Vice do PT que não se posicionou sobre suspeito de matar Marielle coleciona crises no partido; veja

Washington Quaquá disse que precisa ver 'provas cabais' contra o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio Domingos Brazão antes de se posicionar sobre o caso

26 mar 2024 - 19h17

BRASÍLIA - O vice-presidente do Partido dos Trabalhadores (PT), deputado Washington Quaquá, que disse não estar plenamente convencido da participação de Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ), no assassinato da vereadora Marielle Franco, coleciona divergências dentro da legenda.

O vice-presidente do PT e deputado federal, Washington Quaquá (RJ)
O vice-presidente do PT e deputado federal, Washington Quaquá (RJ)
Foto: Zeca Ribeiro/Agência Câmara / Estadão

O parlamentar já afirmou que a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) não tem relevância política e postou uma foto com o ex-ministro da Saúde do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), deputado Eduardo Pazuello (PL-RJ).

Para a Coluna do Estadão, Quaquá disse no último domingo, 24, que não poderia dizer que Brazão era "inocente nem culpado", porque ainda não viu "provas cabais" sobre a participação dele na execução da vereadora. "Eu conheço ele há 20 anos. Será uma surpresa negativa (se ele estiver envolvido), porque é um negócio brutal", afirmou o petista.

O conselheiro do TCE-RJ e o irmão dele, deputado federal Chiquinho Brazão (sem partido-RJ), foram presos no domingo após serem apontados pela Polícia Federal (PF) como os mandantes da execução de Marielle e do motorista dela, Anderson Gomes, em 2018. De acordo com as investigações, há indícios do envolvimento dos dois com "atividades criminosas, incluindo-se nesse diapasão as relacionadas com milícias e grilagem de terras".

Ao Estadão, a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), afirmou que a opinião de Quaquá sobre a participação de Domingos Brazão no crime é uma opinião individual. "A posição dele não reflete a do partido. É uma posição isolada", afirmou.

Já Quaquá afirmou à reportagem que Gleisi "está certíssima" e ressaltou que a fala sobre o indiciamento de Domingos Brazão nos assassinatos não reflete um posicionamento da sigla. O vice-presidente do PT afirmou ainda que não é "advogado de defesa nem de acusação" para comentar o caso de Domingos Brazão. "Cabe a ele (Domingos Brazão) e seus advogados fazerem a defesa e apresentarem as suas contraprovas", disse.

Quaquá já havia duvidado da participação de Domingos Brazão no crime

Essa não foi a primeira vez que Quaquá questionou a participação de Domingos Brazão no crime. Em janeiro, quando o conselheiro foi citado na delação de Ronnie Lessa, executor confesso do crime, Quaquá havia dito que não acreditava no envolvimento do conselheiro de contas do Rio.

"Conheço o Domingos Brazão de longa data, inclusive de campanhas eleitorais nacionais onde ele esteve do nosso lado. Sinceramente, não creio que ele tenha cometido tal brutalidade", disse, na ocasião.

Foto com ex-ministro da Saúde de Bolsonaro

No início do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Quaquá foi criticado por correligionários e por Gleisi após publicar uma foto ao lado de Eduardo Pazuello - ministro da Saúde do governo Bolsonaro entre 2020 e 2021, período onde foi registrado o pico de mortes na pandemia de covid-19.

Na legenda da foto publicada no Instagram em 14 de fevereiro do ano passado, Quaquá afirmou que havia se encontrado com Pazuello em uma reunião com o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates. O vice-presidente do PT declarou que gostaria de "criar pontes de diálogo com os militares" a partir do ex-ministro, que é general da reserva do Exército.

"Resolvi postar a nossa foto, mesmo sabendo que intolerantes da direita e da esquerda vão criticar. A tarefa do governo Lula e da figura maior do nosso presidente é unir, pacificar e reconstruir o nosso País. Quando o diálogo e a política falham sobra a guerra, e a esquerda é dialógica e não intolerante e autoritária", escreveu Quaquá.

Pelo X (antigo Twitter), Gleisi afirmou que a foto de Quaquá com Pazuello foi "desrespeitosa com o PT" e "ofensiva" para as pessoas que morreram durante a pandemia de covid-19. "Na vida e na política, tudo tem limites", afirmou.

Quaquá reagiu às críticas dos aliados afirmando que elas foram feitas por um segmento radical do petismo, a qual se referiu como "esquerda zona sul". "Sou coordenador da bancada do Rio, tenho que dialogar com todos. Esse histerismo aí, estou fora. É o mesmo que a direita bolsonarista teve com o Pazuello", afirmou.

Quaquá chamou operação contra Bolsonaro de 'espetáculo'

Em maio do ano passado, Quaquá criticou uma operação da PF que teve Bolsonaro como alvo. A investigação é sobre a falsificação nos cartões de vacina contra a covid-19 do ex-presidente e da filha dele, Laura. Na semana passada, Bolsonaro foi indiciado pelos crimes de associação criminosa e inserção de dados falsos.

"Ações espetaculosas e desmoralizantes por parte do Judiciário e da Polícia Federal não só não têm meu apoio como têm meu repúdio!", publicou o deputado.

Vice-presidente do PT disse que Dilma não tinha 'relevância eleitoral'

Em 2021, Quaquá causou outro mal-estar no partido ao afirmar que a ex-presidente Dilma Rousseff não tinha "relevância eleitoral". O vice-presidente da sigla também afirmou que era contra "um pedaço pequeno do PT que ainda fica nesse negócio de 'golpe'", citando o impeachment da petista em 2016.

Gleisi rebateu Quaquá, afirmando que a declaração do vice-presidente sobre a ex-chefe do Executivo foi uma "opinião individual". "Não corresponde ao papel da presidenta Dilma na história, no presente e no futuro do PT", disse Gleisi ao Metrópoles na época.

A fala também foi mal recebida entre apoiadores do PT nas redes sociais. Quaquá se defendeu. "Uma falsa esquerda burra que não aceita opinião divergente é o mesmo que o bolsonarismo", escreveu o vice-presidente do PT, em resposta ao comentário de um seguidor que pedia a saída dele da legenda.

Agressão a deputado no plenário da Câmara

No final do ano passado, quando a Câmara estava realizando uma cerimônia de promulgação da reforma tributária, Quaquá agrediu o deputado Messias Donato (Republicanos-ES) e chamou o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) de "viadinho".

A confusão ocorreu quando Quaquá foi tirar satisfação com deputados aliados de Bolsonaro que cantavam "Lula, ladrão, seu lugar é na prisão" para o presidente da República, que estava presente na sessão.

Quaquá disse que faria uma representação contra o deputado Nikolas e, em seguida, foi repelido por Donato, que o pegou no seu braço. O vice-presidente do PT, então, esbofeteou o capixaba no rosto.

"(Donato) me agrediu e dei um na cara dele. Eles estavam xingando Lula. Esse deputado segurou a minha mão e me empurrou. Tomou um tapa na cara", disse Quaquá após deixar o plenário da Câmara.

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O vice-presidente do PT e deputado federal, Washington Quaquá (RJ)
Foto: Zeca Ribeiro/Agência Câmara / Estadão
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