "não apenas uma moeda, mas uma escolha estratégica" que fortalece a posição da Bulgária na Europa, disse o primeiro-ministro búlgaro Rosen Zhelyazkov em uma conferência de alto nível na capital búlgara, Sófia, em novembro.

No mesmo evento, Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu, disse que a adoção do euro "fortalece as bases econômicas da Bulgária, aumenta sua resiliência contra choques globais e amplifica sua voz na tomada de decisões da zona do euro".

Mas nem todos estão otimistas com a entrada do país balcânico na zona do euro.

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"Os defensores da entrada da Bulgária na zona do euro apontam o fato de que, ao ingressar ao 'clube dos ricos', o país será beneficiado e alcançará um progresso significativo", disse Rossitsa Rangelova, professora do Instituto de Pesquisa Econômica da Academia Búlgara de Ciências, à DW.

"As coisas são apresentadas como se a Bulgária fosse aumentar automaticamente seu padrão de vida e prosperidade, mas isso não se justifica, dada a necessidade de reformas obrigatórias e por muito adiadas, sem as quais nosso país não se tornará um participante igualitário", acrescentou ela.

Como está o desempenho da economia da Bulgária?

A moeda nacional da Bulgária, o lev, está atrelada ao euro desde a introdução deste último, em 1999.

Sófia iniciou formalmente o processo de adesão ao bloco monetário em 2018, e o lev foi então incluído no Mecanismo Europeu de Taxas de Câmbio em julho de 2020.

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A Comissão Europeia e os ministros das Finanças da zona do euro aprovaram no início deste ano a candidatura do país à adesão à zona do euro.

Tornar-se membro da zona do euro demonstra como a economia búlgara melhorou na última década. Os indicadores macroeconômicos permanecem estáveis, com a inflação agora oscilando em torno de 2,8%, ante cerca de 13% em 2022.

O déficit orçamentário e os níveis de dívida são baixos — cerca de 3% e 24%, respectivamente —, em conformidade com as regras da UE que exigem que os Estados-membros mantenham seus déficits dentro de 3% da produção econômica e sua dívida pública total dentro de 60% do PIB.

As perspectivas de crescimento também parecem positivas. A UE estima que o PIB real do país cresça cerca de 3% este ano, 2,7% em 2026 e 2,1% em 2027.

Recuperando o atraso

"O desempenho macroeconômico da Bulgária tem sido estável nas últimas décadas, embora seu crescimento econômico e recuperação tenham sido abaixo do ideal", disse à DW Guntram Wolff, especialista em política fiscal da zona euro do think tank econômico europeu Bruegel.

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Norbert Beckmann, chefe do escritório da Fundação Konrad Adenauer na Bulgária, partilhou uma opinião semelhante.

O país cumpre todos os critérios de convergência para aderir à zona do euro, afirmou, salientando em particular que o país tem uma das menores relações dívida/PIB da Europa.

"No entanto, a economia búlgara ainda tem muito a fazer em termos de estrutura e desempenho. O nível de rendimento na Bulgária também é apenas 59% da média da UE."

Mas os especialistas alertam para o risco de o governo búlgaro afrouxar as restrições orçamentais e gastar em excesso após a adoção do euro.

"O principal risco é que, após a adesão ao euro, a restrição orçamentária possa ser vista como menos vinculativa pelo sistema político e os déficits possam aumentar", disse Wolff. "Mas, dados os baixos níveis de endividamento, não acho que esse risco seja significativo."

Beckmann também ressaltou a necessidade de evitar distorções no mercado.

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"É importante que os rendimentos reflitam sempre a capacidade da economia e que as pessoas não vivam acima das suas possibilidades. Se os rendimentos se desvincularem e forem artificialmente inflacionados por empréstimos, isso pode levar a distorções, como vimos na Grécia", disse à DW.

Turbulência política representa riscos

Ao mesmo tempo, a instabilidade política representa um grave desafio. A raiva e a frustração do público têm sido elevadas nos últimos meses devido à má gestão econômica e à corrupção desenfreada.

A Bulgária — um dos países mais pobres da UE — está entre os países mais corruptos do bloco, de acordo com o Índice de Percepção da Corrupção da Transparência Internacional.

O país balcânico de 6,4 milhões de habitantes já realizou sete eleições parlamentares desde 2021 — e pode enfrentar mais eleições nos próximos meses.

O governo do primeiro-ministro Rosen Zhelyazkov renunciou em 11 de dezembro em meio a protestos em massa contra a corrupção e os planos orçamentários do governo, incluindo aumento de impostos e contribuições para a previdência social.

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Embora o orçamento tenha sido retirado, a indignação popular persiste.

Se os esforços para formar um novo governo fracassarem, o presidente nomeará um governo interino e convocará eleições antecipadas, que seriam as oitavas em quatro anos.

E se a votação não conseguir formar uma coalizão funcional, isso poderá prolongar a turbulência política e minar a confiança dos investidores.

Opinião pública dividida

Pesquisas mostram que os búlgaros também estão divididos sobre a adoção do euro. Os defensores da moeda comum afirmam que ela impulsionará os fluxos de investimento estrangeiro no país, eliminará os custos de câmbio e levará a uma maior integração no mercado único da UE, entre outras coisas.

Os céticos, no entanto, temem um aumento da inflação, uma vez que os preços dos bens e serviços serão convertidos da moeda nacional, o lev, para o euro após a mudança monetária. Alguns também se preocupam com a perda de controle sobre a política monetária para o Banco Central Europeu em Frankfurt.

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"O processo de adesão à zona do euro não beneficiará a economia da Bulgária. Ela se tornaria uma periferia da zona do euro, menos flexível e incapaz de reduzir ou eliminar seus choques por conta própria", disse Rangelova.

Ela também criticou as autoridades búlgaras por não realizarem um referendo sobre a adesão ao euro. "Para projetos tão fundamentais, o governo de qualquer país democrático leva em consideração a opinião do público", disse ela, observando que "as autoridades búlgaras rejeitaram categoricamente os referendos como forma de opinião pública ao longo dos anos e ainda encontram maneiras de ignorá-los".

Embora existam preocupações genuínas, disse Wolff, campanhas de desinformação e teorias da conspiração exacerbaram o sentimento anti-euro.

"A Bulgária é regularmente atacada por campanhas de desinformação russas e a Rússia certamente tenta convencer o país a voltar à sua esfera de influência", observou.

"Ao aderir ao euro, a Bulgária fica mais profundamente ancorada na Europa Ocidental — o que fortalece a União Europeia. Será imperativo intensificar os esforços para combater a guerra híbrida russa, bem como intensificar a luta contra a corrupção."

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Apesar das frequentes mudanças de governo nos últimos anos, Beckmann disse que "os partidos e políticos na Bulgária que querem introduzir o euro e promover a integração do país com o Ocidente sempre tiveram maioria no parlamento".

Ele enfatizou que as posições eurocéticas "sempre foram minoritárias na Bulgária".

"Não acho que isso vá mudar no futuro", acrescentou Beckmann.

"Portanto, não há razão para supor que a adesão da Bulgária à zona do euro possa de alguma forma enfraquecer o euro."

Mas Rangelova disse que aderir à zona do euro a qualquer custo não é um caminho para a prosperidade. "Em vez de aderir à zona do euro agora e imediatamente, os esforços da Bulgária devem se concentrar na estabilização da situação política, em uma política macroeconômica sensata, apoiada por instituições domésticas fortes e boa governança."

A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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